Pesquisadores brasileiros e espanhóis encontraram taxas elevadas de substâncias que podem causar danos à saúde em 48% dos tecidos destinados a vestuário de grávidas, recém-nascidos e crianças de até três anos. As informações foram divulgadas nessa quinta-feira (27) pelo Jornal da Universidade de São Paulo (USP).
A pesquisa, publicada na Environmental Research, é resultado do pós-doutorado de Marília Cristina de Oliveira Souza junto ao Laboratório de Toxicologia Analítica e de Sistemas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.
Aminas aromáticas (AAs) são compostos químicos orgânicos que apresentam ampla distribuição ambiental e podem causar danos potenciais à saúde humana.
“A pesquisadora explica que nas roupas, através do contato com as bactérias presentes na pele, os corantes compostos pelas AAs podem ser degradados ou decompostos nas chamadas aminas primárias, absorvidas pela pele em uma proporção significativa”, informou o texto.
Pensando nisso, a equipe analisou 240 amostras de diferentes têxteis, produzidos no Brasil e na Espanha. “No estudo, foram determinadas as concentrações de 20 AAs regulamentadas, verificando-se que 16 delas estavam com valores acima de 5 mg/kg (limite aceito) em amostras comercializadas no Brasil. Na Espanha, foram 11 as AAs que ultrapassaram esse limite”, informou o texto.
Acima dos limites aceitos
As concentrações desses compostos orgânicos, em mais da metade das roupas comercializadas no Brasil (55%), estavam acima dos limites aceitos em normas nacionais e internacionais.
Grávidas, bebês e crianças são mais propensos aos efeitos adversos após exposição às substâncias. “Os cientistas informam ainda que, a longo prazo e em situações de exposição crônica, essas substâncias aumentam os riscos de desenvolvimento de câncer”, apontou a pesquisa.
Os maiores níveis estavam em roupas de tecido sintético de cor rosa. “Entre os maiores riscos para o Brasil, os pesquisadores destacaram as altas concentrações do composto 3,3-diclorobenzidina (amina associada a potencial risco de câncer) em roupas de recém-nascidos e crianças pequenas”, informou o texto.
O estudo observou que a alta dos números no Brasil pode estar relacionado com a ausência de regulamentação dessas substâncias no país. Além disso, dados sobre a exposição humana a compostos cancerígenos, como as AAs, são limitados.
*com informações do Jornal da USP