Ouvindo...

Santo Antônio do Monte ganha laticínio e queijaria exclusivos de leite A2A2

Ex-promotor mudou rebanho, geneticamente, para realizar o sonho de oferecer um produto com melhor digestibilidade do que o convencional

Tomáz Aquino e sua esposa Elzira: sonho realizado

Graças ao sonho de um advogado e ex-promotor de justiça, o município de Santo Antônio do Monte vai ganhar, oficialmente, neste sábado (22) um laticínio e uma queijaria exclusivos para o processamento do leite A2A2, denominação dada ao leite e produtos lácteos com beta-caseína (CSN2), uma proteína presente na estrutura do leite que melhora sua digestibilidade. O proprietário, advogado, técnico agrícola e promotor de justiça aposentado, Tomáz Aquino, começou a selecionar touros Gir Leiteiro e Girolando, geneticamente, há dez anos, depois de ler um estudo a respeito do tema num evento em Uberaba. “Fiquei impactado com a informação de que a maior parte das pessoas diagnosticadas com intolerância à lactose, na verdade, têm alergia à beta-caseína do leite A1. A partir daí, decidi mudar todo o meu rebanho por uma questão de ética. Não me agrada fazer um produto que causa desconforto nas pessoas”.

Hoje, seu rebanho de cerca de 80 animais, têm 100% do genótipo A2A2. Com 50 vacas em lactação, Tomaz produz mil litros de leite por dia na fazenda de nome incomum - Grotadas - numa referência às grotas do local, feitas para os animais não se distanciarem muito ou fugirem. O leite é pasteurizado e envasado lá mesmo e, por enquanto, distribuído apenas para padarias, empórios e mercadinhos de bairro de Santo Antônio e a vizinha de Lagoa da Prata. “Entrego numa caminhonetinha refrigerada, é uma ideia antiga, romântica, um sonho que estou realizando”.

Ele acredita que o tempo em que todos os rebanhos serão A2A2 esteja mais próximo do que imaginamos. “No máximo em oito ou dez anos porque nos catálogos de touros só encontramos gado A2A2. Na Nova Zelândia, isso já é realidade”.

Sua esposa Elzira Maria coordena a Queijaria que produz cerca de 80 peças de Queijo Minas Artesanal A2A2. O sabor, segundo ele, é levemente ácido, casca com mofo branco e granulado como o parmesão, podendo ter 8, 10 ou 30 dias de cura, ao gosto do freguês. A inauguração laticínio está marcada para às 15h, apenas para convidados, com direito a missa e show sertanejo de Rick e Banda. Pedidos do queijo podem ser feitos pelo site grotadaaa2a2.pedzap.com.br ou pelos fones: (31) 9 9956-4771 ou (37) 9 8422-0619.

Gene sofreu mutação originando alelo A1

Há cerca de dez mil anos, de acordo com o pesquisador Marcos Vinícius, da Embrapa Gado de Leite, todos os bovinos produziam somente leite A2A2, mas o gene da beta caseína sofreu uma mutação dando origem ao alelo A1. A partir de então, o gado com os alelos A1A1 ou A1A2 só produzem leite A1. “Descobriu-se, então, que no momento em que o ser humano ingere o leite A1, produz um peptídeo chamado betacasomorina7 (BCM-7) que causa alergia nos indivíduos que já têm essa propensão, produzindo sintomas como diarreias, tosse, refluxo, erupções e coceiras. O alelo A2 não desencadeia esse peptídio, portanto, tem uma melhor digestibilidade,” explica o pesquisador.

Segundo ele, os pecuaristas de leite começaram a prestar mais atenção nessa história, há cerca de dez anos, quando foram divulgados os primeiros estudos feitos na Austrália e na Nova Zelândia. Mas, mesmo antes disso, a Embrapa já vinha ajudando os criadores a identificar os touros A2A2 que têm 50% a mais de chance de gerar novilhas A2A2. “A transição dos plantéis pode ser feita aos poucos para não acarretar uma queda brusca na produção ou, de uma só vez, o que terá um custo maior”, alerta.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.