Ouvindo...

Há 50 anos, Gonzaguinha estreou em disco com críticas à ditadura militar

Filho de Luiz Gonzaga, cantor e compositor trilhou caminho próprio na música brasileira com sucessos como ‘Sangrando’

Gonzaguinha estreou em disco há 50 anos, em 1973, e deixou obra que segue sendo regravada pelas novas gerações

Filho do Rei do Baião e da dançarina Odaléia, Gonzaguinha logo se tornou um nome que não carecia de credenciais na música brasileira. Em 1973, há 50 anos, ele lançou o seu disco de estreia, no contexto de uma ditadura militar contra qual ele foi um dos principais combatentes, ao lado de nomes como Sérgio Ricardo, Geraldo Vandré e Taiguara, que também compuseram canções de protesto.

Intitulado “Luiz Gonzaga Jr.”, nome de batismo do compositor, o álbum não chegou a fazer sucesso nas rádios, mas trouxe canções que em breve entrariam para o rol de clássicos da música popular, como “Comportamento Geral”, uma ácida crítica ao modo de produção capitalista, que transformava as pessoas em meros reprodutores de tarefas. A música ganharia uma regravação contundente décadas mais tarde, no penúltimo álbum de Elza Soares.

Ainda apostando numa estética experimental e complexa, Gonzaguinha lançou, em 1974, o seu segundo trabalho de estúdio. Apesar disso, músicas como “Galope” e “A Felicidade Bate à Sua Porta” chegaram ao ouvido do público pelas versões de Marlene e das Frenéticas. O comportamento arredio e contestador, avesso a autógrafos e exposições midiáticas, rendeu a Gonzaguinha o malicioso apelido de “cantor rancor”.

Essa história começou a mudar em 1978, com o LP “Gonzaguinha da Vida”. Sem abandonar a crítica social e de costumes, o cantor revelava o seu lado passional e emotivo, e a habilidade para falar de amor surgia com toda força em “Explode Coração”, regravada por Maria Bethânia e alçada a trilha sonora de novela da Globo. No mesmo álbum, ele refletia sobre as origens no Morro de São Carlos com o delicioso samba “Com a Perna no Mundo”, outro hit de seu repertório.

Faltava ainda acertar as contas com o pai famoso. Ao longo da vida, por posições políticas e musicais, Gonzaguinha e Luiz Gonzaga caminharam em polos opostos, até que decidiram se reconciliar, deixar as mágoas de lado, e sair em turnê pelo Brasil, sobretudo pelos grotões do país em que o pai do baião reinava. Juntos, Gonzagão e Gonzaguinha deram voz às mazelas do povo, e também cantaram suas belezas. “A Vida do Viajante”, parceria de Hervé Cordovil com Luiz Gonzaga resume esse reencontro.

Com uma gama de sucessos do porte de “Diga Lá, Coração”, “Sangrando”, “Grito de Alerta”, “Ponto de Interrogação”, “Um Homem Também Chora”, “O Que É, O Que É”, “E Vamos à Luta”, e tantos outros, Gonzaguinha soube decifrar melhor do que ninguém os dramas do povo, da nação e do ser humano, com delicadeza, agudez e sensibilidade.

No final da vida, ele encontrou a paz que tanto procurava ao se mudar para Belo Horizonte. Para a Lagoa da Pampulha, compôs “Lindo Lago do Amor”. Em 1991, aos 45 anos, Gonzaguinha morreu após sofrer um acidente de carro. Mas suas músicas permanecem para provar que a vida é bonita, como ensina a pureza da resposta das crianças.