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Marcius Melhem criou comunidade online para intimidar supostas vítimas de assédio, diz pesquisa

Estudo feito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro aponta que o humorista criou mecanismos online para oprimir denunciantes

Marcius Melhem é acusado de criar comunidade online para intimidar mulheres que o denunciaram por assédio sexual

Humorista e jornalista , Marcius Melhem foi apontado como criador de uma comunidade virtual para atacar mulheres que o denunciaram por assédio sexual. É o que afirma uma pesquisa feita pelo Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NetLab).

O ator teria criado uma comunidade online e utilizado de comunidades que possuem conteúdos misóginos - que reforçam preconceitos e violências contra as mulheres, como os “Red Pills”, para propagar narrativas que invalidassem o discurso das denunciantes. O estudo foi realizado pelas pesquisadoras Marie Santini e Débora Salles e analisou mais de 77,8 mil publicações relacionadas ao caso nas plataformas, Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp e Telegram.

Segundo o estudo, os ataques às denunciantes aparenta ser planejado, principalmente, no YouTube, onde o grupo percebeu que havia o compartilhamento frequente de textos idênticos e links de vídeos que apoiavam o Melhem. Além do humorista, o jornalista Ricardo Feltrin também foi apontado como um agente propagador de ataques misóginos às denunciantes do humorista.

“Marcius Melhem e Ricardo Feltrin instigam e incitam suas audiências a se engajarem em ataques contra as denunciantes, criando uma comunidade com atuação multiplataforma que reforça violências e misoginia online”, diz o documento.

Confira a pesquisa na íntegra. Clique aqui.

Comentário de Feltrin sobre a pesquisa

O jornalista Ricardo Feltrin, que publicou vídeos defendendo Marcius Melhem e afirmando que denunciantes mentiram sobre os supostos assédios sexuais, se posicionou sobre o resultado da pesquisa feita pelo NetLab. Em uma publicação feita em seu site nesta segunda-feira (9), o jornalista afirmou que a pesquisa é tendenciosa e foi feita a pedido da advogada de defesa das denunciantes, Mayra Cotta.

“O ‘estudo’ (sic), cuja metodologia não foi divulgada (ah, vá!), apontou que eu também sou misógino. Em outras palavras, Melhem é misógino porque resistiu a 4 anos de mentiras –comprovadas materialmente– das mulheres que o acusaram. Para elas, é inaceitável que ele tenha resistido ao linchamento e sobrevivido para ver o jogo virar. Por outro lado, eu sou ‘misógino’ porque, como sou jornalista isento, não militante, e apurei fatos e provas materiais, sou um inimigo a ser calado”, afirmou na publicação.

Acusações de Assédio Sexual

Há cerca de dois anos, Melhem foi denunciado ao Ministério Público por assédio sexual contra oito mulheres, entre elas a humorista Dani Calabresa, que teceu críticas as acusações publicamente. Os episódios de violência teriam ocorrido no período em que o humorista permaneceu à frente do departamento de Humor da Rede Globo.

Em agosto de 2020, Melhem foi afastado da TV Globo. Enquanto a defesa dele afirma que se trata de um complô “profissional”, os advogados de Dani e de outras mulheres alegam que elas precisam ser ouvidas pela Polícia Civil. Além disso, destacam que o processo é sigiloso e que preferem não dar detalhes para não expor as clientes. Por outro lado, a defesa de Melhem já apresentou mensagens de cunho sexual trocadas entre ele e Dani.

A confusão entre eles teria ocorrido em 2019. À época, Dani, que interpretaria uma âncora de um programa humorístico chamado “Fora de Hora”, teria feito algumas exigências, dentre elas, indicar roteiristas. No entanto, Melhem não teria aceitado e, com isso, disse repensar a escalação da atriz.

(Sob supervisão de Patrícia Marques)

Ana Luisa Sales é jornalista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia desde 2022, já passou por empresas como ArcelorMittal e Record TV Minas. Atualmente, escreve para as editorias de cidades, saúde e entretenimento