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Caminhões de ajuda entram em Gaza e ONU pede ‘cessar-fogo humanitário’

ONU insisti na necessidade de enviar combustível a Gaza, um produto vital para o funcionamento dos hospitais no território em que vivem 2,4 milhões de habitantes

Um primeiro comboio de ajuda humanitária entrou neste sábado (21) na Faixa de Gaza, onde centenas de milhares de pessoas precisam desesperadamente de assistência, horas antes de a ONU pedir um “cessar-fogo humanitário” do conflito, que começou há duas semanas com o violento ataque do movimento palestino Hamas contra Israel.

Correspondentes da AFP observaram que os primeiros 20 caminhões passaram pelo posto de Rafah, na fronteira com o Egito, e entraram na Faixa de Gaza, um enclave palestino que está cercado desde que Israel declarou guerra ao grupo islamista Hamas, que governa o território.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu um “cessar-fogo humanitário” para “acabar com o pesadelo” durante uma “Cúpula da Paz” no Cairo, que tem a participação de políticos e ministros das Relações Exteriores de países árabes e países ocidentais, assim como da União Europeia, em contraste com a decisão do governo dos Estados Unidos de enviar um representante de menor escalão.

A ONU insistiu na necessidade de enviar combustível a Gaza, um produto vital para o funcionamento dos hospitais no território em que vivem 2,4 milhões de habitantes, que também precisam de água e energia elétrica.

O governo dos Estados Unidos celebrou o início da entrada de ajuda. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, pediu a todas as partes que mantenham “aberta a passagem da fronteira de Rafah para permitir a entrega contínua de ajuda que é imprescindível para o bem-estar da população de Gaza”.

O posto de Rafah, no entanto, voltou a ser fechado logo após a passagem dos caminhões, relataram testemunhas à AFP.

O Hamas executou um ataque violento a partir da Faixa de Gaza contra o território israelense em 7 de outubro, uma ofensiva que matou mais de 1.400 pessoas, a maioria civis, que foram baleados, queimados vivos ou mutilados, segundo as autoridades de Israel.

Os bombardeios de represália de Israel contra o enclave palestino provocaram as mortes de pelo menos 4.385 pessoas, em sua maioria civis, segundo um balanço atualizado divulgado pelo Ministério da Saúde do Hamas, que controla o território desde 2007.

Israel afirma que matou pelo menos 1.500 combatentes do grupo islamista na contraofensiva para recuperar o controle das zonas invadidas pelos milicianos no sul do país.

Ao menos 17 funcionários da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) estão entre os mortos em Gaza, lamentou neste sábado o comissário-geral do organismo, Philippe Lazzarini.

‘Não vamos embora’

Com o início da terceira semana de conflito, as organizações humanitárias apoiam o apelo de Guterres por um aumento de ajuda.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, saudou o “primeiro passo para aliviar o sofrimento de pessoas inocentes” em Gaza.

Mais de 100 caminhões com ajuda humanitária aguardam há vários dias do lado egípcio uma autorização para entrar na Faixa de Gaza, assim como dezenas de pessoas com passaportes estrangeiros esperam do lado palestino a oportunidade de entrar no Egito.

A ONU também reiterou o apelo por uma “libertação imediata e incondicional” de todas as pessoas sequestradas pelo Hamas, depois que duas reféns americanas, mãe e filha, foram liberadas na sexta-feira com a mediação do governo do Catar.

O movimento palestino mantém mais de 200 pessoas em cativeiro.

Os esforços diplomáticos para evitar uma escalada regional são cada vez mais intensos. O rei da Jordânia Abdallah II, o presidente da Autoridade Palestina Mahmud Abbas, reunidos na “Cúpula da Paz”, pediram um “cessar-fogo” entre Israel e Hamas, assim como uma “solução” para os 75 anos de conflito israelense-palestino.

Na sexta-feira, dezenas de milhares de pessoas participaram em manifestações de apoio aos palestinos em países árabes e muçulmanos.

“Não vamos embora” das terras palestinas”, declarou Abbas, uma posição apoiada por Egito e Jordânia, em resposta à fuga dos habitantes de Gaza para o sul do território após as advertências de Israel.

Ao menos um milhão de moradores de Gaza foram deslocados fugiram de suas casas no território para fugir dos bombardeios, segundo a ONU.

‘Segunda Nakba’

As tropas israelenses continuam concentradas ao redor de Gaza em preparação para uma ofensiva terrestre. O ministro da Defesa, Yoav Gallant, estabeleceu como objetivo da guerra “encerrar as responsabilidades” de Israel em Gaza.

Entre os possíveis cenários, Israel considera “entregar as chaves” da Faixa de Gaza a um terceiro país, como o Egito, informou à AFP uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.

“Tenho medo (...) de que isto provoque uma segunda Nakba” (catástrofe em árabe), afirmou, em Gaza, Omar Ashur, general da reserva, em referência à expulsão de quase 760.000 palestinos após a criação do Estado de Israel em 1948.

“Tudo desapareceu (...) Mas não abandonaremos a nossa terra”, disse Rami Abu Wazna entre os escombros da localidade de Al Zahra, na Faixa de Gaza.

O governo dos Estados Unidos mobilizou dois porta-aviões no Mediterrâneo leste para dissuadir possíveis ações do Irã ou do grupo libanês Hezbollah, ambos aliados do Hamas.

Na madrugada de sábado, o Exército israelense anunciou que atacou alvos do Hezbollah no sul do Líbano, área que está sendo abandonada por seus moradores devido aos confrontos.

A tensão também é elevada na Cisjordânia ocupada, onde mais uma pessoa morreu durante a noite em confrontos com o Exército israelense perto de Jericó. Ao menos 84 palestinos faleceram desde o início da guerra na Cisjordânia, segundo o Ministério palestino da Saúde.

AFP
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