O Cruzeiro vive um drama a seis rodadas do fim do Campeonato Brasileiro. Na 17ª posição, com 37 pontos, o time parece não ter forças para reagir e evitar o segundo rebaixamento dos seus 102 anos. Neste domingo (12), a diretoria anunciou a demissão do técnico Zé Ricardo, que teve 36,66% de aproveitamento em dez partidas.
Na visão de João Vítor Xavier, apresentador do programa Bastidores, da Itatiaia, a SAF de Ronaldo conseguiu grandes resultados na área administrativa sob a batuta do CEO Gabriel Lima, mas acumula erros na gestão do departamento de futebol.
“O time do Ronaldo da Espanha já caiu, e o time dele do Brasil está na bica de cair. Tem um risco grande de cair. Não é possível que não haja por parte do Cruzeiro uma análise mínima de que o departamento de futebol do grupo Ronaldo está vivendo com algum problema. Não é possível achar que isso tudo é normal”, disse.
“O Cruzeiro teve para este ano uma condição muito diferente da condição do ano passado. O Cruzeiro tem orçamento de Série A, o Cruzeiro teve aporte de um investidor de mais de R$ 100 milhões, a dívida do Cruzeiro foi redimensionada e muito bem discutida por uma Recuperação Judicial, que alongou a dívida por 18 anos, com um deságio de alguns credores de até 75%. Então, não é possível que haverá, por parte do Cruzeiro, um mea-culpa de entender que o departamento de futebol não está funcionando. Um time já caiu na Espanha e o outro, do Brasil, está prestes a cair. Se os caras continuarem achando que está tudo certo, você está caminhando em direção ao buraco e vai acelerar o carro”, emendou João Vítor.
Silêncios em momentos importantes
O apresentador lembrou que, no decorrer do ano, o diretor de futebol Pedro Martins se calou em momentos importantes, como na saída de Paulo Pezzolano, na demissão de Pepa e na queda de rendimento do time nesta reta final de Brasileiro sob o comando de Zé Ricardo.
“A gestão de futebol do Cruzeiro é uma coisa inacreditável. O Pezzolano cai e não tem ninguém pra falar. O Pepa cai e não tem explicação. O time está caindo para a segunda divisão e ninguém abre a boca. Tem muito o que se falar. (...) O Gabriel (Lima, CEO) está certíssimo sobre o que ele falou ontem (sobre a invasão de campo em Curitiba e consequências para o clube), mas ele precisa se abrir para responder perguntas. Ele deve ao torcedor do Cruzeiro explicações”, acrescentou.
‘Ronaldo dentro de uma bolha’
João Vitor Xavier vê ainda que Ronaldo está mal assessorado no se que se refere ao maior envolvimento com o Cruzeiro e sua torcida. Na única entrevista coletiva que concedeu este ano, após a derrota para o Flamengo, por 2 a 0, no Mineirão, o sócio majoritário da SAF culpou a torcida pelo mau momento da equipe.
“O Cruzeiro tem uma das melhores de público em casa no Campeonato Brasileiro mesmo sem ganhar de ninguém. Todo jogo tem 35 mil pessoas, 40 mil pessoas. Da última vez que o Ronaldo falou, ele 100% colocou a culpa no torcedor”, lembrou.
“Um apelo ao Ronaldo. Ele precisa sair da bolha que o cerca. De pessoas que não conhecem isso aqui, esse estado, a torcida do Cruzeiro, não conhecem essa realidade. Eu tenho certeza que aquele discurso desastroso que o Ronaldo fez, para a imagem dele, depois da derrota para o Flamengo, em que ele coloca a culpa toda no torcedor do Cruzeiro, que aquilo ali foi dito pra ele dentro de uma bolha. Ronaldo, fura essa bolha. Senta com o Pedrinho, dos Supermercados BH, que é cruzeirense, que vive esse estado, que conhece Belo Horizonte. Senta com meia dúzia de cruzeirenses dessa cidade e escuta o que eles têm a falar. Cruzeirense que torcia pro Vasco, pro Fluminense, pro Corinthians, pro Bahia e que de um ano pra cá virou cruzeirense porque trabalha aqui não, viu? É cruzeirense de verdade, que conhece o Cruzeiro. Gente como o Régis da Emccamp, que saiu de um casamento ontem (sábado) de um grande amigo para ver o jogo do Cruzeiro. É gente assim que precisa ser ouvida”, opinou João Vítor Xavier.
Leia, a seguir, outros trechos analisados por João Vítor Xavier:
“Estou falando isso desde que o Ronaldo falou. Está faltando identidade do Ronaldo com essa cidade, com esse estado e com essa gente cruzeirense que está aqui. Falta identidade. O Ronaldo não fez a menor questão de criar o mínimo laço, a mínima raiz, a mínima identidade com Belo Horizonte.
Ele é cercado por pessoas muito competentes na área de gestão, na área administrativa, mas ele também é cercado por algumas pessoas que não são tão boas assim. Estão ali do lado para bater palma para absolutamente tudo que ele faz, falando que ele está certo em tudo, criando inimigos fantasmas em Minas Gerais, tratando todo mundo que está aqui como se fosse adversário dele e criando no Ronaldo uma barreira em relação ao torcedor do Cruzeiro. Eles nunca estão errados em nada.
Eles enxergam inimigo em todo lado, tratam todo mundo como adversário. Não é possível que o Ronaldo continue sendo, na sua área de relações institucionais, de relação com a cidade, de relação com o público, tão mal orientado como ele tem sido. O Ronaldo está há dois anos à frente do Cruzeiro e ele não deu uma entrevista para Belo Horizonte, tirando aquela desastrosa no Mineirão, depois da derrota do Cruzeiro, em que ele jogou a culpa na torcida. Ele vai pra programa de fofoca do filho do Faustão, ele vai pra podcast de rapper, mas não fala com essa cidade.
O Cruzeiro pode não ser o negócio mais importante do Ronaldo, mas é o que há mais de importante para o seu torcedor. Não consigo entender como o cara compra um clube e trata o clube assim. O sentimento é de que está fazendo um favor por estar gerindo o Cruzeiro. A gestão de futebol do Cruzeiro é uma coisa inacreditável. O Pezzolano cai e não tem ninguém pra falar. O Pepa cai e não tem explicação. O time está caindo para a segunda divisão e ninguém abre a boca. Tem muito o que se falar.
Faz como a Leila (presidente do Palmeiras) fez. Senta e dá uma entrevista. Ouve uma pergunta boa, pergunta ruim, xinga, briga, concorda, discorda, mas fala. Não estão fazendo favor de administrar o Cruzeiro não.
O Cruzeiro é uma instituição centenária. Com Ronaldo ou sem Ronaldo, o Cruzeiro vai viver. Bem ou mal, vai viver. A Portuguesa não acabou, o Vasco não acabou, o Botafogo não acabou. Todos viveram crises horrorosas e vão se reinventando. Não podem tratar o tempo todo como se fosse um favor de estarem aqui.
Não é possível que eles não vão ter a humildade de admitir um problema, de admitir dificuldades de gestão no futebol. Até acho que o Gabriel Lima faz um trabalho muito bem feito de gestão empresarial. Isso é inegável. O cara que consegue colocar de pé uma negociação judicial igual esse cara colocou, tem que tirar o chapéu pro cara e respeitar. Prestou um grande serviço ao Cruzeiro e conseguiu um grande resultado na Recuperação Judicial. Agora, no futebol tem algum problema”.