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Espanha x Brasil: o que o árbitro fará se Vini Jr sofrer racismo em amistoso

Protocolo da Fifa deverá ser seguido nesta terça (26), em Madri; há receio de que partida com campanha antirracista tenha insultos ao atacante

Vini Jr. em treino no complexo do Real Madrid antes de jogo da Seleção Brasileira

Há apreensão na cúpula da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) de que o amistoso entre Espanha e Brasil, nesta terça-feira (26), tenha atos racistas direcionados a Vinícius Júnior. O jogo tem como mote uma campanha antirracista em apoio ao atacante.

António Nobre, árbitro português que apitará a partida, está orientado a seguir os protocolos da Fifa em caso de cânticos racistas. Ele, primeiro, deve interromper o jogo e solicitar que se peça pelos alto-falantes e telões do estádio a interrupção das injúrias. Se os insultos não pararem, o confronto é suspenso por alguns minutos e pode até ser encerrado definitivamente.

A CBF informou que uma equipe da organização FARE Network irá acompanhar a partida no Santiago Bernabéu para fiscalizar possíveis atos racistas. Inspetores da organização poderão ser consultados antes, durante e depois do jogo e irão avaliar e interpelar cantos, faixas ou símbolos discriminatórios que podem vir a acontecer.

A FARE, abreviatura em inglês que significa “Futebol Contra o Racismo na Europa”, é uma rede de entidades que atua há mais de 20 anos no combate ao racismo no Velho Continente. A organização está presente em mais de 40 países, sendo responsável pelo monitoramento de casos de discriminação nas principais ligas europeias e nas competições da Uefa e da Fifa.

O fato de a partida ser no estádio Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, clube no qual joga Vinícius Júnior, é um fator que pode ajudar a evitar possíveis atos racistas. Mas há alerta por causa da entrevista coletiva de Vini na tarde de segunda-feira (25), na qual falou abertamente sobre o racismo que sofre na Espanha.

Ele chorou bastante, disse que tem momentos que pensa em parar de jogar e que não considera a Espanha um país racista, mas no qual vivem alguns racistas. A repercussão em redes sociais após a publicação das frases por parte da imprensa espanhola, com posts de ódio, assustou os organizadores do amistoso, que agora temem reações dentro do estádio.

Amistoso de combate ao racismo

CBF e a Federação Espanhola marcaram o encontro em junho de 2023, com o tema antirracista, um mês depois de que o jogo Valencia x Real Madrid no estádio Mestalla, em Valencia, pela La Liga (o Campeonato Espanhol), foi paralisado após boa parte dos torcedores no estádio chamarem Vini de macaco.

Até mesmo quando o Real não está em campo o jogador é vitima de insultos racistas. Recentemente, antes de uma partida do Atlético de Madrid, pela Liga dos Campeões da Europa, homens foram flagrados chamando Vini de macaco.

“Estou cada vez mais triste. O que passo a cada jogo, a cada dia, não é fácil. E não sou só eu que passa por isso, são todos os negros na Espanha, e não só na Espanha, no mundo todo. O racismo verbal que eu sofro é o de menos perto do que todo negro sofre no mundo. De não conseguir entrar em um lugar, de ser perseguido porque acham que você vai roubar [racismo estrutural]. Meu pai sofreu isso, entre um branco e um negro para um emprego, o escolhido era o branco. Estou aqui lutando, tentando, não por mim. Se fosse só por mim eu já teria desistido, ficaria em casa que não tem agressão, ninguém me xinga”, disse Vinícius Júnior na segunda-feira (25).

Na imprensa espanhola, muitos jornalistas questionam o jeito de Vini Jr., considerado por eles provocativo, como desculpa para os crimes cometidos por torcedores no estádios espanhóis.

O atacante será o capitão da Seleção nesta terça-feira e os jogadores entrarão em campo com uma jaqueta preta com a frase ‘uma só pele, uma só identidade’ escrita na parte de trás.

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Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.