Campeão mundial em 1994 e em 2002, quando foi o grande nome do torneio, Ronaldo publicou uma carta aberta aos jogadores que representaram a Seleção Brasileira país na Copa do Catar. Dois dias após a eliminação, o Fenômeno admitiu que viu falhas, mas minimizou os problemas.
O dono de 90% da SAF do Cruzeiro disse que o time conseguiu unir o Brasil novamente e afirmou que não vê problema em escolhas pessoas dos atletas, como “dança, no brinco, no cabelo ou no pandeiro”.
Ronaldo ainda valorizou a marca alcançada por Neymar, que anotou o 77º gol dele pela Seleção Brasileira e igualou o número de Pelé nas contas da Fifa.
Leia a carta escrita por Ronaldo na íntegra:
Vocês uniram o Brasil novamente. Foi lindo ver o país (quase) inteiro deixar as diferenças de lado pra vibrar com o nosso futebol. Sorrimos juntos, choramos juntos - estamos com vocês.
Eu e quem enxerga o atleta além da bola; quem sabe - por experiência ou por simplesmente se colocar no lugar do outro - como pesa a expectativa de mais de 200 milhões de brasileiros; quem já se sentiu pressionado, subestimado e desacreditado por comparações que põem em xeque o seu talento nos momentos mais difíceis; quem conhece o ponto de partida desfavorável e o caminho íngrime percorrido desde a infância pra chegar tão longe; quem reconhece que ninguém sonhava mais que vocês em levantar a taça do hexa.
Recebam meu carinho, respeito e abraço.
Entendam também que vão me perguntar e, como ex-jogador, não posso fingir que não vi nada de errado. Discordo profundamente, porém, de quem acha que o erro tá na dança, no brinco, no cabelo ou no pandeiro. As mudanças de comportamento entre gerações são naturais. Na mesma partida em que fomos eliminados, Neymar igualou o rei Pelé como maior artilheiro da seleção brasileira - um recorde estabelecido há 60 anos. Como negar o brilho, a competência e a grandiosidade de vocês que são os novos ídolos das nossas crianças?
Falhamos sim do ponto de vista técnico. E eu sei que vocês sabem: é legítimo que o torcedor esteja decepcionado nesse momento. Vocês também estão. Mérito do adversário, claro, mas tenho certeza que vocês sabem onde erraram. Dói em todo mundo. Dói muito mais em vocês.
Ainda assim, é do jogo, é do esporte e é da vida. O erro. A frustração. O gosto amargo da derrota. O “quase”. A grande oportunidade que escapa das mãos. O tropeço que nos derruba tão perto de realizar o maior sonho - alguns não terão essa chance de novo, eu sei. Mas o futebol é uma escola cheia de lições extraordinárias que levamos pra fora das quatro linhas e saber perder é o que faz de nós verdadeiros atletas. Cair e levantar. Continuar. Recomeçar. Amadurecer. Reinventar. Diferenciar os limites que precisamos respeitar dos que podemos superar.
Pra uma seleção ser campeã, as outras 31 voltam pra casa como vocês. Na bagagem de cada uma delas, lutas que não conhecemos - dos jogadores, de suas famílias, de seus povos. Um dia, vocês verão tudo isso “de fora” como vejo hoje e o orgulho será ainda maior por fazer parte dessa história - podem acreditar. Sei que isso não tira a dor que vocês sentem agora - e que ainda vai doer muito -, mas é preciso reconhecer o óbvio: poucos chegam aonde vocês chegaram.
O show da bola tem que continuar e, sem dúvida alguma, o futebol-arte brasileiro fez desse show mais bonito - dentro e fora e de campo. No estádio, no Catar, em cada canto do Brasil e do mundo.
Sair da Copa maior do que chegou é legado. O sonho do hexa segue vivo. Vocês nos fizeram acreditar de novo. Parabéns, garotos!