Beyoncé resolveu sair do eixo Rio-São Paulo e virar os olhos do mundo todo para o Nordeste do Brasil ao fazer uma aparição surpresa na
Mesmo não trazendo a turnê “Renaissance” - intitulada a partir do álbum de 2022 - para o país, Beyoncé viajou mais de 10 horas de Nova Iorque, nos Estados Unidos, para celebrar ao lado dos fãs brasileiros em um evento criado para eles. “Eu vim porque amo muito vocês. Era muito importante para mim estar aqui, bem aqui na Bahia”, anunciou de cima do palco montado no Centro de Convenções de Salvador, mesmo local que recebeu Viola Davis e Angela Bassett há alguns meses.
“Obrigada por todo o apoio durante todos esses anos. Vocês são singulares, vocês são o número 1, vocês são únicos, Bahia!” continou Beyoncé em referência à própria música “Alien Superstar”. A participação no evento foi curta, cerca de cinco minuto, mas a artista aproveitou os bastidores para conhecer alguns dos fãs presentes. A ação incluiu alguns dos artistas que se apresentaram na noite do “Club Renaissance”, responsáveis pelo “Beyoncé Brasil” e outras contas de fãs, e a
“‘Renaissance’ é sobre liberdade, beleza, alegria, resiliência. Tudo que vocês são”, completou Beyoncé enaltecendo os fãs brasileiros. Ainda em referência aos artistas presentes na festa, a Queen B entrou no palco ao som da Banda Didá, comporta apenas por mulheres negras. Ao fim da participação, que passou “vestida” com a bandeira da Bahia e do Brasil, a artista norte-americana passou o bastão para Lunna Monty, mother da house Afrobapho - travesti, preta e periférica, nas próprias palavras da performer.
Por que Beyoncé escolheu Salvador?
Pablo Moreno Fernandes, professor e pesquisador em Comunicação Social, elencou alguns motivos que explicam a razão da capital da Bahia ter chamado a atenção de
A cidade soteropolitana mantém o título de maior cidade negra fora da África. Conforme aponta o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em dados divulgados nesta sexta-feira (22), Salvador é a capital com maior proporção de pessoas pretas do Brasil. Entre os anos de 2010 e 2022, o grupo foi o único a crescer, passando de 743.718 para 825.509 pessoas.
Para realizar o “Club Renaissance” na Bahia, Beyoncé investiu muito mais que o próprio tempo, vindo ao país. O evento era gratuito, com comidas e bebidas oferecidas a vontade aos convidados. “Foi uma estrutura gigantesca, montada em pouquíssimos dias, que envolveu contratação de alimentação, montagem de estrutura. Contratação de DJs e artistas da cena ballroom que se apresentaram ali. Essa mobilização toda foi feita graças a muito dinheiro envolvido. Isso mostra a visão da produção cultural como parte da economia, algo muito forte nos Estados Unidos”, destacou Fernandes.
Atravessa muito uma perspectiva de investimento e prospecção de negócios, principalmente do empreendedorismo negro. Vemos a criação de uma estratégia global negra, com artistas milionários e bilionários, investindo em produção cultural.
Por falar em cena ballroom, temos aí outro ponto que pode ter chamado a atenção de Beyoncé ao Brasil. Antes, vale explicar o que é isso e qual a relação com a Queen B. Quando falamos em ballrooom ou bailes de vogue, fazemos referência a um tipo de evento e dança originada no universo queer de Nova Iorque, na década de 1960. Os eventos são promovitos pelas houses (ou casas), normalmente coordenadas por mulheres trans e travestis, de origem afrolatinoamericanas. A cena foi uma das inspirações para a criação do álbum “Renaissance”, uma celebração da cultura negra e LGBTQIA+.
Surgido nos Estados Unidos, o movimento também ganhou força fora deles e, na América Latina, o Brasil é ponto principal da cena. “A cena ballroom vai se expandindo por diversos países do mundo. O Brasil, especificamente Belo Horizonte, é a maior cena ballroom da América Latina. A cena brasileira vem crescendo muito e, em Salvador, também é muito forte. Temos artistas que misturam a capoeira com vogue, celebrando também a música preta brasileira”, acrescentou o pesquisador.
Outro destaque apontado por Pablo Fernandes justifica bem a escolha de Beyoncé pelo Brasil. “Mesmo que a turnê não tenha conseguido passar por aqui, ela tem uma conexão muito grande com os fãs brasileiros. Eles sempre foram muito apaixonados pelo trabalho dela, sempre consumiram com muita dedicação o que ela produz. Com o ‘Renaissance’ não foi diferente. Ela está muito atenta ao que o público brasileiro anda consumindo e aqui foi um lugar perfeito para encerrar essa era”, completou Pablo Fernandes.