Após o ataque a uma creche em Blumenau, em Santa Catarina, no início do mês, diversos jornais se posicionaram afirmando que não divulgariam a identidade do criminoso ou detalhes do crime. Esta atitude é defendida por especialistas, que afirmam que a midiatização destes casos pode ser perigosa e estimular mais ataques e ameaças.
O professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fábio Belo, explica que esses ataques, normalmente, são articulados por grupos na internet que atraem e aliciam jovens que, por algum motivo, estão em situação de vulnerabilidade e não se sentem acolhidos no ambiente escolar ou familiar.
“A gente tem visto vários movimentos na internet que tentam capturar meninos e homens em situação de fragilidade emocional, que se vingam por meio dos atos violentos endereçados à escola e autoridades escolares. Assim, eles se sentem finalmente reconhecidos nesses grupos, nesses fóruns e por meio das redes sociais, porque isso vai ser divulgado e vai ser amplamente noticiado”.
Belo reforça que estes grupos divulgam para adolescentes e jovens ideologias que defendem o uso de armas e violência como forma de serem reconhecidos, manifestarem sua masculinidade e se vingarem por momentos em que não se sentiram acolhidos no ambiente escolar.
“Geralmente os ataques estão sendo filmados pelos próprios terroristas. Eles mesmos se filmam e postam por uma série de fatores, dentre os quais o bullying, a indiferença, o sofrimento psíquico individual. É impossível negar que se trata de um fenômeno global, de massa, que segue as regras do contágio grupal”, relata o especialista.
O que não fazer após ataques e ameaças em escolas
O psicólogo Fábio Belo orienta que não sejam divulgados dados sobre o criminoso, a arma usada e detalhes do ataque. O ideal é fazer com que o criminoso não ganhe nenhum reconhecimento público, porque é isso que ele está procurando ao realizar ameaças e atos violentos.
O ideal, segundo o especialista, é focar nas vítimas e no acolhimento à comunidade, escolas e familiares. Desta forma, a mídia potencializa uma rede de solidariedade, e não de violência, desestimulando outros ataques.
“A imprensa tem um papel fundamental em divulgar as vítimas, mas não incentivar a violência como resposta. O foco é falar da dor, tentar pensar nas condições de possibilidade para uma criança e um adolescente ter cometido um ato tão violento”.
Ele relata ainda que, quanto mais se divulgam notícias que focam na violência em si, mais se cria uma “paranoia coletiva”, incentivando o pensamento de que a violência deve ser combatida com mais violência e influenciando mais adolescentes a cometerem ataques às escolas.
“A divulgação do criminoso e das cenas do crime vão excitar mais fantasias de violência, a ideologia armamentista. Ele vai ter um momento de fama, um momento de reconhecimento que até então ele nunca teve. Assim surgem grupos que defendem colocar policiais na escola, professor armando, armar as crianças e adolescentes”, explica Fábio Melo.
Dicas:
Não espetacularizar tragédias humanas;
Não divulgue nomes, fotos, dado ou pensamento dos autores de chacinas;
Não divulgar fotos ou vídeos do ataque ou das vítimas;
Não mostrar símbolos, roupas, máscaras, armas e outros objetos usados no ataque;
Não compartilhar carta, manifesto, postagem ou qualquer conteúdo publicado pelo autor do ataque;
Não descrever os detalhes do ataque;
Não compartilhar boatos e conteúdos de ameaças de novos ataques;
Não tornar o autor do ataque o protagonista;
Não usar trilha sonora de suspense vídeos sobre o assunto.
Como prevenir ameaças e ataques no ambiente escolar
O psicólogo Fábio Melo listou uma série de medidas que podem ser tomadas por pais e professores para acolher os adolescentes e, assim, evitar mais casos de ameaças e ataques violentos em escolas.
Combater o bullying dentro de sala de aula e do lar;
Acolher, conversar e respeitar os adolescentes;
Observar se aquele jovem passou por traumatismo violentos anteriores na família, na escola ou grupos sociais;
Incentivar uma rede de apoio para os adolescentes, com atividades de lazer;
Investir em aulas de música, artes, filosofia e educação física;
Encaminhar os adolescentes que demonstrarem sinais violentos ou antissociais para um psicólogo;
Desincentivar a violência e uso de armas;
Monitorar grupos e postagens que estimulam a violência e ideologias armamentistas nas redes sociais.