Você sabia que os hinos de clubes de futebol podem significar diversos sentimentos a partir de suas notas musicais? É isso que Antonio Vaz Lemes, músico, professor e comunicador de 46 anos, tem extraído de cada um e publicado nas redes sociais ao som do seu piano.
E as postagens têm feito sucesso. No Instagram, o perfil @pianoquetoca já supera 550 mil seguidores ao atrair torcedores para suas análises musicais sobre os hinos de
De um jeito descontraído e didático, ele ainda expõe o seu sentimento ao público a partir da interpretação de vinhetas de TV, trilhas de filmes e games. A conexão com o futebol foi só um dos recursos para democratizar o som do seu piano.
Ao analisar os hinos e tirar deles a essência, Antonio Vaz Lemes nem considera tanto as letras.
“É pelo conjunto da obra, talvez. Melodia, harmonia, ritmo, os elementos musicais. Sou pianista de formação de músicas de concerto, música clássica, e nossa música instrumental não tem nem sequer texto, não tem letra. A gente estuda, aprendendo a ser uma espécie de cientista, procurando detalhe, procurando razão para tudo que tem na semântica. Para nós, tudo é importante, tudo é material para a gente tentar buscar significado”, disse, em entrevista ao Itatiaia Esporte.
“O que faço no piano, não só com hinos de futebol, mas também com cultura geek, cultura pop e da música de concerto, também é transpor esse tipo de entendimento, esse tipo de capacidade de análise para os hinos”, completou.
Sucesso imediato
Natural da cidade de São Paulo, o músico contou que o primeiro hino analisado foi o do Corinthians. E foi um sucesso. Desde então, Antonio Vaz Lemes avaliou e interpretou mais oito hinos com o piano. O mais recente foi o do
“A análise de hinos partiu de um pedido de uma pessoa que gostava muito. Comecei com o Hino do Corinthians. Foi um amigo que já conhecia meu conteúdo. Virou um desafio para mim e foi um sucesso extraordinário. Depois, eu fiz com o do Flamengo. Esta semana fiz o do Cruzeiro”, afirmou.
“Fui em um clube mais ligado aos artistas, acabei fazendo o Cruzeiro”, explicou.
Antonio Vaz Lemes definiu o Hino do Cruzeiro, composto por Jadir Ambrósio, como o mais “amoroso” do Brasil. Em sua análise, ele ainda brincou com a letra do hino e a da música ‘Se essa rua fosse minha’: “Nessa rua, nessa rua tem um clube, que roubou, que roubou meu coração”.
A próxima interpretação foi com uma música ligada ao Atlético e não com o hino. “Fiz com a música Vou Festejar, de Beth Carvalho, identificada com os torcedores”, completou.
O músico ainda destacou dois hinos: do Corinthians e do São Paulo. “Eu gosto muito da ideia do Corinthians ser reverente, que faz reverência ao próprio clube, como se ajoelhasse para o clube, reverência neste sentido. O do São Paulo tem um tom quase religioso. Fiquei buscando essa relação, essa ponte entre música religiosa e a sonoridade e a música do hino do São Paulo”.
Nas análises publicadas, ele fez relação do hino do Cruzeiro com amor; do Palmeiras com imposição; do Fluminense com generosidade; do Vasco com a união; do Grêmio com a imortalidade; do Santos com o Sol; e do Flamengo com o heroísmo.
“Meu time é a música”
O músico, que também tem um curso online e visa à iniciação da música de concerto, disse que não tem forte ligação com o futebol e é mais ligado a outros elementos culturais, como o mundo pop.
“Tenho pouca relação com futebol, meu time é a música. Na verdade, eu fiquei mais próximo ao mundo dos videogames. Nssa coisa de jogar e ser fanático, acho que fiquei mais na cultura geek do que no esporte. Na verdade, a música também é uma espécie de esporte/religião para mim, toma muito espaço no meu coração”.
Quebra de tabu
Com a ideia, Antonio uniu o esporte mais popular do mundo, o futebol, com a música de concerto, estereotipada como algo de elite. O músico quer aproximar essa arte com o público geral, a fim de popularizar os instrumentos mais clássicos.
“Eu quero quebrar esse tabu que o piano está vinculado ao elitismo, que só serve às pessoas que vão à sala de concerto. Queria que essas pessoas conhecessem mais. Essas músicas de concerto são músicas que, em primeiro lugar, um dia foram populares. Elas se tornaram clássicas com o tempo, mas foram música popular”, explicou.
“Até um tempo atrás, esse tipo de música tinha certa dificuldade de acesso porque comprar CD de música de concerto era caro, mas hoje nunca esteve tão acessível à população em geral, pelas redes sociais, plataformas de streaming”, agregou o músico.
Por meio das redes sociais, Antonio Vaz Lemes acha que tem conseguido estar onde o público está. Assim, cumpre o seu papel de democratizar a música.
“A gente tem direito de acessar uma sinfonia de Beethoven assim como a gente tem direito de ler um romance de José de Alencar. É nosso direito. Não foi escrita a nenhuma elite, foi escrita para os seres humanos. O acesso é nosso por direito, mas as pessoas não sabem disso. Aí se cria um estigma ao instrumento de que é para gente rica, mas não é, de jeito nenhum. É uma das minhas metas, das minhas missões”, finalizou.