Exportações de milho crescem 179% no Paraná e triplicam a receita

Safra recorde e estratégia de mercado elevam embarques em 179%, enquanto soja ajusta ritmo e outras cadeias reforçam resiliência do setor

Entre janeiro e outubro deste ano, o estado embarcou 3,55 milhões de toneladas do cereal

O milho protagonizou as exportações do Paraná, registrando uma alta de 179% no volume exportado em relação ao mesmo período no ano passado. Entre janeiro e outubro deste ano, o estado embarcou 3,55 milhões de toneladas do cereal, gerando uma receita de US$ 757,7 milhões. O montante é quase três vezes maior que os US$ 268,2 milhões registrados em 2024. A receita foi favorecida pelo incremento no preço internacional, que passou de US$ 210,58 para US$ 213,43 por tonelada.

Os dados são do último Boletim Conjuntural do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab). O documento aponta que esse salto ocorreu pelo grande volume exportado em decorrência da safra recorde do ciclo anterior, bem como a estratégia dos produtores de optarem pelo escoamento do milho primeiro, já que é menos atrativo comercialmente do que a soja.

O Boletim do Deral também analisa que a diversidade produtiva do Paraná e o desempenho robusto de setores como suínos, carne bovina e mel reforçam a resiliência do campo diante de oscilações climáticas, tarifárias e de demanda mundial.

Soja, mandioca e olerícolas

Enquanto o milho sustenta o crescimento das exportações, a soja enfrenta um período de ajuste, com redução de 10% nos embarques do complexo (farelo, óleo e grãos). Mesmo assim, alguns segmentos registraram evolução positiva: o óleo de soja, com maior valor agregado, teve aumento de 18% nas exportações, e o farelo cresceu 2%. A queda se concentra na soja em grão, com retração de 15%.

No acumulado, o Paraná exportou 17,1 milhões de toneladas de soja e milho, alta de 4,1% frente ao ano anterior, e a expectativa é de maior fluxo de soja nos próximos meses, com a preparação dos armazéns para a chegada da nova safra a partir de janeiro.

No campo, a mandioca mantém trajetória favorável em 2025. As chuvas de novembro impulsionaram o desenvolvimento das lavouras e aceleraram o chamado “arranquio”, reduzindo atrasos causados pelo período mais seco registrado entre agosto e outubro.

A produção deve atingir novo recorde, estimada em 4,2 milhões de toneladas, acima das 3,7 milhões do ano passado. Os preços pagos ao produtor, próximos de R$ 543,57 por tonelada, representam recuperação em relação a setembro e garantem cobertura dos custos operacionais, animando os produtores e estimulando o aumento da área para 2026.

Já as olerícolas registraram cultivos comerciais em 2024, movimentando R$ 7,1 bilhões em Valor Bruto da Produção (VBP). São José dos Pinhais, Guarapuava, Marilândia do Sul, Contenda e Araucária lideram o segmento, somando 805,6 mil toneladas colhidas e R$ 1,8 bilhão em VBP. A produção abrange principalmente batata, cebola, repolho e couve-flor, e ainda uma ampla gama de folhosas, sustentadas pela demanda dos principais centros urbanos.

Mel e cogumelos

O mel brasileiro aparece entre os produtos mais impactados pelo cenário internacional. As exportações nacionais cresceram 1,5% em volume e 31,2% em receita até outubro, mas o avanço foi marcado por forte volatilidade após os Estados Unidos (EUA) imporem tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, incluindo o mel.

O Paraná segue como terceiro maior exportador, com 5,57 mil toneladas e US$ 18,6 milhões, quase o dobro da receita do ano anterior. A antecipação de compras pelos EUA, seguido por uma queda nos volumes, após agosto evidenciam os efeitos imediatos da nova tarifa, mas a valorização dos preços do mel brasileiro tem mitigado parte das perdas financeiras. Junto com os EUA, os principais importadores do mel brasileiro são: Canadá, Reino Unido, Alemanha e Países Baixos.

No segmento de cogumelos, o Paraná mantém a terceira posição nacional, com produção de 982 mil quilos em 2024 e VBP superior a R$ 21 milhões. Os principais cultivos são dos cogumelos comestíveis Champignon de Paris, Shiitake e Shimeji. A atividade, ainda concentrada em pequenos e médios produtores, cresce impulsionada pela maior demanda por alimentos saudáveis, gastronomia oriental e proteínas alternativas.

Frango, boi e porco

Entre as proteínas animais, o frango apresenta alívio parcial nos custos. Em outubro, o custo de produção no Paraná caiu para R$ 4,55/kg, redução de 1,7% frente ao mês anterior e 2,8% em relação a outubro de 2024. Isso foi influenciado principalmente pela queda nos gastos com ração, representando 63% dos gastos com produção. O Índice de Custos de Produção de Frango também mostra retração acumulada de 4,9% no ano, ajudando a equilibrar a atividade em meio à oscilação dos preços pagos ao produtor.

Na bovinocultura, o cenário externo segue determinante. As exportações brasileiras de carne bovina já alcançam 96% do total embarcado em 2024, ritmo que mantém o mercado doméstico com oferta ajustada e preços firmes, apesar de sinais de resistência por parte dos compradores. O envio de animais vivos ao exterior também cresceu, somando 842 mil toneladas no ano, alta de 12,4% sobre 2024.

A suinocultura, por sua vez, vive um ciclo histórico. No terceiro trimestre, o país registrou recordes simultâneos de produção, exportação, importação e disponibilidade interna. Foram produzidas 1,49 milhão de toneladas de carne suína, incremento de 6,1% comparado a 2024. As exportações somaram 391,97 mil toneladas, representando 26,3% da produção nacional, e também alcançaram volume recorde.

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*Giulia Di Napoli colabora com reportagens para o portal da Itatiaia. Jornalista graduada pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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