Polícia descreve personalidade de suspeita de envenenar ex-sogro e a mãe dele: ‘dissimulada’

Advogada e suposta psicóloga, Amanda Partata Mortoza foi presa em uma clínica psiquiátrica nessa quarta-feira (20)

Amanda Partata Mortoza foi presa nessa quarta-feira (20)

Dócil e amável - essas são algumas das características que a advogada e suposta psicóloga Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, tentava passar para os familiares do seu ex-namorado. No domingo passado, o ex-sogro, de 58 anos, e a mãe dele, de 86, foram mortos envenenados em Goiânia, capital de Goiás, e a ex-nora é a principal suspeita do crime.

Segundo o delegado Carlos Alfama, responsável pela investigação, Amanda possui uma “personalidade dissimulada” - ou seja, ela tentava ser uma pessoa bem diferente da que é realmente.

“É uma pessoa que mostrou uma personalidade voltada ao crime”, declarou em entrevista coletiva nesta quinta-feira (21). Amanda usou tecnologias específicas para tentar mascarar o crime de stalking (perseguição) - praticado contra o ex - a partir do momento em que a relação deu sinais de que iria acabar.

“Ela forja relacionamento afetivo com as próprias vítimas, forjou personalidade dócil, amável, que na verdade ela não tinha, essa personalidade dissimulada”, acrescentou o delegado.

Conforme ele, o crime foi motivado pelo “sentimento de rejeição que ela teve no relacionamento. As ameaças começaram no momento em que a relação estava indo por água abaixo.”

No fim de julho, Amanda começou a perseguir o ex e a ameaçar a família dele - ela criou seis perfis falsos nas redes sociais e, por meio de uma tecnologia, ligava de 10 a 15 vezes por dia para ele. As ligações eram feitas apenas por um telefone, mas os números apareciam diferentes. A vítima chegou a bloquear mais de 100 números.

O caso chegou a ser registrado em boletim de ocorrência, o que ajudou a polícia a chegar até a advogada. “Os 100 números eram derivados de uma tecnologia que mascara o número original. A Polícia Civil conseguiu chegar até esse número”, relatou o delegado, que acrescentou. “Por uma desatenção, ela colocou o e-mail dela e o telefone para receber um código de confirmação. Então a suposta boa relação, que ela diz ter com a família dele, é falsa.”

O delegado descreve Amanda como uma mulher bastante inteligente, que se manteve calada na maior parte do tempo. Para tirar o foco da investigação, ela, inclusive, chegou a ameaçar a si mesma. “Ela mandou uma mensagem para a vítima: ‘Eu vou matar você e sua namoradinha’. Ela disse que amava aquela família no primeiro interrogatório,” destaca Alfama.

No entanto, no segundo interrogatório, com todas as provas coletadas, a polícia perguntou sobre a autoria das ameaças e se ela era dona dos perfis. Ela negou todas as informações. O telefone de Amanda foi apreendido e ela se nega a desbloqueá-lo.

“No interrogatório, além desses apontamentos que passei dela recusar desbloquear o número do celular, mesmo sendo uma forma de provar inocência, ela forjou vômito, pediu desesperada para ir ao banheiro, e eu falei, faz o seguinte, pode vomitar aqui. Ela forçou o vômito, abaixou a cabeça e cuspiu. É uma pessoa que está forjando uma situação.”

Para supostamente obter vantagens, Amanda teria ainda simulado estar grávida - ela dizia estar grávida de 17 semanas. “A família sabia que o relacionamento tinha chegado ao fim, ela assumiu a gravidez depois do término. Verificamos que ela não está grávida há um tempo, mesmo ela fingindo vômito. Ela apresenta alguns exames de gravidez que existem indícios de falsificação, mas nós não concluímos,” disse o delegado.

Além disso, após o caso vir à tona, denúncias de estelionato e aliciamento de menores chegaram até à Polícia Civil - que investiga o caso

Dia do crime

Amanda chegou a Goiânia na quinta-feira (14), depois foi ao médico e, no dia seguinte, fez compras. No sábado (16), ela permaneceu no hotel e, no domingo (17), foi até a casa da família do ex. Estavam no imóvel: o ex-sogro Leonardo Pereira Alves, a mãe dele, Luzia Tereza Alves, e seu esposo João Alves.

A advogada serviu bolo e suco para eles, mas apenas ela e João não comeram e nem beberam. Posteriormente, ela chamou um carro de aplicativo e seguiu para Itumbiara, sua cidade natal.

Logo depois, Leonardo e Luzia começaram a passar mal e suspeitaram de que algum alimento estava estragado. A polícia descartou doenças transmitidas por alimentos, intoxicação alimentar e infecção alimentar, e confirmou que os dois foram vítimas de envenenamento.

Amanda foi presa às 18h dessa quarta-feira (20) em uma clínica psiquiátrica no município de Aparecida de Goiânia após supostamente tentar tirar a própria vida. Caso condenada, ela responderá pelo crime de duplo homicídio qualificado por motivo torpe por emprego de veneno.

Amanda foi presa temporariamente por 30 dias, mas o prazo pode ser prorrogado e a prisão convertida em preventiva.

Os corpos das vítimas foram necropsiados no Instituto Médico Legal (IML) e, logo em seguida, as amostras foram encaminhadas para o laboratório de análises criminais e tecnológicas, assim como os doces e o suco. A perícia concluiu como “impossível que duas pessoas sadias venham a óbito em curto espaço de tempo por causas naturais.”

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.

Ouvindo...