Advogada suspeita de envenenar ex-sogro e a mãe dele usava perfis falsos para ameaçar ex desde julho

Advogada foi presa em clínica psiquiátrica nessa quarta-feira (20)

Amanda Partata Mortoza é a principal suspeita pela morte do ex-sogro e da mãe dele

A advogada e suposta psicóloga Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, suspeita de ter matado por envenenamento o ex-sogro, de 58 anos, e a mãe dele, de 86, em Goiânia, capital de Goiás, no domingo passado, criou mais de seis perfis falsos nas redes sociais e usou mais de 100 números diferentes para perseguir o ex-namorado. As investigações apontam que o filho da vítima recebia mensagens com ameaças direcionadas à família e ligações telefônicas com frequência. As informações são da coletiva de imprensa realizada pela instituição nesta quinta-feira (21).

Além disso, após o caso vir à tona, denúncias de estelionato e aliciamento de menores chegaram até à Polícia Civil - que investiga o caso. Conforme o delegado Carlos Alfama, responsável pela investigação, Amanda costumava visitar a família do ex, mesmo ele pedindo que ela se afastasse de sua casa.

Naquele dia, estavam no imóvel: o ex-sogro Leonardo Pereira Alves, a mãe dele, Luzia Tereza Alves, e seu esposo João Alves. A advogada serviu bolo e suco para eles, mas apenas ela e João não comeram e nem beberam. Posteriormente, ela chamou um carro de aplicativo e seguiu para Itumbiara, sua cidade natal. Logo depois, Leonardo e Luzia começaram a passar mal e suspeitaram de que algum alimento estava estragado. A polícia descartou doenças transmitidas por alimentos, intoxicação alimentar e infecção alimentar, e confirmou que os dois foram vítimas de envenenamento.

Amanda foi presa às 18h dessa quarta-feira (20) em uma clínica psiquiátrica no município de Aparecida de Goiânia após supostamente tentar tirar a própria vida. Caso condenada, ela responderá pelo crime de duplo homicídio qualificado por motivo torpe por emprego de veneno.

Amanda foi presa temporariamente por 30 dias, mas o prazo pode ser prorrogado e a prisão convertida em preventiva. “A motivação do crime é o sentimento de rejeição que ela teve no relacionamento. As ameaças começaram no momento em que a relação estava indo por água abaixo”, esclarece o delegado.

Perseguição começou em julho

As investigações da polícia mostram que Amanda começou a perseguir o ex e a família a partir de 27 de julho - quando a relação começou a dar indícios de que iria acabar. O namoro de um mês e meio chegou ao fim oficialmente no dia 10 de agosto.

A polícia descobriu que ela mantinha seis perfis falsos nas redes sociais através de documentos obtidos com a Meta, dona do Facebook e Instagram. Além disso, ele recebia diariamente de 10 a 15 ligações com números diferentes e chegou a bloquear mais de 100 números. A partir daí, ele denunciou a ex por stalking - crime de perseguição.

“Os 100 números eram derivados de uma tecnologia que mascara o número original. A Polícia Civil conseguiu chegar até esse número”, relatou o delegado, que acrescentou. “Por uma desatenção, ela colocou o e-mail dela e o telefone para receber um código de confirmação. Então a suposta boa relação, que ela diz ter com a família dele, é falsa.”

Em uma das ameaças, trazia a seguinte mensagem: “Não adianta chorar em cima do sangue deles.” A partir disso, a polícia concluiu que “esses elementos trouxeram a certeza de que ela ameaçava o filho da vítima e a família dele.”

Conforme o delegado, Amanda é uma mulher bastante inteligente, que se manteve calada na maior parte do tempo. Para tirar o foco da investigação, ela, inclusive, chegou a ameaçar a si mesma. “Ela mandou uma mensagem para a vítima. ‘Eu vou matar você e sua namoradinha’. Ela disse que amava aquela família no primeiro interrogatório,” destaca Alfama.

No entanto, no segundo interrogatório, com todas as provas coletadas, a polícia perguntou sobre a autoria das ameaças e se ela era dona dos perfis. Ela negou todas as informações. “Ela nega um fato que é conhecido e provado no inquérito. O telefone dela apreendido vai ser submetido a uma perícia e análise, mas, por enquanto, está bloqueado”, esclareceu.

“No interrogatório, além desses apontamentos que passei dela recusar desbloquear o número do celular, mesmo sendo uma forma de provar inocência, ela forjou vômito, pediu desesperada para ir ao banheiro, e eu falei, faz o seguinte, pode vomitar aqui. Ela forçou o vômito, abaixou a cabeça e cuspiu. É uma pessoa que está forjando uma situação.”

