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Reforma do estatuto e lançamento da SAFiel agitam bastidores do Corinthians

Sequência de eventos movimentou os corredores do Parque São Jorge

Sede do Corinthians, no Parque São Jorge, em São Paulo

Por mais que a situação em campo esteja estabilizada, os bastidores do Corinthians pegam fogo. A apresentação do anteprojeto da reforma do estatuto, na segunda-feira (27), e o lançamento oficial da SAFiel, na terça (28), agitaram os conselheiros do clube.

A seguir, a Itatiaia traça um panorama e os desdobramentos dos episódios citados.

Romeu pressionado

Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo, foi alvo de questionamentos de conselheiros por conta do anteprojeto da reforma do estatuto, que será votado no próprio CD e, posteriormente, na Assembleia Geral.

A Itatiaia apurou que os dois principais pontos de crítica foram a adoção do voto aberto no Conselho para a reforma e o artigo que limita a contratação de parentes de conselheiros.

Romeu abordou a questão do voto aberto ao citar as propostas de inclusão do Fiel Torcedor nas eleições dos membros da diretoria.

“O voto será aberto e não vou recuar. Mesmo recebendo inúmeras pressões, é o preço do cargo que ocupo”, comentou.

O presidente também falou sobre a possibilidade de a Assembleia funcionar como uma espécie de segundo turno na votação, mesmo em caso de rejeição do texto pelo Conselho.

“Vamos buscar o entendimento para ver se o que está decidido no Conselho acabou ou se vai para a Assembleia. Normalmente, o que está no Conselho fica no Conselho. Mas vamos mudar a dinâmica. Queremos levar os blocos para a Assembleia. São assuntos extremamente relevantes. Quanto mais a gente deliberar na Assembleia, mais legítima é a decisão. A gente tem que criar um mecanismo para o Conselho entender a importância de levar essas decisões complexas para a Assembleia Geral decidir, como se fosse um segundo turno. Se o Conselho rejeitar, a gente tem que legitimar com a Assembleia Geral. É a minha opinião”, disse.

A reportagem ouviu que alguns conselheiros defendem o voto fechado por uma questão de segurança, especialmente diante da pressão da torcida.

Nem todas as votações no Conselho Deliberativo passariam a ser abertas. A decisão, a depender do tema, caberia ao presidente do órgão. Em contato com a Itatiaia, Romeu Tuma Júnior afirmou que, enquanto estiver no cargo, optará pelo voto aberto — com exceção das questões de processo ético-disciplinar — para evitar pressões e retaliações.

O artigo 126-A do documento, que trata do projeto de “Regulamento para Contratações de Serviços e Aquisições de Produtos”, estabelece restrições à contratação de parentes de conselheiros — tema que já gerou debate entre torcedores.

VIII – a vedação de contratação de pessoas físicas ou jurídicas que:
a) estejam em situação irregular com a Receita Federal, Previdência Social ou encargos trabalhistas;
b) possuam sócios, administradores ou dirigentes que integrem quaisquer Poderes do Clube, bem como parentes em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau.

A questão repercutiu entre integrantes do Conselho Deliberativo e intensificou a pressão sobre Romeu, que promete não ceder.

Alguns conselheiros entendem que Tuma se fechou durante a elaboração do anteprojeto, questionando o fato de não terem tido acesso prévio às possíveis mudanças. Pessoas do clube alegam que conheceram o documento pela imprensa.

Corinthians x SAFiel?

Quem também tem sido pressionado é Osmar Stabile, presidente da diretoria. Conselheiros aliados defendem que o clube não deve se envolver publicamente com a SAFiel, lançada oficialmente na última terça-feira (28). O mandatário, que era esperado, não compareceu ao evento realizado no Mercado Livre Arena Pacaembu.

Nelson Martins, integrante da chapa Valores 83, esteve presente no lançamento da SAFiel e revelou que Osmar, inclusive, foi pressionado para impedir a entrada dos líderes do projeto no Parque São Jorge.

