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Apostas com dinheiro do Bolsa Família se tornam pesadelo para famílias: governo avalia limitação

Beneficiários do programa gastaram R$ 3 bilhões em pagamentos via Pix para casas de apostas somente em agosto deste ano

Uma grande polêmica se instaurou na web após o Banco Central revelar que beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em pagamentos via Pix para casas de apostas somente em agosto. Esse valor corresponde a 20% do valor total repassado aos 20 milhões de beneficiários.

Não é de hoje que as bets e os jogos de cassino como o ‘Jogo do Tigrinho’ tem causado polêmicas no Brasil. São diversos os casos de pessoas que acumularam dívidas enormes após se tornarem viciadas nesses jogos. Mas por que apostar o dinheiro do Bolsa Família é algo tão problemático como tem se falado nas redes?

Bolsa família

Primeiro, é necessário entender o que é o Bolsa Família. O benefício é concedido pelo Governo Federal com o objetivo de garantir renda básica para aquelas famílias em situação de pobreza agravada pela fome e insegurança alimentar. Para recebê-lo, é preciso ter uma renda mensal per capita de até R$ 218. São quatro tipos: o da primeira infância, para famílias com crianças de zero a seis anos (R$ 150 por criança); o de renda de cidadania, para todos da família (R$ 142 por pessoa); o variável familiar, para as famílias que tenham gestantes e/ou crianças com idades entre sete e doze anos incompletos, ou adolescentes de 12 a 18 anos incompletos (R$ 50 por pessoa); e o complementar: pago às famílias beneficiárias do Bolsa Família, caso o benefício de renda de cidadania não seja o suficiente para alcançar o valor mínimo de R$ 600 por família.

Segundo Luiz Mafle, professor do curso de Psicologia do Centro Univesitário Una, “o estardalhaço é maior porque são pessoas carentes”. Apesar do vício em apostas e jogos de cassino poder atingir qualquer pessoa, o que chama a atenção é que essas pessoas usam o dinheiro recebebido de programa social para fazer esse tipo de aposta. Para o professor, é um problema de regulamentação.

“Isso é mais um problema de regulação do governo do que necessariamente das pessoas. Na verdade, qualquer pessoa, de qualquer classe social, pode ser levada ao vício nesses jogos de apostas”, explica.

Vale lembrar que não há nenhuma exigência do Governo Federal sobre como os beneficiários podem ou devem gastar o valor recebido. No entanto, o problema escalou de forma que o governo pensa em criar limitações para os apostadores que recebem o Bolsa Família.

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Entre as restrições estão o veto do cartão de crédito para as apostas, novas regras para a publicidade e proibição de apostas feitas com o dinheiro do Bolsa Família. Uma reunião dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Nísia Trindade (Saúde), André Fufuca (Esportes) e Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ocorrer nesta semana para definir limites e tentar frear o vício em apostas.

A dependência, conforme Mafle, age de forma diferente nas pessoas: elas veem uma possibilidade de conseguir um dinheiro fácil e, quando perdem, têm a sensação de que é possível ganhar novamente e recuperar o valor perdido. Dessa forma, uma simples aposta para conseguir um ‘dinheirinho extra’ se torna uma bola de neve.

Regulamentação

A primeira ação do Governo Federal para regulamentar as bets e tentar diminuir o vício dos brasileiros foi autorizar apenas casas de apostas que apresentaram documentação específica para funcionar no Brasil. Aquelas que não cumpriram os requisitos estão banidas de operar no país. A ação também tenta combater fraude, lavagem de dinheiro e publicidade abusiva no setor, que tem sido alvo de diversas operações policiais nos últimos dias, levando famosos à prisão.

A publicidade abusiva, inclusive, tem sido um dos principais problemas entre as bets e jogos de cassino no Brasil. As casas de aposta pagam milhões a influenciadores para mostrarem uma vida de luxo associada aos jogos ilegais, fazendo com que as pessoas assistam e pensem que esses influencers ficaram ricos com apostas. O promotor de Justiça Maulo Ellovitch detalha à Itatiaia como os influenciadores são usados para enganar o público com ostentação de festas, imóveis, carros e produtos de luxo. “Ele [influencer] é pago para ostentar e para fazer acreditar que essa riqueza veio de lucros do jogo”, afirma.

Convencidas de que o dinheiro de apostas vai transformar suas vidas, as pessoas entram neste ciclo e acabam fazendo dívidas. Esta perda financeira pode levar à ansiedade, depressão, aumento do alcoolismo e perda da capacidade de produção, entre outros sintomas psicológicos. (Se você se sente dessa forma, procure ajuda e/ou acione o Centro de Valorização da Vida - CVV).

Como superar o vício em bets?

Para superar o vício em jogos de aposta e de cassino, o professor recomenda:

  • procurar ajuda psicológica;
  • entender que o dinheiro a ser apostado deve ser um dinheiro que não é garantia de algo (pagamento de contas de casa, por exemplo);
  • excluir aplicativos de bets e redes sociais que induzem às apostas;
  • compreender que um patrimônio é construído ao longo da vida e demanda tempo.
Fuja das propagandas enganosas, fuja dos aplicativos que te fazem acreditar que gastar seu dinheiro é diversão. Foque na sua vida, no seu cotidiano, nas alegrias do seu dia a dia, na família, nos amigos, nos prazeres da sua casa. Isso sim é uma construção sustentável de riqueza
Luiz Mafle


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Jornalista formada pela PUC Minas. Mineira, apaixonada por esportes, música e entretenimento. Antes da Itatiaia, passou pelo portal R7, da Record.
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