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O ecossistema está presente em 17 estados e em 3.429 municípios, abriga cerca de 70% da população nacional e fornece serviços essenciais como abastecimento de água, manutenção da qualidade do ar e suporte à geração de energia hidrelétrica. Apesar disso, apenas 12,4% de sua cobertura florestal original permanece de pé, e boa parte dos remanescentes está em áreas privadas.
Segundo Rachel Bardy Prado, pesquisadora da Embrapa Solos, mesmo ocupando apenas 27% da área agropecuária nacional e 15% do território do País, a Mata Atlântica responde por cerca da metade dos alimentos consumidos diretamente pelos brasileiros. Nela concentram-se 52% da produção vegetal de consumo direto, 56% da produção animal e números expressivos de culturas estratégicas: 90% do
“Esse protagonismo, contudo, tem custo alto. Ciclos de monocultura, preparo inadequado do solo e sobrepastoreio aceleraram processos erosivos, reduziram a produtividade e aumentaram a vulnerabilidade ambiental. Rios como Paraíba do Sul e São Francisco tiveram suas vazões comprometidas por desmatamento, erosão e sedimentação dos rios, agravando a escassez hídrica em regiões densamente povoadas”, destacou a pesquisadora.
Neste contexto, especialistas da Embrapa apontam ser preciso avançar com a disseminação e adoção de soluções, tecnologias e políticas públicas voltadas à prática de uma agricultura sustentável na Mata Atlântica. “Ações que busquem a manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas e também a segurança alimentar, hídrica e energética, com uma maior agregação de renda aos produtores, especialmente os de base familiar, com a redução da pobreza e das desigualdades sociais, são essenciais nesse bioma”, completou Prado.
Tecnologias em destaque
De acordo com a pesquisadora Mariana Carvalhaes, da Supervisão de Portfólios de Ativos e Serviços da Embrapa, a Empresa possui 14 centros de pesquisa localizados na Mata Atlântica. “Muitos deles com foco no desenvolvimento de soluções agroambientais, com o desenvolvimento de conhecimento e de diversos ativos ambientais. Atualmente existem 577 ativos disponíveis para serem aplicados no bioma Mata Atlântica”, revelou.
Alguns desses ativos já estão qualificados pela Embrapa, ou seja, passaram por um crivo técnico sobre sua viabilidade socioeconômica, ambiental, mercadológica e legal. São tecnologias selecionadas e capazes de contribuir para promover a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, a partir da restauração de ecossistemas, em consonância com a produção agropecuária. São eles: Aplicativo Restaura Mata Atlântica (Embrapa Agrobiologia/RJ), Estradas com Araucárias (Embrapa Florestas/PR) e Multiplicação de colônias de abelhas-sem-ferrão em escala comercial para uso na polinização agrícola (Embrapa Meio Ambiente/SP).
O aplicativo Restaura Mata Atlântica é um dispositivo móvel contendo informações sobre espécies florestais nativas da Mata Atlântica que podem ser usadas nas ações de restauração das florestas do bioma. Sua principal proposta é a identificação, de forma rápida e dinâmica, das características ecológicas, fisiológicas, fitotécnicas e econômicas das espécies vegetais com potencial para uso em projetos de restauração ecológica ou adequação ambiental. O aplicativo é gratuito, está disponível para download no Google Play e pode ser usado online ou offline.
O Estradas com Araucárias é um projeto que incentiva, por meio de pagamentos por serviços ambientais, o plantio de Araucaria angustifolia em divisas de propriedades rurais familiares com faixas de domínio de estradas. Os plantios são realizados fora da faixa de domínio das estradas, atendendo à legislação. Os produtores rurais plantam araucárias em suas propriedades e são pagos por empresas privadas, que utilizam as árvores para compensar emissões de gases de efeito estufa e para promover outros serviços ambientais, como o paisagismo de estradas, proteção ambiental, preservação da araucária, educação ambiental, produção de pinhões, benefícios para a fauna e conforto térmico para o gado.
Já as boas práticas para instalação e manejo de colônias de abelhas-se-ferrão, orientam o manejo de abelhas nativas que podem ser criadas zootecnicamente e gerar diversos produtos para consumo e comercialização, a partir dos recursos florais das matas.