O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou a segunda queda consecutiva do ano do preço médio do litro de leite: R$ 2,556 na “Média Brasil”, na entressafra, quando é comum que esse valor esteja em tendência de alta.
A marca representa recuo de 22,38% na comparação com o mesmo período do ano passado, conforme valores divulgados essa semana.
O preço médio do leite cru ao produtor, em junho, também é 6,02% menor em relação ao registrado em maio de 2023. No fim do primeiro semestre, a queda acumulada de 1,4% e média é de R$ 2,7505/litro.
O valor médio de referência do litro de leite, entregue em julho pelos produtores, a ser pago em agosto, é de RS 2,5479, de acordo com cálculos do Conseleite-MG.
Mas esses valores podem variar de acordo com o volume e a qualidade do leite. Para saber exatamente seu valor, você deve usar a calculadora no site do Conseleite (
Entenda o cenário
A analista do Cepea para o setor, Natália Grigol, explica que os fatores que fizeram os preços do leite cru caírem, mesmo na entressafra, são, na verdade, uma combinação de fatores: consumo enfraquecido, aumento das importações de leite em pó e da diminuição nos custos de produção.
Segunda ela, na entressafra, a produção não é estimulada pelo clima. O inverno seco limita a disponibilidade e a qualidade das pastagens, afetando os custos do manejo alimentar do rebanho. Entretanto, mesmo nesse cenário de entressafra, os preços não têm seguido a tendência sazonal de alta.
“A desvalorização do leite no campo ocorre em consonância com o movimento de queda observado ao longo de toda a cadeia produtiva”, comentou Natália.
“Com a demanda ainda fragilizada, a pressão dos canais de distribuição por preços mais baixos e os valores mais competitivos dos lácteos importados, as cotações dos derivados negociados pelos laticínios registraram queda em junho”, acrescentou.
A analista do Cepea ressalta ainda que o aumento das importações de lácteos no primeiro semestre de 2023 é um fator importante porque, além de o volume estar quase três vezes acima do registrado no ano passado, os preços seguem mais competitivos que os nacionais – o que pressiona as cotações domésticas ao longo de toda a cadeia.
O impacto das importações
Dados da Secex mostram que, em junho, as importações somaram mais de 212,1 milhões de litros, elevando o déficit da balança comercial a patamares recordes.
“A quantidade importada no primeiro semestre de 2023 representa aproximadamente 9,5% da captação formal de leite cru (tendo como base os dados da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE de 2022). Vale destacar que, no mesmo período do ano passado, as importações representaram apenas 3,2% da captação nacional”, aponta Natália.
Queda na captação formal em Minas
Segundo o IBGE, o primeiro trimestre de 2023 apresentou uma queda de 1,2% na captação formal de leite no Brasil e uma redução de 5,3% em Minas Gerais, quando comparado ao mesmo período de 2022.
O custo de produção de leite em Minas Gerais caiu 4,3% em junho/23. Este é o terceiro mês consecutivo de queda e, segundo dados do ICP-Leite Embrapa, essa baixa é reflexo da redução com os custos com a alimentação do rebanho, principalmente na família dos Concentrados e Volumosos, que caíram 7,7% e 7,5%, respectivamente.
Houve queda nos custos de aquisição de milho e farelo de soja, principalmente. As famílias Qualidade do Leite (+7,3%), Minerais (+2,3%) e Sanidade/reprodução (1,3%) apresentaram alta em relação a maio/23.
Ao considerar os pesos das famílias avaliadas, o mês fechou com uma queda de 4,3% no Custo de Produção e, no acumulado do ano, soma-se uma baixa de 4,8%.