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Melhores livros de 2023: confira os destaques literários do ano

Seleção traz livros premiados, estreias e histórias para todos os gostos

Em um ano em que a Câmara Brasileira do Livro e a Nielsen BookData mostraram que apenas 16% da população brasileira se considera leitora, a indústria editorial não pode se dizer satisfeita. Apesar do preço dos livros ser apontado como principal motivo para afastar leitores, essa é uma justificativa que não explica o número baixo, já que 66% dos integrantes da classe A não compraram sequer um livro durante um ano inteiro.

Ainda assim, autoras e autores desafiam o deserto e produzem obras singulares.

Estes são alguns destaques da literatura em 2023:

Jon Fosse: incontornável em qualquer retrospectiva, já que o autor norueguês venceu o Prêmio Nobel de literatura em 2023 por suas ‘peças e prosa inovadoras que dão voz ao indizível’, nas palavras do comitê do prêmio.

Quase desconhecido no Brasil, teve dois livros curtos lançados no país curiosamente semanas antes do Nobel: ‘É a Ales’ (Cia das Letras) e ‘Brancura’ (Fósforo). O primeiro apresenta a história de uma mulher que pensa no marido, que pegou um barco e nunca mais voltou; no segundo, um homem dirige sem rumo pela neve e se aventura em uma mata escura.

Neste ano, a Todavia editou a obra completa de Machado de Assis em uma caixa com 26 volumes, e Carolina Maria de Jesus finalmente teve publicado ‘O Escravo’, romance escrito nos anos 1950.

Lilia Guerra lançou, pela Todavia, ‘Um Céu para os Bastardos’. Um dos melhores romances de 2023 conta com engenhosidade o cotidiano da periferia. Pelo olhar de uma empregada doméstica se conhecem as feridas e os sonhos de ‘Fim-do-Mundo’.

No quesito memórias, ‘Judoca’, de Thierry Frémaux (Fósforo), é uma grata surpresa. O cineasta francês lembra sua juventude dedicada ao esporte, e acaba escrevendo um potente relato sobre a história do judô e sua construção de significados enquanto amadurecia.

Lúcio Cardoso, do incontornável ‘Crônica da casa assassinada’, teve ‘Todos os Diários’ publicados pela Cia das Letras em 2023. Inclui textos inéditos de Cardoso, além da coluna ‘Diário não íntimo’. É uma edição ampliada dos diários que Lúcio manteve e concebeu como projeto artístico, com sua obsessão por investigações bíblicas e citações literárias.

No Brasil, o vencedor do Jabuti nas categorias Livro do Ano e Poesia foi Fabrício Corsaletti, com o volume ‘Engenheiro Fantasma’. Na insólita história em 56 sonetos, o narrador se imagina na pele do cantor Bob Dylan durante uma temporada em Buenos Aires.

Uma estreia se impõe: Flavia Lamary e seu desejo de sempre de poeta vieram à luz no fim do ano em ‘À Vontade’ (Miguilim). A mineira mostra como é preciso um olhar detalhado para o fluxo dos acontecimentos e antíteses. É preciso saber que ‘a pessoa bem resolvida aprendeu a contar’.

Os santos’ (Todavia), HQ de Leandro Assis e Triscila Oliveira, saiu das redes sociais para livro. A história ácida, com conflitos reconhecíveis no cotidiano, devia ser lido por qualquer um que negue a existência de luta de classes em nossos dias. O racismo estrutural tratado com crueza e, inclusive, esperança.

Carla Madeira prova, por mais um ano, que boa literatura pode ser um fenômeno de vendas. A autora de BH mantém o sucesso de ‘Tudo é rio’, ‘Véspera’ e ‘A natureza da mordida’ com incríveis 560 mil exemplares vendidos pela editora Record.

Outro campeão de vendas que vale a pena ser lido é o padre Fábio de Melo, que em seu mais recente livro, ‘A vida é cruel, Ana Maria’ (Record), traz uma carta aberta à mãe, falecida durante a pandemia de Covid-19, com reflexões sobre momentos delicados de suas vidas. Já são mais de 20 mil exemplares vendidos da história tristemente doce e inesquecível.

Para fechar, um volume lançado já no fim do ano pela Todavia: ‘Baviera tropical’, da jornalista Betina Anton. O livro-reportagem conta como o médico nazista Josef Mengele fugiu da Alemanha e viveu momentos frugais no Brasil, sem ser incomodado pela participação no holocausto, até ser julgado pelas águas da praia de Bertioga em 1979. Ela recupera testemunhos, conversa com gente que conviveu com Mengele e constrói uma narrativa arrebatadora a partir de uma pergunta: ‘como isso foi possível’? Investigação de primeira linha.

Enzo Menezes é chefe de reportagem do portal da Itatiaia desde 2022. Mestrando em Comunicação Social na UFMG, fez pós-graduação na Escola do Legislativo da ALMG e jornalismo na Fumec. Foi produtor e coordenador de produção da Record e repórter do R7 e de O Tempo
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