Ouvindo...

União reconhece que não fiscaliza condições de produção de pecuaristas estrangeiros

Diante do fato, Sindicato Rural e Núcleo dos Criadores de Girolando Sem Fronteiras, entram com réplica pedindo a suspensão das importações

Juíza responsável pelo caso deve se posicionar até o início da próxima semana

Agora é pra valer. O Sindicato dos Produtores Rurais de Leopoldina e do Núcleo dos Criadores de Girolando Sem Fronteiras, do mesmo município, entraram com uma réplica na 6ª Vara Cível do Distrito Federal, pedindo a suspensão das importações de leite em pó.

O advogado José Eduardo Junqueira, responsável pela ação, explica que após a primeira ação que questionou judicialmente a União a respeito da paridade das condições de produção entre pecuaristas de leite nacionais e estrangeiros, a União se posicionou admitindo não fazer a fiscalização das condições ambientais, trabalhistas e tributárias dos produtores de leite de outros países que têm entregado o produto no Brasil. O documento é assinado pelo Advogado Geral da União, Ney Wagner Gonçalves Ribeiro Filho.

“Diante disso, nós já nos manifestamos em réplica chamando a atenção para o que entendemos ser uma confissão, uma confirmação da procedência da nossa tese, e requerendo que sejam suspensas as importações de leite e seus derivados até que a União promova um controle justo de igualdade das condições de produção”, disse Junqueira.

A expectativa é que a juíza responsável pelo caso, Ivani Silva da Luz, se manifeste sobre a decisão até o início da próxima semana.

Leia mais:

Secretaria de Agricultura e setor produtivo discutem impactos da importação do leite com o governo federal

Entidades mineiras questionam judicialmente a União sobre legalidade das importações de leite

Preço do leite pago ao produtor registra segunda queda em plena entressafra; entenda por que

Entenda o caso

  • Nas últimas cinco décadas, a produção de leite no Brasil cresceu sete vezes, saltando de 5 para quase 35 bilhões de litros por ano. Apesar do país ser um dos cinco maiores produtores do mundo, esse volume é suficiente apenas para abastecer o mercado interno.

  • As importações de lácteos são legítimas e estão previstas nos acordos do Mercosul.

  • O problema é que esse ano tem chegado muito mais leite do que o previsto, fazendo uma concorrência desleal com os produtores locais e podendo provocar uma problema econômico e social sem precedentes na pecuária leiteira do país.

  • De acordo com o secretário de agricultura e pecuária de Minas, Thales Fernandes, nos primeiros sete meses do governo Lula, foram importados 240 milhões de toneladas de leite, enquanto que, durante os quatro anos do governo Bolsonaro, esse volume não chegou a 70 milhões de toneladas.

  • Desde então, o governo do Estado vem se reunindo com representantes dos Ministérios da Agricultura e da Indústria e Comércio para tentar encontrar uma forma de barrar a entrada do excesso de leite.

  • Na semana passada, o secretário Thales Fernandes disse que “estava-se buscando soluções legais para resolver o problema”.

  • Essa semana, o Sindicato dos Produtores Rurais de Leopoldina e o Núcleo dos Criadores de Girolando Sem Fronteiras tomaram a frente entrando com uma ação contra o Governo Federal questionando a paridade das condições de produção dos pecuaristas estrangeiros e brasileiros.

  • A União respondeu a petição admitindo que não faz a fiscalização das condições de produção e que, portanto, não sabe dizer se há paridade.

  • Diante disso, o Sindicato e a Associação entraram com uma réplica pedindo a suspensão das importações. A juíza responsável pelo caso deve se manifestar até o início da próxima semana.

  • Está marcado para a próxima quarta-feira (16) uma grande manifestação no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados com pecuaristas de todo o país e associações de peso como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O protesto é contra o excesso de importações de lácteos.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.