Ouvindo...

Um Defeito de Cor: vendas do livro de escritora mineira crescem 10 vezes após desfile da Portela

Livro conta a história de mulher escravizada que busca filho no Brasil; obra de Ana Maria Gonçalves já vendeu 100 mil exemplares desde o lançamento em 2006

Portela fez enredo inspirado em clássico da escritora mineira Ana Maria Gonçalves

As vendas do livro “Um Defeito de Cor”, da escritora mineira Ana Maria Gonçalves, cresceram 10 vezes após a obra ser tema do desfile da escola de samba Portela, no Rio de Janeiro. A agremiação se apresentou no segundo dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval carioca. Um dia depois, na terça (13), o livro já aparecia como esgotado no site da editora, o Grupo Editorial Record, e em plataformas como a Amazon.

“Foi um crescimento que a editora esperava e para o qual se preparou. Houve uma ampla distribuição antes do Carnaval. Quarta-feira (14) já saiu mais para distribuição e para repor onde acabou esgotando. Na sexta (16) deve rodar uma nova edição para atender ao aumento da demanda. O livro vai para a 37ª edição”, comentou a editora.

Leia também

Um defeito de cor

O romance conta a história de Kehinde, uma mulher que foi retirada à força da África e traficada para o Brasil ainda criança. A personagem foi criada com base na história de Luísa Mahin, mãe do advogado, abolicionista, orador, jornalista e escritor brasileiro Luís Gama, considerado o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.

Ao longo das 952 páginas, Kehinde narra sua história de vida, enquanto viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Durante a travessia, ela conta sua vida, marcada por episódios violentos da escravidão como mortes e estupro.

“Um defeito de cor” já vendeu 100 mil exemplares desde que foi lançado em 2006.

Enredo da Portela

A obra inspirou os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga e garantiu o quinto lugar da Portela entre as escolas de samba em 2024. O enredo do desfile gira em torno de uma carta escrita por Luís Gama em que o filho troca experiências com a mãe, de quem foi separado ainda na infância. A emocionante apresentação falou sobre racismo e debateu sobre mães que perderam seus filhos.

O último carro da Portela, inclusive, trazia 16 mães de vítimas da violência no Rio de Janeiro, que carregavam junto a si um objeto que as faziam lembrar dos filhos. Entre as mulheres escolhidas para desfilar estava a mãe da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018 no Rio, e a mãe de Kathlen Romeu, morta por um tiro de fuzil disparado por um PM no ano passado.

“Ao longo do ano de 2023 foram muitas conversas com a Portela, e Ana Maria Gonçalves se aproximou muito da Escola. Tivemos um evento de autógrafos na Quadra, onde o livro esgotou. Foi muito bonito ver essa adesão de Ana Maria à comunidade da Portela e vice-versa. Ela se tornou uma pessoa querida da Escola, muito presente, participando de oficinas e clubes de leitura. Tudo muito cheio de afeto mesmo, não só o desfile, mas toda a construção desse enredo e preparação”, explica a editora-executiva do Grupo Editorial Record, Livia Vianna, responsável pelo livro.

Participe do canal da Itatiaia no Whatsapp e receba as principais notícias do dia direto no seu celular. Clique aqui e se inscreva.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.