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A ideia de escrever o filme, dando “voz” apenas à socialite mineira, foi totalmente intencional. “Eu gosto do que a gente faz na indústria de entretenimento, mas é legal a gente deixar pelo menos algum tipo de reflexão pra sociedade. O elenco está lindo. Você vai se emocionar e se divertir”, disse.
Sobre o streaming, ele revela: “o filme vai para as plataformas de streaming”. Porém, prefere ainda manter sigilo sobre qual plataforma está em negociação. “Está sendo selado agora. Ainda não posso dizer onde, mas assim que sair do cinema, ele vai estar disponível no streaming”.
Mas, Hugo sugere: “não deixe de prestigiar a experiência da sala de cinema escura, o que deixa tudo muito mais magnífico”.
O que o filme retrata?
De acordo com Prata, o filme inicia no momento em que Ângela está em uma boate no Rio de Janeiro e conhece Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street, e termina no dia em que ela morre. Afinal, conforme ele, a partir do falecimento dela, a história passa a ser contada por outra pessoa.
“São raros os registros de vídeos, da voz da Ângela. Ela era bem discreta nesse aspecto e, nesta época, não existia ainda essa caça intensa de paparazzi. Ela tinha esse cansaço, queria levar uma vida mais leve. O filme começa com ela falando ‘eu só quero ser mais uma na noite’”, revela Prata.
“Na primeira cena do filme, então, a gente pontua isso. Ela fragilizada se apaixona, acredita no amor e ele, aparentemente, promete cuidar dela. Só que, aos poucos, a máscara vai caindo”, acrescenta.
Hugo conversou com pessoas do convívio de Ângela, mas a história foi baseada em uma grande pesquisa, não pegando como foco o relato das pessoas. “Eu espero que o nosso olhar ajude a família a refazer a imagem da Ângela. Tem mulheres que julgam ela até hoje. Então a gente tentou se posicionar contra isso. Sobre a família, é um assunto muito delicado para eles. Eles preferem não se envolver, sabem que a gente fez o filme e não participaram. Eles são muito discretos. É uma história que dói. Muito difícil. Eu espero que com o tempo o filme venha a ser um carinho no coração deles, porque a gente tá trazendo uma outra visão da Ângela”.
Sem tribunal
A ideia de descartar o tribunal foi estratégica. “Foi lá que ela sofreu todos os ataques à honra, à trajetória dela. Ela já estava morta, sem voz e lá foi dito os maiores absurdos sobre ela. Também não quisemos dar câmara, palco para essa desqualificação, não nos interessa aquele espetáculo ali. Ao contrário, quisemos mostrar de onde ela vinha, como ela estava emocionalmente naquele momento e como que foi alterando a relação”.
“A maioria dos casos de abuso de violência começa com a mulher sempre falando ‘nossa, no começo ele era tão gentil, ele era tão incrível’ e depois que ele começou a ficar violento. Então, o nosso recorte é esse: o dia em que eles se conheceram, a maneira que eles se conheceram em uma festa aqui em São Paulo e termina quando ele a mata”, acrescentou.
Legítima defesa da honra
A tese de legítima defesa da honra apenas se tornou inconstitucional neste ano - coincidentemente perto do lançamento do filme. A alegação foi usada pela defesa de Doca Street, que tentou responsabilizar a vítima pelo próprio assassinato. “Você vê como uma história ainda é importante e contemporânea. Quando eu tive a ideia do filme, em 2016, comecei a andar o projeto em 2017, quando surgiu o movimento ‘Me Too’ [mas veio a pandemia]. Eu falei: ‘pô, perdi o time, tinha que estar o filme pronto agora’”, iniciou.
“No entanto, a história mostrou que esse assunto continua importante até hoje, nunca imaginei que fosse lançar o filme no mesmo mês que o STF julga finalmente inconstitucional a alegação de legítima defesa da honra, essa é uma coincidência histórica que eu acho que diz muito”, acrescentou.
Praia da Bahia serviu de cenário
Ângela Diniz foi assassinada na Praia dos Ossos, em Búzios, na região dos Lagos. No entanto, devido à mudança na região, o filme acabou sendo gravado no litoral da Bahia por causa da preservação do local. “A história se passou em Búzios. A gente foi lá, mas Búzios tá muito descaracterizado em termos de paisagem e de arquitetura, então não se parece mais com a paradisíaca Búzios de 76”, conta.
Por isso, o litoral da Bahia permitiu que eles reproduzissem o cenário ideal para o longa. “A gente fez uma longa pesquisa e acabou se filmando no litoral da Bahia, onde tem uma praia que tá lá toda preservada, vamos dizer assim sem construções, sem poste e comunicação visual. Era essa calmaria que eles buscavam. Para a sociedade era um romance, a Ângela só queria paz”, acrescenta.