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Você sabia que tapa na cara virou esporte? Conheça o polêmico Power Slap

Competição tem presidente do UFC como padrinho, mas é criticada por médicos por conta da agressividade

Nate Burnard derrotou Stevie Ray Payne na terceira edição do Power Slap, em julho deste ano

Já pensou ser pago para receber (e dar) tapas na cara? Essa é a proposta do Power Slap, campeonato de tapas no rosto que tem como objetivo premiar o atleta mais resistente e também mais forte no quesito.

O Power Slap foi criado em 2022 pelo empresário estadunidense Dana White. O também presidente do Ultimate Fighting Championship (UFC), principal organização das Artes Marciais Mistas (MMA), observou alguns torneios de tapas no rosto realizados em países como Polônia e Rússia e decidiu lançar a modalidade como esporte em um torneio com regras, árbitros, categorias e transmissões.

No embate em um contra um, vence o lutador que mais aguentar os golpes e não desmaiar na disputa. Contudo, para organizar o campeonato, Dana White precisou reconhecer legalmente a luta como um esporte e realizá-la no estado de Nevada, nos Estados Unidos.

“Estou muito ansioso pelo lançamento da Power Slap. Tenho trabalhado nisso desde 2017. Eu vi algumas gravações de tapa na cara nas redes sociais e fiquei instantaneamente viciado”, disse Dana White, ao lançar o Power Slap no ano passado.

“Desde o primeiro dia que vi, senti que poderia ser algo grandioso. Sei o que precisaria ser feito para tornar isso um esporte real, assim como fizemos com o MMA. Fomos sancionados pela Comissão Atlética do Estado de Nevada (NSAC) com regras definidas, rankings e divisões de peso. A Power Slap é construída para os fãs modernos de esportes”, completou.

O criticado esporte

No Power Slap, os golpes são dados de forma revezada. Cada lutador bate no rosto do outro com a mão aberta, e o golpeado tem até um minuto para se recuperar e golpear o oponente.

Descumprimento de regras e decisões dos juízes também podem definir uma luta. Apesar do otimismo de White, o esporte é criticado por riscos à saúde.

O médico estadunidense Chris Nowinski, ex-lutador de luta greco-romana e diretor-executivo da Concussion Legacy Foundation chamou, em entrevista à Associated Press (AP), a luta de tapas como “uma das coisas mais estúpidas que você pode fazer”.

“Não há nada divertido, não há nada interessante e não há nada esportivo. Eles estão tentando disfarçar uma atividade realmente estúpida para tentar ganhar dinheiro”, completou.

Nowinski ainda foi além e defendeu outras lutas, como o boxe, em comparação com o Power Slap. “Você pode escapar de socos (...) você está tirando tudo o que é interessante de assistir e tudo que é esportivo (do boxe) e apenas fazendo a parte do dano cerebral”.

Os eventos da Power Slap League contam com um médico supervisor e um médico ou assistente médico, além de três paramédicos e três ambulâncias. Apesar disso, a Associação de Lesões Cerebrais da América (BIAA) também divulgou nota contra o evento de tapas.

“Pela natureza das regras deste evento, que estipulam que os participantes não estão autorizados a defender golpes recebidos, você está permitindo uma situação em que os participantes sofram concussões repetidas para entretenimento. Não há esporte aqui”, escreveu a BIAA, em trecho da carta.

“Independentemente dos procedimentos em vigor para prevenir concussões após o fato, muitos na comunidade médica levantaram questões sobre como este esporte foi aprovado pela sua comissão”, completou.

Stephen Cloobeck, que presidiu a citada comissão de Nevada no outono de 2022, quando a luta foi legalizada no estado, afirmou que a decisão o incomoda. “Cometi um erro (...) Não estou feliz com isso”, afirmou, à AP.

Marketing

Dana White segue empenhado em levar o Power Slap à frente. O presidente do UFC chegou a inventar o Power Slap: Road to the Title, uma série televisiva para aproximar o público dos lutadores. Ele fez o mesmo com o UFC, ao criar no passado o The Ultimate Fighter (TUF) e o Dana White Contender Series.

Os lutadores podem receber de dois a dez mil dólares por luta, outro ponto criticado quando o assunto é o Power Slap. Os eventos do Power Slap são transmitidos ao vivo no Rumble, via streaming. Há trechos também nos canais de YouTube do Power Slap e do UFC. A Power Slap League vai para a quinta edição, em outubro.

Matheus Muratori é jornalista multimídia com experiência em muitas editorias, mas ama a área esportiva. Faz cobertura de futebol, basquete, vôlei, esportes americanos, olímpicos e e-sports. Tem experiência em jornal impresso, portais de notícias, blogs, redes sociais, vídeos e podcasts.