Fernanda Torres, que pode ser indicada hoje (23) ao Oscar de Melhor Atriz, quase perdeu o papel para o filme pelo qual recebeu o Globo de Ouro de melhor atriz dramática.
É que o diretor Walter Salles tinha outra atriz em mente para interpretar Eunice Paiva em “Ainda Estou Aqui”. Era Mariana Lima, que interpretou a personagem “Tia Salete” na novela “No Rancho Fundo”, entre outros papéis na TV e no teatro. Na época, por questões pessoais, ela recusou o papel.
Fernanda Torres, então, foi escolhida para interpretar Eunice. Em entrevista ao jornal “O Globo”, Fernanda contou que “não era a primeira opção do Walter para ‘Ainda estou aqui’. Essas coisas são normais no trabalho da gente. [O papel] é de quem faz, no fim.”
Mística e escalação
A diretora de elenco Ciça Castello compartilha dessa visão da atriz. Profissional com mais de 25 anos de experiência no mercado audiovisual brasileiro e autora do livro “A persona artística e o mercado de atuação no Brasil - a visão de uma diretora de elenco”, lançado pela editora Autêntica, Ciça avalia que “quando o dono do personagem chega, não tem mais dúvida”. Isso vale para a primeira ou para a décima opção de um diretor.
"É algo meio místico, subjetivo, mas é uma realidade. É parte de trabalhar com arte a subjetividade”, diz Ciça. “Essa [escalação em ‘Ainda estou aqui’] foi resolvida de uma maneira totalmente brilhante, Fernanda é tão perfeita como Eunice que a gente não consegue pensar em outro nome além dela”, ressalta.
Desafios da mudança
Há diversos fatores que obrigam a troca de uma pessoa escalada em uma produção - uma doença, uma questão pessoal, um conflito de agendas, geralmente da parte do ator ou da atriz. Em casos mais raros, Ciça Castello explica que uma evolução do trabalho pode gerar uma revisão da produção de elenco e do conceito do projeto. Nesse último caso, principalmente, evita-se esse tipo de mudança quando um ator ou atriz já está escalado.
A substituição tem que ser ágil, “deve-se trazer trazer nomes que estejam à altura de quem estava pensado, que artisticamente seja da mesma qualidade, da mesma potência artística”, diz Ciça.
Raridade
“O engraçado do caso da Fernanda é que raramente a gente leva para o ator ou a atriz que ele é uma segunda opção”, explica Ciça. Em entrevista à revista Variety, Fernanda afirmou que a escalação da mãe, Fernanda Montenegro, para interpretar Eunice Paiva quando mais velha auxiliou na sua escalação.
“Minha mãe já estava no filme, e ele [Walter] disse que queria a minha opinião”, explicou a atriz. “Era um roteiro incrível, mas eu nunca achei que ele fosse me convidar. O que é bom, porque não houve tensão entre nós.”
“Tudo, quando acontece, é porque o personagem não era dessa pessoa, e sim de quem era pra fazer. A personagem da Eunice era da Fernanda, não tinha outro jeito”, reflete Ciça.