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Palmeiras visita San Lorenzo no estádio onde o próprio rival não queria estar

Clube argentino tem como obsessão voltar a terreno de antiga casa e precisou travar luta contra rede de supermercado; agora, está projetando uma arena moderna

Torcida do San Lorenzo no estádio Nuevo Gasómetro, que tem as horas contadas para deixar de ser a casa do clube

A volta para Boedo. Durante mais de quatro décadas, essa foi a obsessão dos torcedores do San Lorenzo. Retornar ao bairro do sul de Buenos Aires, onde ali se fez a sua primeira casa, o estádio Gasómetro. Um lugar que deixou um imenso vazio porque, em um período sombrio da história, o clube e os seus torcedores foram desalojados de lá em uma trama que envolve dívidas, ditadura militar e mentiras.

O primeiro grande trauma nasce em 2 de dezembro de 1979. Era um dia de festa para o clássico entre o San Lorenzo e o Boca Juniors no estádio localizado na avenida La Plata, 1700. O placar de 0 a 0, no entanto, deixou os aficionados frustrados. Porém, nada seria comparável a notícia que viria depois.

A história dita pelos seguidores do San Lorenzo é de que a ditadura militar instalada no país pressionou a diretoria do Ciclón a vender o estádio, que fora inaugurado em 1916 e tinha capacidade para 60 mil pessoas. Era o maior do país.

O clube estava afundado em dívidas e cedeu à ideia do governo, que dizia ter um projeto de urbanização da área. Aquele clássico insosso era a despedida melancólica da casa do Azulgrana.

Em 1982, o estádio veio abaixo e, ao contrário do prometido, foi inaugurado um grande supermercado de uma rede internacional. O espaço, onde antes havia jogos, baile de carnaval, shows, lutas de boxe e uma vida cultura ativa, virou estacionamento e gôndolas com produtos sendo consumidos pela inflação.

Nuevo Gasómetro

Depois de sair de casa, o San Lorenzo ficou sem estádio até 1993, quando foi construído o estádio Pedro Bidegain, conhecido como Nuevo Gasómetro, no bairro de Flores. Local em que o Palmeiras visita a equipe, às 21h30 desta quarta-feira (3), pela rodada de abertura da Copa Libertadores. Local onde o próprio Ciclón não gostaria de estar.

A volta à Terra Santa

O exílio do que os torcedores do San Lorenzo chamam de Terra Santa começou a ser desfeito em 2012, quando uma multidão tomou conta da Plaza de Mayo, no centro de Buenos Aires, para que fosse aprovada a Leia de Restituição Histórica, que permitiria ao clube recomprar o terreno.

Projeto do novo estádio do San Lorenzo em Boedo

Os próprios torcedores também se juntaram e começaram a arrecadar fundos para comprar o espaço que fosse possível até que, em 2015, a rede de supermercado aceitou vender o terreno de volta ao clube.

Em um dia, a torcida fez fila e arrecadou R$ 500 mil em uma venda simbólica de metros quadrados do terreno sagrado realizada pela diretoria do Ciclón.

Terreno onde ficava o antigo estádio Gasómetro em que foi construído um supermercado e será espaço da nova casa do San Lorenzo

O projeto foi ganhando corpo. Foi lançado o novo modelo da arena. Mas, somente em janeiro deste ano, foi encerrado o desarme do antigo supermercado. Em fevereiro, o clube sanou o restante da compra e quitou o pedaço que faltava do terreno para completar o espaço da nova casa.

O San Lorenzo fez um estádio, fez dois estádios e fará o terceiro.

Agora, o clube mergulha na reta final de um sonho que só vai ser realizado quando a nova casa, com capacidade para 55 mil pessoas, estiver pronta. O prazo é de quatro anos e meio.

O espaço ainda terá lojas comerciais, ginásio e lugar aberto para vizinhos do bairro de Boedo viverm o que um dia foi o Velho Gasómetro, derrubado pelas mentiras da ditadura e que será reerguido com uma nova cara, mas com o mesmo sentimento que une o povo apaixonado pelo futebol e tudo que ele carrega.

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Brenno Costa é jornalista multimídia formado pela Universidade Católica de Pernambuco e pós-graduado em comunicação e marketing pela Estácio. Atualmente, é correspondente da Itatiaia em São Paulo. Antes, trabalhou na Folha de Pernambuco, Diario de Pernambuco/Superesportes e no Globo Esporte.