O primeiro lote do Mel de Aroeira com a devida denominação de origem deverá chegar às prateleiras dos supermercados e mercearias em outubro. A presidente da Associação Pontense de Apicultores e Meliponicultores (APAM), Genilza Mendes Ribeiro, contou que o Conselho de Desenvolvimento da Apicultura do Norte de Minas (Codeanm) detectou que o mel, extraído a partir da polinização desta planta, possui substâncias diferentes da aroeira de outras regiões.
“Como o clima é seco, a nossa tem uma resina que funciona como uma proteção solar e ainda outras substâncias benéficas à saúde, que são anti-inflamatórias e antifúngicas”, explicou Genilza, acrescentando que, até há pouco,, esse mel não era valorizado por ser mais escuro. “A pesquisa agregou-lhe valor e despertou o interesse de outros produtores”.
Outras ações que merecem ser comemoradas são a assinatura de um Termo de Cooperação com a Agência Nacional de Assistência Técnica (Anater) que se compromete a preparar os apicultores a desenvolver projetos para participarem de chamadas públicas e com o AGRO BR, projeto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e APEX Brasil, do governo federal, que ajuda empreendedores de todos os tamanhos a expandir seus negócios no exterior. “Isso sem falar no programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do SENAR que auxilia grupos de produtores com visitas mensais, durante dois anos. São passadas orientações técnicas e gerenciais, de forma totalmente gratuita”.
Projeto era um sonho antigo
Genilza trabalhava como assistente social, em 2016, em São João da Ponte, quando sentiu necessidade de criar um projeto que gerasse renda, mantivesse as famílias no campo e, ao mesmo tempo, não agredisse o meio ambiente. “Pensei em investir no processamento de polpa de frutas, mas a que me pareceu mais fácil em termos de logística foi a apicultura”. Assim nasceu a APAM, com apenas oito associados de São João da Ponte. Hoje já são 126 novos integrantes que vieram das cidades vizinhas de Montes Claros, Lontra, Japonvar, Patis, Brasília de Minas e Varzelândia.
A Companhia de Desenvolvimento dos Vales São Francisco e Parnaíba (Codesvasf), via emenda parlamentar, trouxe os primeiros equipamentos, como as EPIs, colmeias, centrífugas e decantadores, para a produção do mel e o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) que, inicialmente, ofereceu cursos rápidos de capacitação.
A luta pela inclusão na merenda
Com esse apoio, muita gente se animou a empreender no negócio do mel. O próximo passo foi procurar a Cooperativa de Apicultores de Bocaiúva (Coopemapi) para que ela fizesse o registro do produto e o embalasse em garrafas ou potes com a marca da APAM. “Desde esse início também começamos a nos mobilizar para incluir o mel na merenda escolar. Alguns municípios fizeram isso. Mas essa é uma luta que existe até hoje porque há uma portaria que proíbe a distribuição do mel nas escolas por considerá-lo um produto similar ao ‘açúcar’. Isso é um equívoco. Em pequenas quantidades, o mel é saudável e previne gripes e outras infecções”, disse Genilza.
Diversidade de floradas favorece a produção
O chefe da unidade de Desenvolvimento Territorial da Codevasf, Alex Denier, concorda com Genilza. Na opinião dele, a inclusão do mel na merenda escolar seria positivo não apenas para o bem-estar das crianças e adolescentes, mas também por configurar uma política pública que valoriza o produto proveniente da agricultura familiar, ajudando a fixar o pequeno produtor no campo e formando o chamado ‘consumidor do futuro’.
Denier diz que o Norte de Minas tem muito potencial para o desenvolvimento da produção de mel por ter muitas floradas nativas e florestas plantadas, com diversidade de flores. Além disso, há poucas áreas de uso intensivo de agrotóxicos, o que faz com que o mel produzido seja praticamente orgânico. O chefe da unidade acompanha o desenvolvimento da apicultura na região desde 2006 e diz que instituições como a própria Codevasf, a Emater, o SEBRAE e o SENAR contribuíram muito para os avanços e conquistas.
Segundo ele, hoje, cerca de 1500 apicultores produzem, aproximadamente, mil toneladas de mel por ano. Para se ter uma ideia da organização da cadeia na região, chega a trinta o número de associações de produtores.
A Coopemapi, cooperativa com sede em Bocaiúva, já tem até o Selo de Inspeção Federal Internacional e exporta grandes quantidades do produto para vários países, principalmente Estados Unidos. Com a obtenção do Certificado de Origem pelo Mel de Aroeira, entrepostos de várias partes do Brasil têm ido ao Norte de Minas para buscá-lo. “Esse selo impulsionou as exportações uma vez que o mercado externo valoriza muito a indicação de procedência geográfica”. A meta, agora, é ampliar o mercado de produtos fracionados, que já são encontrados em supermercados de Belo Horizonte e outras grandes cidades. “A tendência é só crescer”, acredita Denier.
“É muito bom ver nossos produtos nas prateleiras com o selo de Inspeção Federal e nota fiscal, conforme manda o figurino”, diz Genilza. O que mais a gratifica é ver que o projeto está dando resultado, que as pessoas estão conseguindo ter renda própria e não dependem mais de uma cesta básica do governo para sobreviver; que não precisam se deslocar para o sul de Minas para colher café, tirando, muitas vezes, os filhos da escola e colocando em risco suas próprias casas ou propriedades.