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Altas temperaturas podem danificar pólen das flores e impedir a fertilização de várias culturas; entenda

Emater-MG e Faemg orientam produtores sobre como reduzir o impacto das intempéries climáticas. Potencial produtivo da próxima safra pode estar comprometido

Poderá haver danos às florações nas regiões com temperaturas mais altas

A onda de calor que atinge vários estados do Brasil neste final de inverno, com recordes de temperatura para esta época do ano, poderá provocar perda de produtividade em diversas culturas agrícolas. Uma delas é a cafeicultura, cujas lavouras estão em pleno período de floração. O coordenador estadual de Irrigação da Emater-MG, Ivaldo Martins, explica que eventos climáticos drásticos causam impacto na fisiologia das plantas. Uma onda de calor, com temperaturas até cinco graus acima do normal, danifica o pólen das flores, a ponto de impedir a fertilização e o futuro desenvolvimento dos frutos.

“A produtividade de qualquer cultura é afetada por eventos climáticos drásticos, independentemente da tecnologia utilizada pelos produtores (bons insumos, bom material genético etc.). No caso da seca, é possível reduzir o impacto com irrigação. Mas, com uma forte onda de calor como essa dos últimos dias, não tem como os produtores se precaverem”, afirma Martins.

No caso dos cafezais, o coordenador avalia que pode haver danos às florações, nas regiões com temperaturas mais altas de Minas. E, embora ainda haja tempo para o surgimento de novas flores, o potencial produtivo da próxima safra pode ser comprometido.

Emater disponibilizou documento

A Emater-MG reuniu diversos especialistas para elaborar o documento “Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na agropecuária: Água de chuva”. O material está disponível na Livraria Virtual do site www.emater.mg.gov.br . O engenheiro agrônomo Ivaldo Martins, da equipe do Departamento Técnico da Emater-MG, foi um dos autores. “Elencamos práticas para reduzir e mitigar os impactos de eventos climáticos adversos, principalmente na questão das enxurradas. São práticas conservacionistas já conhecidas, mas ainda pouco difundidas ou aplicadas na realidade rural. O plantio direto, por exemplo, em que se planta sobre a palhada, protege o solo e promove maior infiltração da água das chuvas. Com isso, reduz a formação de enxurradas. Abordamos também técnicas de implantação e manejo de pastagens e recuperação de áreas degradadas. Uma das indicações é a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF). Outras ações que os produtores podem adotar são o plantio em nível e o terraceamento das lavouras”, cita Martins.

Ele explica que essas práticas contribuem para a infiltração da água das chuvas no solo. Além de evitar as enxurradas e enchentes, que causam diversos prejuízos, as ações de conservação do solo favorecem a manutenção da umidade por um tempo mais prolongado, o que gera benefícios para os produtores rurais também nas épocas de estiagem. “Mas são práticas com efeitos a médio e longo prazos. E eventos tão drásticos, como os do Rio Grande do Sul, são atípicos, então, mesmo essas práticas não evitam todos os impactos deletérios”, afirma o coordenador da Emater-MG.

Faemg lembra a importância do Seguro Rural

A analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, Ana Carolina Gomes, informou que, semanalmente, eles divulgam a previsão meteorológica a todos os produtores mineiros com orientações dos potenciais impactos relativos ao clima “É inegável que essa onda de calor e a possibilidade de granizo geram uma enorme preocupação ao agronegócio mineiro. Principalmente para a cafeicultura que já vem sofrendo com as intempéries climáticas por três anos consecutivos, entre eles, geadas, seca e granizo e também devido ao atual estágio da safra. Estamos em plena florada. É um período crucial para que a gente possa ter uma boa produção no próximo ano”, comentou.

De acordo com Ana Carolina, já têm chegado à Federação relatos de lavouras que apresentam sinais de escaldadura que é a queima das folhas causada pelas altas temperaturas, tempo seco e pouca chuva. E também municípios que apresentam déficit hídrico, como Varginha e Esperança, no sul de Minas e Araxá, Patrocínio e Araguari, na região do Cerrado. “Sempre orientamos os produtores a fazerem o Seguro Rural das lavouras minimizando impactos que possam haver em decorrência dos eventos climáticos. “Com a cobertura do seguro e a realização das pulverizações preventivas e corretivas, pode-se evitar muita dor de cabeça”, orienta a analista.

O presidente da Comissão Técnica Estadual de Café da Faemg, Arnaldo Bottrel Reis, também está preocupado. Na semana passada, ele participou de diversas reuniões da Comissão Nacional do Café, em Caconde, São Paulo, e disse que a questão do clima predominou nas rodas de conversas. “Regiões que não tiveram chuvas nos últimos 60 dias e estão na florada, terão um ‘pegamento’ complicado. Mesmo as que tiveram, com as altas temperaturas anunciadas, o rendimento da lavoura, será uma incógnita”, falou.

(*) Com informações de Mírian Fernandes, da Emater-MG

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.