Durante muitos anos, o produtor Valdeci deixou a mulher e filhos em Água Boa para trabalhar na colheita do café Conilon, no Espírito Santo, foi adquirindo experiência no cultivo, trouxe sementes e começou uma pequena produção ainda na terra do seu sogro. Em poucos anos, conseguiu comprar seu próprio pedaço de chão e viu a vida melhorar.
“Quando me mudei pra cá eu não tinha muitas coisas. Morava com meu sogro e saía para o Espírito Santo pra apanhar café. Trouxe as sementes, fiz minhas mudas, plantei e consegui comprar minha terra. Hoje trabalho pra mim mesmo e as coisas estão muito boas”, conta.
Assim como Valdeci, vários agricultores familiares dos municípios de Água Boa, José Raydan, Santa Maria do Suaçuí, São José do Jacuri e São Pedro do Suaçuí, no Vale do Rio Doce, viram no café Conilon uma ótima oportunidade. Tanto que, de 2017 para cá, segundo dados da Emater-MG, a produção do grão na região cresceu cerca de 30% ao ano.
Em 2017, esses municípios tinham juntos 62 agricultores familiares na atividade, hoje já são 93, além de 5 produtores de maior porte, que também entraram no ramo. A área plantada saltou de 135 hectares para 380, e a produção saiu de 3, 6 mil sacas para 9,2 mil ao ano. Volume ainda muito baixo para atender a demanda da região.
Segundo a Emater, em Capelinha, que está próxima desses municípios produtores de Conilon, a demanda das seis torrefadoras que operam na cidade é de 4 mil sacas por mês. Ou seja, ainda há muito mercado para explorar, o que deve incentivar mais produtores a investir na atividade.
“Há uma tendência de aumentar principalmente o número de pequenos agricultores e de não aumentar expressivamente a área com grandes produtores”, comenta o extensionista da Emater-MG, em Água Boa, Luiz Antônio Borges. Segundo ele, as áreas plantadas são, em média, de 2 a 3 hectares. “Nesses espaços os produtores conseguem conduzir tranquilamente as lavouras, com custo de produção menor que o café Arábica, por exemplo, e assim sustentar a família. Eu recomendo que eles se dediquem ao café Conilon”, diz.
Produzindo assim, num pequeno espaço, Edivano Batista Machado está satisfeito com os resultados do Conilon. Conta que, em apenas meio hectare, conseguiu uma alta produtividade, que na última safra lhe rendeu aproximadamente 70% de lucro.
“Quem quiser plantar e cuidar dá lucro mesmo. Meu lucro aqui foi de 70%, de cada RS100 reais sobra 70 pra mim. Trabalho de tardinha, até de noite com prazer, porque é muito bom trabalhar e ver o resultado. E sempre tem a expectativa de todo ano colher ainda mais. Posso reclamar não, depois que passei a mexer com café foi só melhora”, diz satisfeito.
Incentivo e qualidade
A Emater-MG tem incentivado o cultivo do Conilon na região, promovendo Dias de Campo, prestando assistência técnica direta aos produtores. Segundo o coordenador técnico da empresa, José Mauro de Azevedo, o Conilon é uma espécie de café mais rústica, por isso mais resistente a pragas e doenças, além de se comportar bem, mesmo com o déficit hídrico. “Esta região não está no semiárido, mas infelizmente, nos últimos anos, tem sofrido com a falta de chuvas. Sem contar que o Conilon é uma lavoura de manejo mais simples e bem-adaptada à produção em pequenas áreas”, explica.
E os produtores da região não estão preocupados apenas com a quantidade de café que produzem, mas também com a qualidade. Com uma pós-colheita caprichosa, o produtor Adílson Melo conseguiu atingir 85 pontos no seu café, no último concurso regional de qualidade do grão. Trabalhando com a família, pretende deixar esse legado para os filhos.
“O meu sonho aqui não é só fazer um bom café, que eu possa vender a mil, cinco mil reais. Meu interesse é ver meus filhos que estão aí crescendo, meus sucessores, dando continuidade”.
(*) Com informações da Emater-MG