Ouvindo...

Fome real ou emocional? Como o estresse influencia nossos hábitos alimentares

Comer por impulso pode ser uma resposta às emoções e não à necessidade fisiológica. Especialistas explicam como identificar o comportamento e oferecem estratégias para retomar o controle

A fome que sentimos, muitas vezes, pode estar ligada ao psicológico

Será que toda fome é de fato física? Em momentos de estresse, cansaço ou ansiedade, muitas pessoas recorrem à comida sem avaliar se há realmente uma necessidade biológica por trás. Entender essa diferença pode ser crucial para uma relação mais equilibrada com os alimentos.

A médica pediatra e especialista em nutrição Irina Kovalskys explica ao site de notícias Infobae: “A fome real responde a necessidades fisiológicas. Por exemplo, certo tempo depois de comer, os níveis de glicose no sangue caem, ativando sinais hormonais que despertam a necessidade de se alimentar”.

No entanto, ela alerta que nem sempre se come por esse motivo. “Diante de emoções como tristeza, ou condições do ambiente como tédio ou solidão, o impulso de buscar comida pode não ter relação com a fome fisiológica”, afirma.

Essa vontade pode surgir mesmo após a saciedade. Segundo Kovalskys, em situações de mal-estar emocional, "é o cérebro, onde residem receptores e circuitos associados ao prazer, quem busca na comida uma forma de aliviar as emoções”.

Leia também

Já a nutricionista Agustina Murcho, também entrevistada pelo Infobae, destaca que desde a infância aprendemos a associar comida a recompensas, consolo ou celebrações, o que reforça o hábito de comer para regular emoções. “Esses aprendizados ficam gravados na memória emocional e podem ser ativados sem percebermos.”

Seis sinais de que a fome pode ser emocional:

1) Comer mesmo sem fome: o estômago está saciado, mas algo interno busca alívio, pode ser ansiedade, angústia ou sensação de vazio.

2) Comer como válvula de escape: ao relaxar após o trabalho, nos fins de semana ou na solidão.

3) Comer sem nomear a emoção: tédio, raiva ou frustração são ‘anestesiados’ com comida.

4) Sentir culpa depois de comer: a comida não resolve o problema e ainda gera frustração.

5) Desejo específico: doces ou salgados como forma aprendida de consolo.

6) Dificuldade de parar: não se trata de falta de vontade, mas de uma dinâmica emocional mais profunda.

Para reverter o padrão, Kovalskys defende o desenvolvimento da autorregulação alimentar desde cedo: “Algumas crianças já nascem com essa habilidade, mas outras precisam de orientação para reconhecer a saciedade”. Entre as práticas sugeridas estão evitar comer diante de telas, respeitar os intervalos entre as refeições e não usar comida como recompensa emocional.

Além disso, ela recomenda atividades como meditação, mindfulness e yoga, que ajudam a reconectar com o corpo, mas ressalta: “Essas práticas não substituem o acompanhamento nutricional ou psicológico quando necessário”.

Murcho complementa: “Talvez quando o corpo pede ‘algo gostoso’, na verdade esteja pedindo descanso, carinho ou distração. Explorar formas alternativas de autocuidado, como caminhar, respirar fundo ou escrever, pode ajudar”.

Outro recurso é a Escala de Fenótipos de Comportamento Alimentar (EFCA), ferramenta que identifica padrões de ingestão emocional. A médica Mônica Katz, uma das especialistas envolvidas no desenvolvimento da escala, explica que ela classifica os perfis alimentares em cinco tipos: emocional/picoteador; hedônico; compulsivo; hiperfágico; e desorganizado - e ajuda a ajustar estratégias de tratamento conforme o comportamento predominante.

Katz destaca que muitos tratamentos para obesidade ignoram esses aspectos. “Uma grande parte dos enfoques ignora a capacidade particular do indivíduo para autorregular a ingestão calórica”, afirma. Diagnosticar corretamente o padrão de comportamento pode aumentar as chances de sucesso.

Por fim, Murcho orienta: “Se uma pessoa se identifica com essas situações, é essencial buscar ajuda profissional. Um cuidado integrado, com nutricionista e profissional de saúde mental, pode ser fundamental para compreender o vínculo com a comida e desenvolver novas formas de lidar com as emoções”.

Jornalista graduado, com ênfase em multimídia, pelo Centro Universitário Una, de Belo Horizonte. Com mais de 10 anos de experiência em jornalismo digital, é repórter do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Antes, foi repórter da Revista Encontro. Escreve, em colaboração com a Itatiaia, nas editorias de entretenimento e variedades.