O governo de Nicolás Maduro promove, no próximo dia 3 de dezembro, um plebiscito para a população da Venezuela decidir se apoia anexar uma região de Essequibo, que pertence atualmente à Guiana, ao seu território nacional. A iniciativa aumentou as tensões políticas na América do Sul nos últimos dias.
Cerca de 125 mil habitantes da região também se tornaram cidadãos venezuelanos caso o referendo seja aprovado. O governo Maduro pretende criar o estado chamado de “Guiana Essequiba” para anexar a área.
A região de Essequibo abrange uma área de 160 mil km² e representa metade do território da Guiana.
Toda a população maior de 18 anos da Venezuela foi convocada a participar do ensaio geral do referendo no último domingo (19). As autoridades, no entanto, não divulgaram os resultados da consulta.
“A simulação foi um sucesso” disse aos jornalistas o vice-presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Carlos Quintero, que convocou a população a “sair para votar em defesa do interesse nacional”.
DISPUTA HISTÓRICA
O território do Essequibo está em disputa entre os países desde o século XIX, quando a Guiana ainda era uma colônia britânica. Todos os governos venezuelanos reivindicaram a região ao longo do tempo e já tiveram o apoio dos EUA para tirar a terra da Inglaterra, em 1841. A disputa pela região é histórica, mas voltou à tona após a descoberta de campos de petróleo na região, em 2015. As negociações entre a Guiana com a petrolífera norte-americana ExxonMobil para exploração dos poços foi o estopim para o conflito com a Venezuela.As jazidas de petróleo aumentaram as reservas da Guiana em pelo menos 10 bilhões de barris, superando as de Kuwait e Emirados Árabes, e foi responsável pelo crescimento significativo do seu PIB (Produto Interno Bruto).
A Guiana se baseia em um laudo arbitral de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras entre os países, para assumir a região de Essequibo.
A Venezuela, por outro lado, reivindica o Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido, antes da independência da Guiana, no qual o laudo arbitral foi anulado.
A disputa esta na ONU, no âmbito da Corte Internacional de Justiça (CIJ), desde 1982. No entanto, a jurisdição do Tribunal de Haia é rejeitada pelo Estado venezuelano.
AMEAÇAS E NEGOCIAÇÃO
O presidente da Guiana, Irfaan Ali, classifica a iniciativa de Maduro como uma “uma ameaça para a paz e a segurança na América Latina e no Caribe”. E pediu “sensatez” ao povo venezuelano.O presidente guianês disse que já conversou sobre este assunto com “parceiros estratégicos”, incluindo membros do Conselho de Segurança da ONU - em referência aos Estados Unidos, um dos principais inimigos do governo Maduro.
“Falou o empregado belicista da ExxonMobil (...) para ameaçar a Venezuela”, disse na rede social a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, em resposta às declarações de Ali.
“NÃO PROVOQUEM A VENEZUELA! Não temos medo de seus amos imperiais, dos quais herdou grosseira arrogância. O sr. Irfaan já proferiu sentença contra a Venezuela. E agora pretende amedrontar nosso povo com seus chefes militares do Comando Sul. Em 3 de dezembro haverá referendo e em 4 de dezembro continuaremos livres e independentes! O sol da Venezuela nasce no Esequibo!”, publicou Rodríguez.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, propôs uma reunião com Ali, que se declarou disposto a manter conversas com o “vizinho”, mas ressaltou que a controvérsia deve ser resolvida na ONU.
* com informações da AFP