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Congresso quer desmistificar uso da Palma Forrageira, planta que salva a vida do gado

Evento será realizado em Montes Claros de 19 a 21 de outubro e reunirá especialistas de todo o país. Conheça a planta que salva a vida do gado e vira bolo, pizza, ensopado, omelete…

Plantação de Palma em Rubim, no Vale do Jequitinhonha

Pela primeira vez, o “Congresso Brasileiro de Palma e Outras Forrageiras para o Semiárido” não será realizado no Nordeste. Em sua 6ª edição, o evento acontecerá, de 19 a 21 de outubro, no Parque de Exposições João Alencar Athayde, em Montes Claros, no Norte de Minas. A organização é do Sistema Faemg/Senar e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), com apoio da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa/Senar-PB).

À frente dos preparativos, o médico veterinário, mestre em Nutrição de Ruminantes e gerente regional do Senar, Luiz Rodolfo Antunes, contou à Itatiaia que a ideia de trazer o seminário para Minas surgiu no evento do ano passado. “Tivemos uma boa interação com o pessoal da Federação da Agricultura da Paraíba. Ao final, o próprio presidente da instituição, Mário Borba, sugeriu a mudança e foi prontamente apoiado pelo Presidente da Federação da Agricultura de Minas, Antônio de Salvo.

Antunes explica que a realização do Congresso é extremamente oportuna, uma vez que o uso da cactácea por aqui ainda está aquém do que poderia em função da desinformação e de alguns mitos, como por exemplo, “de que é uma opção apenas para pequenos produtores” e a de que “é trabalhosa demais”.

“Provavelmente a palma é a tecnologia mais importante que apareceu para o semiárido”, afirma Luiz Rodolfo. O produtor tem que entender que a palma pode ser o diferencial entre ele lucrar ou não na propriedade. Conseguimos ter custos de produção e produtividade de animais muito eficientes com a palma hoje e até climas fora do semiárido têm potencial para utilizar a palma e obter bons resultados”, analisa.

Porque a Palma?

A palma forrageira é uma alternativa para complementar a alimentação do gado - em especial em regiões de escassez hídrica, por não precisar de irrigação - além de ajudar na hidratação, já que é composta por 90% de água. É rica em carboidratos não fibrosos, ingrediente fundamental na formulação e balanceamento de dietas para ruminantes. Deve ser associada com alimentos ricos em fibra, como, por exemplo, capins, silagem, feno ou cana. O plantio deve ser feito cerca de 30 dias antes do início do período chuvoso, e a primeira colheita se dá normalmente depois de dois anos, a partir daí a colheita pode ser realizada anualmente.

Luiz Rodolfo diz que não há números oficiais a respeito da utilização da palma no estado, mas acredita-se que menos de 10% dos produtores rurais a utilizem. “Com nível tecnológico adequado e sistema intensivo, esse contingente é menor ainda. Andando por aí, circulando pelas propriedades, a gente percebe que o entendimento da cultura pelo produtor ainda é pequeno”.


O ‘Pulo do Gato’

Pecuarista de corte e leite, ele começou a estudar a palma há sete anos e a utilizá-la em sua fazenda há cinco. A principal vantagem da cactácea - na avaliação dele, mais do que ser resistente à escassez hídrica - é produzir um alimento em grande quantidade, sem necessidade de irrigação, com alto valor nutricional. “Isso tem me permitido substituir 100% da compra de fubá de milho. Fico livre da aquisição de um dos insumos mais caros, exigidos pela pecuária. Esse é o grande pulo do gato da cultura”, explica o especialista.

Palma no cocho e capim no pasto

Em sua propriedade, em Rubim, no Vale do Jequitinhonha, o gado consome a palma no cocho (balanceada com ureia, soja e outros minerais) e, na outra parte do tempo, tem acesso ao pasto. Luís Rodolfo reconhece que o processamento da palma é um pouco trabalhoso. Dois funcionários são responsáveis por arrancar a planta com todas as raquetes e colocá-la num processador próprio para que seja triturada em pedacinhos e componha uma ração balanceada. Dos 200 animais de seu plantel, pelo menos metade consome palma e capim e ele diz que está se preparando para que seja possível oferecer esse sistema a todo o rebanho”.


‘Quem não quiser trabalho, deve vender a fazenda’

Outra coisa importante é o manejo da planta. “Não basta plantar a Palma e largar ela lá. É preciso preparar o solo e fazer o controle de pragas e doenças. O produtor precisa ter consciência de que toda atividade do agronegócio, tem um certo nível de complexidade e sim, dá trabalho! Como diz um professor conhecido meu: quem não quiser ter trabalho, deve vender a fazenda”, alerta Luiz Rodolfo.

Alta produtividade e muita energia

Ele garante que vale a pena. A planta produz acima das 300 toneladas por hectare, o que representa cerca de 30 toneladas de matéria seca, o que, segundo ele, é o que importa numa dieta. Também tem pouca fibra, o que é bom porque os carboidratos não fibrosos são mais digestíveis e os animais conseguem produzir mais. “A Palma produz energia de alta digestibilidade, com alto teor mineral, como o cálcio, e concentração de vitamina A. Com isso, a gente consegue ter um significativo ganho de peso dos animais e um aumento surpreendente na produção de leite”. Segundo ele, os animais adoram. A ponto de ser necessário reformar a cerca do palmal para não invadirem”.

Palmatech 2023

Concomitante ao Congresso Nacional, acontecerá o Palmatech 2023, espaço para representantes da agroindústria conhecerem e difundirem novidades em máquinas, equipamentos, insumos, pesquisas e tecnologias para o plantio e cultivo da palma.

Na programação do Congresso, estão temas como: “Manejo da Planta e seu Uso na Pecuária”, “Outras Forrageiras Adaptadas ao Semiárido”, “Fruticultura das Cactáceas, Assistência Técnica e Gestão”. Um ‘Dia de Campo’ e uma ‘Cozinha- Show’ com os chefs mexicanos Marco Meléndez (@ochapelaooficial) e Antonieta Pozas (@antonietapozas).

De bolos a pizzas

Na região nordeste do Brasil, a palma já é experimentalmente utilizada para fazer bolos, sanduíches, tortas, suco com hortelã e abacaxi, ensopado, omelete, refogado, bolinhos com carne moída ou frango, panqueca e pizza de palma. A palma veio do México onde é amplamente utilizada na culinária típica do país, especialmente no preparo das famosas tortilhas.

Banco de Germoplasma

Em 2017, a Epamig implantou em Nova Porteirinha, o Banco de Germoplasma para a avaliação de 25 genótipos de Palma Forrageira. O trabalho de difusão de tecnologia já distribuiu mais de 1,4 milhão de mudas por meio do programa Rede Palma, que até 2022 está presente em 41 municípios, no total de 84 Unidades Demonstrativas e 384 Campos de Multiplicação.

Mais informações e inscrições: https://palmatech.com.br/congresso_nacional_de_palma/

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Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.