As mineradoras têm prazos individuais e específicos para descaracterizar as
Após a determinação da lei “Mar de Lama Nunca Mais”, de 2019, das 54 barragens a montante que existiam em Minas, 21 barragens foram descaracterizadas. Segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM), outras 33 ainda precisam ser descaracterizadas.
Maior mineradora do país, a Vale teve 30 barragens listadas entre as estruturas que deveriam ser descaracterizadas no país. Nestes seis anos, a empresa já eliminou 17 dessas estruturas, sendo 14 em Minas Gerais e três no Pará. A empresa já extinguiu mais metade das estruturas a montante - 57%, ou seja, faltam ser eliminadas 13 estruturas.
O investimento total supera os R$ 25 bilhões, sendo que cerca de R$ 10 bilhões já foram aplicados. Para descaracterizar estruturas deste tipo, a empresa tem investido em tecnologia, como destaca o vice-presidente Executivo Técnico da Vale, Rafael Bittar.
Vice-presidente executivo da Vale, Rafael Bittar
“Todas as barragens da Vale são monitoradas 24 horas por dia. Nós temos, hoje, instalado um centro de monitoramento geotécnico, que fica em Belo Horizonte, um em Itabira e outro em Carajás. Então, todas as nossas barragens são monitoradas. Também construímos, para algumas dessas barragens, o que chamamos de estrutura de contenção a jusante, que são grandes barreiras de concreto, com muros que retém 100% dos rejeitos em caso de ruptura, que são construídos a cerca de oito a dez quilômetros de distância das barragens”, conta Rafael Bittar.
Já apontado nesta série de reportagens, a Vale tem estruturas que exigem um trabalho mais complexo no processo de descaracterização. Em algumas delas, por questões de segurança, é proibido o acesso de pessoas. Neste processo, um dos principais investimentos da empresa é o Centro de Operações Remotas, que fica na região centro-sul de Belo Horizonte. Do local, com a utilização de tecnologias integradas, funcionários da empresa conseguem operar o maquinário que está a centenas de quilômetros de distância.
A Itatiaia visitou a central e acompanhou funcionários atuando na descaracterização da barragem Sul Superior. A estrutura fica na mina Gongo Soco, em Barão de Cocais, na região Central de Minas Gerais. Em segurança, em uma sala climatizada na capital mineira, os funcionários operam remotamente tratores e caminhões há mais de 100 km de distância.
“Em 2019, a Vale começou a procurar tecnologias para poder acessar essas estruturas remotamente. Então, nós desenvolvemos tecnologia, junto a fornecedores de equipamentos, para criar ferramentas que pudessem acessar as estruturas de forma remota. Há um ambiente em que os funcionários e operadores são treinados e capacitados para operar e controlar os equipamentos daqui. Então, as pessoas não estão lá. Algumas das nossas obras são feitas a quilômetros de distância do local e os operadores controlando o trabalho a distância, com câmeras e joysticks, além de caminhões e tratores que são controlados remotamente. Temos também drones que apoiam o trabalho e uma série de tecnologias que foram implementadas após 2019, que ajudam muito na redução da exposição ao risco e a fazer obras cada vez mais seguras. Com um nível de inovação que até então não existia”, relata Rafael Bittar.
Centro de Operações Remotas
O operador de caminhão, Igor Malagole, diz que tem total controle do veículo e consegue ficar afastado de problemas como risco de poeira, vibrações do equipamento e risco de acidentes. “É como se estivesse lá. A diferença é que eu não tenho a mesma sensibilidade do equipamento e do barulho, mas ao meu ver é como se eu estivesse nele. Hoje é bem melhor, pois não tem a questão da poeira, então não há o risco de respirarmos poeira na obra. Também nos dá mais segurança para a integridade física, caso aconteça algum acidente”, conta o operador de caminhão.
O operador de caminhão, Igor Malagole, controlando uma máquina remotamente
Aumento da empregabilidade
A instrutora de capacitação técnica de operação remota da Vale, Kenia Mara, conta que a utilização da tecnologia também abriu mais possibilidades de emprego. “Hoje a gente tem pessoas na operação que não possuem experiência no tripulado, que nunca dirigiram. Então, temos também operadores que são PDCs, que aprenderam a operar nessa nova forma, e que se fosse dentro do equipamento teriam limitações”, destaca.
Instrutora de capacitação técnica de operação remota da Vale, Kenia Mara
Tecnologia nos processos de filtragem
Já a Itaminas investiu quase R$ 500 milhões no processo de filtragem. Quatro filtros foram adquiridos para retirar água dos rejeitos de minério e colocar em prática o empilhamento a seco, técnica que dispensa as antigas barragens de rejeitos e garante mais segurança ao processo. Considerados um dos maiores da América Latina, os equipamentos têm capacidade de filtrar 10 mil toneladas de rejeitos por dia. O presidente da Itaminas, Thiago Toscano, afirma que a empresa já está com toda a operação atuando com o novo modelo.
Presidente da Itaminas, Thiago Toscano
“A Itaminas tem duas barragens, que chamamos de B1 e B2. Todas descomissionadas, não tem operação e não oferecem risco para a população, mas ainda precisam passar pelo processo de descaracterização, que depende de aprovação dos órgãos reguladores. Esse processo demora no mínimo dois anos, então esperamos que até o final de 2027 não tenhamos mais operações com barragens. Na prática, já não temos barragens. Nossas barragens eram de linha de centro, que era considerada mais segura, mas hoje paramos 100% com empilhamento a seco, usando filtragem de rejeito. Os processos evoluíram, a tecnologia evoluiu e atualmente é mais barato ter esses processos do que uma barragem. Quando ele pode ser disposto, inclusive em cava, não tem nenhum risco de deslizamento. Por exemplo, na Itaminas, a gente está dispondo dentro de uma cava, ela vai subindo, depois ela passa da altura, começa a ficar mais alta, mas, se eventualmente acontecesse alguma coisa, estaria numa região muito mais restrita e não teria um risco de um desastre como os que aconteceram”, conta Thiago Toscano
A água que é extraída dos rejeitos de minério ainda é reaproveitada nas instalações da empresa, como detalha o gerente de processo de filtragem da Itaminas, Jonatan Izidro.
Gerente de processo de filtragem da Itaminas, Jonatan Izidro
“Antes lançávamos esse rejeito todo para a barragem, paramos com isso em 2021. Esse rejeito hoje é direcionado para os espessadores, que fazem a separação do sólido e líquido. Conseguimos, hoje, clarificar essa água e recuperar 38 mil metros cúbicos de água/dia para fazer o reaproveitamento em outros processos a úmida. O processo de filtragem sai com 16 de umidade. Depois a gente leva esse material para o empilhamento, que fica dois dias perdendo umidade para chegar a 14. A Itaminas leva 48 horas para fazer o empilhamento, dentre as outras ganjas que levam oito, sete a seis dias, a Itaminas está em primeiro lugar no quesito de empilhamento a seco”, revela Jonatan Izidro.
Situações das barragens em Minas Gerais:

