“Não consigo respirar”. Há exatos cinco anos, George Floyd, de 46 anos, disse suas últimas palavras após ser assassinado sobre o asfalto de Minneapolis, nos Estados Unidos. Genivaldo de Jesus Santos, de 38, foi morto em 25 de maio de 2022 ao ser trancado em uma viatura em abordagem truculenta da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Umbaúba (SE).
Neste 25 de maio, a reportagem da Itatiaia conversou com Cristiano Rodrigues, professor do Departamento de Ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre os efeitos do movimento “Black Lives Matter” após cinco anos, o avanço do debate racial e, consequentemente, a forte onda contrária.
“A partir do assassinato George Floyd e os eventos que se seguiram, o debate antirracista se tornou um debate internacionalizado e acabou influenciando muitos outros ao redor do mundo. Por um lado, o próprio governo norte-americano tomou algumas medidas positivas em relação à luta antirracista. Mas, por outro lado, sofremos com um efeito colateral: uma reação muito forte a esse debate”, aponta.
Luta contra o racismo retrocede nos EUA
“O debate mais contrário a luta contra o racismo que a gente pode observar é o que tem acontecido hoje na Flórida. O governador tem agido com várias medidas contra a luta antirracista”, exemplifica Rodrigues. No início do ano, o governador da Flórida Ron DeSantis, proibiu o ensino de estudos afro-americanos no ensino médio de escolas públicas por considerar que o curso avançado viola a lei estadual e “não tem valor educacional”. Ele também assinou a lei “Stop Woke” que significa “alerta ao preconceito e discriminação racial”.
Ontem (24), Ron DeSantis anunciou a pré-candidatura à Presidência pelo Partido Republicano e pode disputar com Donald Trump a indicação do partido em 2024.
“É importante destacar que a Suprema Corte (mais alta instância da Justiça) norte-americana está próximo de revisar políticas de ação afirmativa para ingresso de pessoas negras e não brancas nas universidades”, lamenta.
Em novembro do ano passado, a Suprema Corte dos Estados Unidos ouviu os argumentos que podem mudar a maneira como as universidades americanas selecionam os alunos. Os autores dos processos alegam que as ações ‘prejudicam’ estudantes brancos.
No Brasil
No Brasil, o caso de Genivaldo de Jesus Santos, de 38, que morreu após uma abordagem de policiais rodoviários federais no município de Umbaúba, no sul do estado de Sergipe, horrorizou o país. Ele foi abordado pelos agentes William de Barros Noia, Kleber Nascimento Freitas e Paulo Rodolpho Lima Nascimento por não usar capacete enquanto dirigia uma motocicleta.
Ele foi trancado na viatura e submetido a jatos de spray de pimenta e a gás lacrimogêneo - que provocaram o sufocamento.
“É impossível pensar a violência policial contra negros sem pensar também uma nova política. Precisamos debater guerra às drogas que aprisiona negros e gera violência nas periferias. Precisamos de políticas de emprego e renda, saúde ou acesso à educação. Esse é um tema que precisa transitar de maneira interdisciplinar e interministerial”, afirma o pesquisador.