O delegado destaca: “Em relação ao boletim de ocorrência feito pelo Leonardo filho, isso ensejou a investigação, que tinha sido iniciada antes da morte do Leonardo e da Luzia. Ela serviu os alimentos a todos que estavam ali, então acredito que a intenção dela era matar qualquer pessoa que consumisse os alimentos.”

O delegado volta a esclarecer que a doceria não tem nenhuma relação com o crime. “Nesse caso houve uma injustiça grande com a doceria, ela não tem nenhuma relação com esse caso. É possível que o veneno não tenha sido ministrado no bolo, é mais possível que ele tenha sido ministrado no suco, porque é mais fácil dissolver”, aponta.

Falsa gravidez

Para supostamente obter vantagens, Amanda teria simulado estar grávida - ela dizia estar grávida de 17 semanas. “A família sabia que o relacionamento tinha chegado ao fim, ela assumiu a gravidez depois do término. Verificamos que ela não está grávida há um tempo, mesmo ela fingindo vômito. Ela apresenta alguns exames de gravidez que existem indícios de falsificação, mas nós não concluímos,” disse o delegado. A história será aprofundada pela polícia. “A família pedia foto da barriga dela e constantemente ela mandava. A família apoiava ela apesar do término e dava todo suporte”, destaca.

Segundo a polícia, existem registros criminais de Amanda, além de Goiás, no Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco. “Paralelo a isso tiveram dezenas de notícias de crimes praticados pela Amanda, como por exemplo, não ser registrada no Conselho Regional de Psicologia. Isso vai ser apurado.”

Amanda ainda teria forjado estar grávida em situações passadas para obter benefícios de outras vítimas. Além disso, há uma denúncia de que ela, enquanto psicóloga de uma escola em Itumbiara, aliciou crianças na prática de condutas sexuais e bebidas alcoólicas. O delegado também revela que há denúncia de estelionato praticado por ela no Rio. Porém, a investigação tem como foco, nesse momento, “solucionar a materialidade da morte dessas duas pessoas [Leonardo e Luzia].”

Sobre a personalidade de Amanda, o delegado afirma: “É uma pessoa que mostrou uma personalidade voltada ao crime, a utilização de tecnologias para mascarar situações. Ela forja relacionamento afetivo com as próprias vítimas. Forjou personalidade dócil, amável, que na verdade ela não tinha. Essa personalidade dissimulada.”

Perícia

Os corpos das vítimas foram necropsiados no Instituto Médico Legal (IML) e, logo em seguida, as amostras foram encaminhadas para o laboratório de análises criminais e tecnológicas, assim como os doces e o suco. A perícia concluiu como “impossível que duas pessoas sadias venham a óbito em curto espaço de tempo por causas naturais.”

A perícia destacou ainda que infecções alimentares foram descartadas porque esses tipos de doenças possuem decursos diferentes em cada organismo humano. “Nós temos dois casos, duas mortes com a mesma patologia clínica, histórico e evolução da doença. A gente então descarta doenças transmitidas por alimentos ou intoxicação alimentar ou infecção alimentar.”

“Com base nisso, a Polícia Científica está realizando nesse momento a busca pelas substâncias que estavam contidas nesses alimentos. Contudo, embora tenham sido coletados os alimentos, ainda existe a possibilidade que tenham sido envenenados por outro alimento, que não tenha sido coletado. Então estamos fazendo a busca em mais de 300 pesticidas, além de substâncias inorgânicas, para ver se encontramos a substância”, acrescenta. Os sintomas de envenenamento - diarreia, vômito, náuseas e perda de líquido - também auxiliam na descoberta pelo produto que causou a morte das vítimas.

Mas, para o delegado, mesmo que o laudo seja inconclusivo, está clara a ação de Amanda no crime. Ela permaneceu durante três horas na residência e, neste período, ela pode ter tentando desfazer vestígios de crime.

“A divulgação se mostra necessária pelo interesse público. Apenas em Itumbiara, três notícias de crimes graves - como aliciamento de menores e suposta atuação em órgão que ela trabalhou com notícias falsas - foram registradas. Pedimos que a imprensa e a população de Itumbiara colabore ligando para o 197 ou procurando a delegacia de homicídios se tiverem mais informações,” finaliza.

Patrícia Marques é jornalista e especialista em publicidade e marketing. Já atuou com cobertura de reality shows no ‘NaTelinha’ e na agência de notícias da Associação Mineira de Rádio e Televisão (Amirt). Atualmente, cobre a editoria de entretenimento na Itatiaia.

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