Em entrevista ao CNN Esportes SA na noite deste domingo (30), o técnico do
Jardim argumenta que o centro da discussão não deveria ser a qualidade ou o tipo do gramado em si, mas sim a uniformização das condições de jogo ao longo do campeonato.
“Eu acho que estamos a ir pelo caminho errado. Porque quando falamos em uniformização de gramados, não é isso que estamos a conversar e a debater. O que estamos a debater é que uma liga profissional deve ser jogada nos mesmos tipos de gramados durante todo o campeonato. É isso que estamos a discutir.”
Para o português, o Brasil precisa se espelhar nas principais ligas europeias, onde a adoção de gramados sintéticos nos estádios da elite é restrita ou inexistente.
“Se é sintético, se é um sintético bom, se é um sintético gasto, se é relvado natural… Eu acho que o debate não é esse. O debate é: por exemplo, na Inglaterra é permitido sintético? Não. Espanha permite sintético? Não. Alemanha permite sintético? Itália permite sintético? Não. Portugal permite sintético? Não. França permite sintético? Hoje não sei, mas no meu tempo permitia.”
Jardim reforça que, antes de qualquer modernização, a liga precisa decidir qual padrão deseja adotar.
“A gente tem que tomar uma decisão sobre o que queremos fazer. Seja um tipo de piso só, seja qual for, mas que exista um padrão para que a liga tenha um padrão.”
“Praticamente uma piscina”: jogo contra o Vitória é citado como exemplo
O treinador também relembrou um episódio que o marcou nesta temporada: a partida contra o Vitória, disputada sob forte chuva e com o gramado em condições que ele classificou como impraticáveis.
“Por exemplo, este ano joguei um jogo que me deixou extremamente surpreendido: era praticamente uma piscina. Um jogo no 0 a 0, contra o Vitória, piscina. Tivemos a ‘felicidade’ de que só um jogador partiu a perna; poderiam ter sido dois ou três, e todas as pessoas acharam aquilo muito normal. Numa liga, aquilo não seria permitido.”
Segundo Jardim, ele chegou a sugerir ao empresário Pedro Lourenço, o Pedrinho, que a partida fosse suspensa.
“Eu até disse ao Pedrinho, que estava comigo: ‘Bem, vamos embora porque não vai haver jogo.’ E ele respondeu: ‘Não, aqui no Brasil tudo é permitido.’ Eu disse: ‘Pronto, ok, vamos para o jogo.’ E houve só um que partiu a perna. Graças a Deus não foram mais.”
Preocupado especialmente com a integridade física dos atletas, o técnico lamentou que decisões como essa deixem de levar em conta as consequências para os jogadores.
“Mas o rapaz que partiu a perna… agora ninguém está a pensar na carreira dele, não é? Mas a pessoa que decidiu que podíamos jogar numa situação daquelas… é o futebol. É por isso que eu digo que temos de ter um padrão de decisão.”