Elas têm se destacado cada vez mais em diversas áreas do conhecimento e do mundo corporativo e no agro não é diferente. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, em 2018, as mulheres já representavam 36% dos cargos gerenciais no agronegócio brasileiro. Trinta milhões de hectares da produção rural brasileira estão sob o comando de mulheres, segundo dados de um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em conjunto com a Embrapa e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Minas Gerais, 2.464 das mais de 20 mil propriedades atendidas pelo programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do Sistema Faemg/ Senar têm mulheres à frente das fazendas.
A Itatiaia selecionou cinco histórias inspiradoras de lideranças femininas no meio rural mineiro. Em comum, elas têm o fato de terem começado do zero, com pouco ou nenhum conhecimento sobre o segmento, boas doses de perseverança, disciplina e amor.
Como, por exemplo, o amor de Marisa Helena Contreras pelos cafés especiais e pela causa do empoderamento feminino no agro. Marisa é puro acolhimento. E é essa característica, aliada a boas informações, que ela usa para informar e incentivar outras produtoras de café em suas palestras pelo Brasil afora.
O projeto Florada Três Corações, coordenado por ela em parceria com a fabricante de café Três Corações, já impactou a vida de mais de 5 mil mulheres, por meio de palestras técnicas e motivacionais e da comercialização promocional de microlotes de café das cafeicultoras participantes.
“A embalagem do produto Raro Microlote é personalizada e repleta de significados. Ao adquirir você contribui com a valorização do trabalho delas, uma vez que 100% do lucro é revertido para as cafeicultoras”, explica Marisa. O projeto teve início em março de 2018.
Trajetória
Nascida em Areado, sul de Minas, Marisa estudou Farmácia e foi proprietária de uma drogaria, durante 23 anos, onde, entre um atendimento e outro, dava dicas de saúde e bem-estar para os clientes.
Em 2012, ela trocou o ramo farmacêutico pelo mundo rural com a missão de ajudar o marido Gabriel a transformar a produção cafeeira da fazenda de sua família numa produção de cafés especiais.
Aos poucos, percebendo a vontade que outras mulheres tinham de empreender no ramo dos cafés e as barreiras que encontravam, ela foi se envolvendo cada vez mais com as questões femininas no universo do agro. “Elas são agentes de transformação da sociedade, só que, muitas vezes, não têm consciência disso. Quando uma mulher empreende, transforma o seu entorno, ajuda outras mulheres e impacta a sociedade começando por sua própria família”, acredita Marisa.
Desse sonho, nasceu o Encontro das Mulheres do Café que, em setembro deste ano, entra em sua 8ª edição, trazendo pessoas e reflexões relevantes para as mulheres. “Sou muito feliz dentro do que faço. Sou completamente apaixonada por café e pelas pessoas que trabalham para produzir cada grão de café. É um orgulho pra mim saber que, de nossas mãos, saem bebidas surpreendentes que encantam milhares de pessoas ao redor do mundo”.
Melhor café de baixa altitude do mundo
Por influência do pai de Marisa, que tinha entre suas atividades a cafeicultura, ela e Gabriel adquiriram a Fazenda Capoeira há 12 anos. Na época, eles trabalhavam no varejo farmacêutico na cidade de Bebedouro, interior de São Paulo, mas o café sempre foi uma paixão e eles decidiram investir nessa atividade totalmente desconhecida para eles. Em 2012, Marisa decidiu literalmente “trocar o salto pela bota”, e nesse momento, começaram a produzir cafés especiais.
A Fazenda está situada nas montanhas cafeeiras do sul de Minas, com uma topografia variando de ondulada a montanhosa, combinada com uma precipitação média de chuva de 1200 mm anuais, o que propicia um ambiente perfeito para o desenvolvimento de uma cafeicultura sustentável, principalmente para a produção dos chamados ‘cafés especiais de alta complexidade’.
Hoje, a Fazenda Capoeira Coffee é a maior produtora do mundo em cafés especiais de baixa altitude, sendo exportado para quatro países .