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Irã: protestos continuam e governo aumenta pressão sobre jornalistas

Os protestos começaram quando uma jovem de 22 anos foi presa e morta pela ‘polícia moral’ por usar “roupas inapropriadas”

Mulheres saíram às ruas na última semana para protestar contra assassinato de Masha Amini

O Irã aumentou a pressão sobre celebridades e jornalistas nesta quinta-feira (29), após a onda de protestos organizados pela morte da jovem Mahsa Amini, sob custódia da polícia da moral.

“Vamos agir contra os famosos que sopraram as brasas” dos “distúrbios”, disse o governador da província de Teerã, Mohsen Mansouri, citado hoje pela agência de notícias Isna.

Há poucos dias, o ministro da Justiça iraniana, Gholamhossein Mohseni Ejei, também emitiu uma advertência semelhante contra aqueles que “se tornaram famosos, graças ao apoio do nosso sistema [...] [e] se juntaram ao inimigo”.

As advertências vieram quase duas semanas depois de uma onda de protestos duramente reprimida eclodir no Irã pela morte de Mahsa Amini. Cineastas, atletas, músicos e atores apoiaram as manifestações.

Amini, uma curda de 22 anos, morreu em 16 de setembro, três dias depois de ter sido presa pela polícia da moral, que vigia - entre outros - o cumprimento do rigoroso código de vestimenta para as mulheres na República Islâmica.

“Mulher, vida, liberdade!”, gritam os manifestantes desde então, nas maiores manifestações neste país em quase três anos. Muitas manifestantes desafiaram o poder, queimando seus lenços ou cortando os cabelos.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, alertou que, apesar da “dor e da tristeza” causadas pela morte de Amini, a segurança pública "é a linha vermelha da República Islâmica do Irã, e ninguém está autorizado a violar a lei e provocar o caos”.

“Não à ditadura”

Manifestações de solidariedade às mulheres iranianas foram organizadas em todo o mundo nos últimos dias e, para este sábado, foram convocados protestos em 70 cidades.

Na capital afegã, Cabul, cerca de 25 mulheres protestaram em frente à embaixada iraniana nesta quinta-feira, segurando faixas que diziam “O Irã se levantou, agora é a nossa vez”, ou “De Cabul ao Irã, diga não à ditadura”.

O protesto durou cerca de 15 minutos, até que as forças de segurança do Talibã dispersaram a multidão disparando tiros para o ar, observou um correspondente da AFP.

Também em Istambul, cerca de 100 pessoas se reuniram em frente ao consulado iraniano, no bairro conservador de Faith.

“Mesmo os que fugiram para outro país vivem com medo. Olha, todo mundo usa óculos escuros e máscara”, disse uma das participantes, Rara, de 27 anos, que preferiu não divulgar seu sobrenome.

Em Oslo, duas pessoas ficaram feridas e cerca de 90 foram presas na quinta-feira durante confrontos em um protesto perto da embaixada iraniana, disse a polícia norueguesa.

Jornalistas presos

Nesta quinta, as forças de segurança iranianas prenderam a jornalista Elahe Mohammadi, que cobriu o funeral de Amini, informou sua advogada.

A polícia também prendeu a jornalista Nilufar Hamedi, do jornal reformista Shargh, que foi até o hospital em que Amini estava internada em coma e que ajudou a imprensa internacional a espalhar a notícia.

O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) anunciou que outros três repórteres, Farshid Ghorbanpour, Aria Jaffari e Mobin Balouch, foram detidos, elevando para 28 o total de jornalistas presos.

A Guarda Revolucionária iraniana também prendeu 50 membros de uma “rede organizada” que, segundo eles, estava por trás dos “distúrbios” na cidade de Qom (norte), informou a agência de notícias Fars.

Por sua parte, ONG Anistia Internacional acusou a polícia iraniana, por sua vez, de usar munição real e balas de borracha, de agredir manifestantes e de violência contra as mulheres, tudo isso “junto aos cortes deliberados da Internet e da rede de telefonia móvel”.

Segundo a agência Fars, “cerca de 60" pessoas teriam morrido nos protestos, mas a ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo, aponta que o balanço seria de pelo menos 76 mortes.

Pressão para impor sanções

Atribuindo as manifestações a forças exteriores, o Irã realizou na quarta-feira bombardeios que deixaram 13 mortos na região do Curdistão iraquiano, acusando os grupos armados anti-regime baseados naquela região de alimentar os distúrbios.

Um cidadão americano morreu nesses bombardeios, informou o Departamento de Estado.

Nesta quinta-feira, o Irã criticou a “interferência” da França em seus assuntos internos depois que Paris emitiu um comunicado de apoio aos protestos, em uma denúncia similar à expressa anteriormente sobre Reino Unido e Noruega.

Enquanto isso, a ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, disse que está fazendo “todo o possível” para que a União Europeia aplique sanções contra aqueles que “espancam mulheres até a morte no Irã e atiram em manifestantes em nome da religião”.

AFP
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