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Corinthians: economista alerta para desafios da SAFiel

Modelo proposto por investidores corintianos se inspira no Bayern de Munique e prevê captação de até R$ 2,5 bilhões para reestruturar o clube

Projeto da SAFiel foi lançado oficialmente nesta terça-feira (28)

Um grupo de investidores corintianos apresentou, na última terça-feira (28), o projeto SAFiel, que propõe a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol para ajudar o Corinthians a reorganizar suas finanças e modernizar a gestão. A proposta foi protocolada no Parque São Jorge para análise da diretoria do clube.

A ideia é que a SAFiel funcione como uma nova empresa, responsável exclusivamente pelas atividades do futebol — masculino, feminino e categorias de base —, separando essa operação da administração do clube social. O modelo tem como uma de suas inspirações o Bayern de Munique, referência mundial em governança e sustentabilidade financeira.

É justamente sobre essa necessidade de evolução estrutural que o economista Moises Assayag, sócio-diretor da Channel Associados e especialista em reestruturação financeira de clubes, faz um alerta.

“A nova instituição não deve ser uma simples continuação da estrutura anterior, no que toca aos modelos de gestão e de governança. Ao contrário, deve representar uma evolução corrigindo o que não deu certo e preservando o que funcionou”, afirma Assayag.

Segundo ele, o exemplo alemão mostra como é possível atrair capital sem perder identidade. No Bayern, 75% das ações pertencem aos próprios sócios (cerca de 300 mil ativos), e os outros 25% estão divididos entre três parceiros históricos: Adidas, Audi e Allianz.

“O Bayern é um exemplo relevante de atração de capital, na medida em que mantém, dentre os novos sócios, vínculos com a instituição — sejam de afiliação, no caso dos controladores, ou de parcerias estratégicas e históricas com o clube”, explica o economista, que já participou de processos de reestruturação em clubes como o Botafogo.

Assayag destaca ainda que transparência e alinhamento de objetivos são fatores indispensáveis para o sucesso do modelo. “Eles abriram à participação externa de maneira controlada. Patrocinadores, fornecedores e torcedores estão todos alinhados ao mesmo propósito e integrados ao modelo de gestão e de governança. E isso, em um ambiente estável e com visão de longo prazo como o alemão, é algo difícil de replicar”, completa.

No caso do Corinthians, o projeto SAFiel prevê a venda de ações no mercado, com direito a voto apenas para torcedores e limite máximo de 1,8% de poder por acionista, evitando concentração de controle. Os investidores institucionais poderiam participar, mas sem direito a voto.

A expectativa é captar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2,5 bilhões, valores que seriam destinados a quitar dívidas, modernizar estruturas e aprimorar a gestão. O clube social permaneceria independente e livre dos débitos, sendo sustentado por royalties pagos pela SAF. Hoje, o Corinthians tem uma dívida estimada em R$ 2,7 bilhões.

Desafios da SAFiel

“O desafio de fazer a SAFiel bem-sucedida é maior que o anterior porque passa pelo equilíbrio entre o que o modelo da SAF traz de novo e positivo versus o que o modelo atual associativo tem de bom e que irá se estender para dentro da SAFiel.

A SAFiel deve conter muita coisa do Corinthians atual mas não pode ser apenas uma extensão do modelo de governança ou de gestão atuais porque esses modelos não se mostraram adequados. Essa transição de modelos no Bayern foi suave, ainda que com o clube associativo permanecendo majoritário”.

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Comparação com Bayern de Munique

“Implementar o modelo tem o desafio de manter alinhados os interesses dos investidores. Ser torcedor do time é um ponto de alinhamento, mas atender as expectativas dos sub-grupos de investidores com relação tanto ao retorno como com relação à influência na gestão de cada grupo é relevante para o sucesso da implantação do modelo.

No modelo alemão, tanto econômico, como de sociedade em geral, o objetivo é sempre de longo prazo, quase de perenidade, que vai muito além da busca por resultados imediatos e em todos os anos. Isso alinha muito os interesses dos acionistas do novo modelo por lá, mas não é o caso aqui no Brasil, via de regra. Além disso, no clube alemão, os sócios hoje de fato são parceiros do históricos do clube, com um envolvimento prévio quase que de sócios de fato. Com a pulverização prevista entre torcedores e mesmo investidores institucionais torcedores, esse alinhamento e essa visão de longo prazo não estão garantidas automaticamente.”

Iúri Medeiros é formado em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Passou pela Gazeta Esportiva, onde estagiou e posteriormente cobriu o dia a dia do Corinthians. Além do noticiário do Timão, participou da cobertura de jogos de Palmeiras, Santos e São Paulo, além de eventos na capital paulista, como a São Silvestre. Na Itatiaia, acompanha Corinthians e Santos.