“O Eduardo acabou de falar sobre trancar todo mundo em uma sala. Isso é uma utopia, jamais vai acontecer. Não deve acontecer por grande parte dos que estão no poder hoje. Vocês tinham até duas reuniões no Parque São Jorge. Uma na terça, com o grupo da Miriam Athie (conselheira), e outra com nosso grupo. Só nosso grupo tinha uma relação de mais de 100 sócios para ter informações. No último dia, liga o presidente para ela e para mim, e retirou a autorização para fazer o encontro no Parque São Jorge. Perguntei o porquê, e ele disse que estava sofrendo muita pressão. É complicado. Dizem que são corintianos, mas não podemos discutir sobre o Corinthians no Corinthians”, comentou.

A Itatiaia apurou que vários conselheiros questionam a viabilidade da SAFiel, no formato em que foi apresentada, e as intenções por trás dos líderes do projeto. O próprio Osmar Stabile, conforme apurou a reportagem, não se animou com o que ouviu no encontro com os idealizadores, entendendo não se tratar de algo viável.

A cúpula da SAFiel queria se reunir com Osmar e Romeu no Parque São Jorge, na última terça (28), para apresentar o projeto. O encontro acabou adiado por um desencontro de agendas, mas o documento já foi enviado por e-mail ao clube.

Romeu não se diz contrário à SAFiel, mas alega não ter recebido qualquer proposta oficial até a divulgação do anteprojeto da reforma do estatuto. Os líderes do movimento, por sua vez, afirmam que tentaram contato com o presidente do Conselho Deliberativo, mas não obtiveram retorno após um primeiro encontro de cerca de duas horas.

Os integrantes do projeto também consideram que o tópico que trata da SAF, no anteprojeto, inviabilizaria a adoção da SAFiel, já que o Timão manteria pelo menos 51% do capital social da eventual SAF.

“Em qualquer hipótese, é vedada a aquisição do controle majoritário da SAF por investidores externos, de modo a assegurar que a gestão e o controle institucional permaneçam sob responsabilidade dos associados, preservando-se a identidade, a tradição e a história do Sport Club Corinthians Paulista”, diz o item 3 do artigo 45.

“A gente teve pouco tempo pra analisar os aspectos. Recebemos um compilado dos principais pontos. Se o clube associativo quer ter a maioria das ações, ele dá o recado de que quer seguir no comando, não quer riscos. Infelizmente, o clube associativo foi o principal responsável por essa situação. Dificilmente um novo investidor chegaria com esse contexto”, disse Carlos Teixeira, um dos líderes da SAFiel.

O que é a SAFiel

O projeto, que propõe a transformação do Corinthians em uma SAF, prevê a formação de dois sócios: o próprio clube e uma empresa composta por torcedores que adquirirem ações.

“Nós queremos separar o futebol do clube associativo. O futebol passa a ser gerido como empresa, sem politicagem. Passa a ser administrado com cultura e método empresarial. Executivos em cargos-chave, com metas definidas e governança”, disse Carlos.

“A ideia é ser blindado contra pessoas mal-intencionadas. Conselhos independentes. Auditorias externas regularizarão as práticas, sem perder o caráter popular do clube”, comentou.

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A proposta prevê a divisão das ações do Corinthians em dois tipos: o primeiro com direito a voto; o segundo, sem.

Os idealizadores da SAFiel entendem que esse é um caminho inevitável para o Corinthians, que atualmente acumula uma dívida de R$ 2,7 bilhões.

Iúri Medeiros é formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Passou pela Gazeta Esportiva, onde estagiou e posteriormente cobriu o dia a dia do Corinthians. Além do noticiário do Timão, participou da cobertura de jogos de Palmeiras, Santos e São Paulo, além de eventos na capital paulista, como a São Silvestre. Na Itatiaia, acompanha Corinthians e Santos.