Em meio a seca e às queimadas que atingem o país, moradores de várias regiões observam a beleza do sol avermelhado no nascer e pôr do sol. Apesar de encantar, a imagem é um sinal preocupante da qualidade do ar no país.
Carlos Wagner Coelho, geógrafo e professor do curso de engenharia ambiental e sanitária do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG), explica que o céu alaranjado é sinal direto da poluição.
“A posição do sol ao amanhecer ou ao entardecer faz com que a luz azul percorra um trajeto maior até nossos olhos, então, os tons laranja se tornam mais presentes, processo chamado de espalhamento da luz. Entretanto, quanto mais material particulado (fumaça, poeira, CO² e outros) na atmosfera, mais vermelho ficará o sol. Então, sim, o sol alaranjado pode significar uma atmosfera mais poluída, mais carregada de outros elementos”, diz.
O especialista comenta que a situação está ainda mais intensa devido a fumaça das queimadas. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisa e Estatística (Inpe), os incêndios estão concentrados na Amazônia, Pantanal e no Centro-Oeste brasileiro. O instituto estima que a fumaça causada pelas queimadas cobre uma área de 5 milhões de km², que corresponde a 60% do território brasileiro.
Em dias comuns, o céu fica azul devido à interação da luz solar com as moléculas de oxigênio. Porém, com a poluição (fumaça), as partículas refletem mais as cores laranja e vermelho, causando o fenômeno.
“A luz do sol é branca, formada por cores primárias vermelho, verde e azul, o famoso RGB. Uma vez quebrada, percebe-se as demais cores. Efeito prisma ou o próprio efeito do arco-íris, onde a luz é refletida em todas as faixas. A poluição (fumaça) ocupa o papel de refletir a luz vermelha em várias direções, absorvendo mais as luzes azul e verde. Por isso, a sensação de alaranjado no céu”. Em dias comuns, a luz azul é que prevalece. “Por isso temos um céu azul”, acrescentou.
Apenas a chuva é capaz de limpar a atmosfera
Entre as cidades onde é possível observar o “sol vermelho”, está Belo Horizonte. A meteorologista Anete Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que a situação só vai melhorar quando a chuva cair em BH, o que não há data para acontecer.
“Nós estamos a 148 dias consecutivos sem chuva. Então, já tem um bom tempo que a atmosfera não recebe uma limpeza, ou seja, que não tem chuva para melhorar a qualidade do ar. Se reduzir as queimadas, melhora um pouco a questão do transporte de fumaça e fuligem. Mas uma limpeza da atmosfera, só com chuva. É o único mecanismo que realmente pode melhorar a qualidade do ar de maneira expressiva. Mas, por enquanto, não há perspectiva de chuva. Então, continuaremos com essa qualidade do ar complicada enquanto a gente tiver uma chuva que possa melhorar a situação”, esclarece.