Araxá
Mosaic Fertilizantes P&K Ltda
Barragem B5

Barão de Cocais
Vale S.A.
Barragem Sul Superior

Brumadinho
Mineração Geral do Brasil
Barragem B1

Brumadinho
Mineração Geral do Brasil
Barragem B2

Brumadinho
Mineração Geral do Brasil
Barragem B2

Congonhas
CSN Mineração S.A.
Barragem B4

Congonhas
Vale S.A.
Baixo João Pereira

Fortaleza de Minas
Serra da Fortaleza Mineração S.A.
Barragem de Rejeitos Dique 2

Igarapé
Mineração Morro do Ipê S.A.
Barragem B1 Auxiliar

Igarapé
Mineração Morro do Ipê S.A.
Barragem B2

Itabira
Vale S.A.
Diques da Barragem do Sistema Pontal

Itabira
Vale S.A.
Diques 1A/1B – Conceição

Itabira
Vale S.A.
Barragem de Ipoema

Itabirito
Herculano Mineração Ltda
Barragem B1

Itabirito
Minar Mineração Aredes
Dique 02

Itabirito
SAFM Mineração Ltda
Barragem Central

Itabirito
SAFM Mineração Ltda
Barragem de Aredes

Itatiaiuçu
Usiminas S.A.
Barragem Central

Itapecerica
Nacional de Grafite
Barragem B4

Itatiaiuçu
ArcelorMittal Brasil S.A.
Barragem Serra Azul

Itatiaiuçu
Minerita Minérios Itaúna Ltda
Barragem B1/B3

Mariana
Samarco Mineração S.A.
Barragem de Germano / Cava do Germano

Mariana
Vale S.A.
Barragem de Xingu

Mariana
Vale S.A.
Barragem de Campo Grande

Nazareno
AMG Brasil S.A.
Barragem Volta Grande 2

Nova Lima
Vale S.A.
Barragem B3/B4

Nova Lima
Vale S.A.
Barragem Vargem Grande

Nova Lima
Vale S.A.
Dique Auxiliar – Barragem 5MAC

Ouro Preto
CSN Mineração S.A.
Barragem do Vigia

Ouro Preto
CSN Mineração S.A.
Barragem Auxiliar do Vigia

Ouro Preto
Gerdau Açominas S.A.
Barragens dos Alemães

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem Forquilha I

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem Forquilha II

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem Forquilha III

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem Grupo

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem de Doutor

Ouro Preto
Vale S.A.
Barragem Área IX

Poços de Caldas
Alcoa Alumínio S.A.
Barragem ARB1

Poços de Caldas
Alcoa Alumínio S.A.
Barragem ARB3

Poços de Caldas
Alcoa Alumínio S.A.
Barragem ARB6

Poços de Caldas
Alcoa Alumínio S.A.
Barragem ARB7

Rio Acima
Minérios Nacional S.A.
Barragem B2 Auxiliar

Rio Acima
Minérios Nacional S.A.
Barragem B2

Sarzedo
Itaminas S/A
Barragem B1