Eduardo Costa parece ter uma memória prodigiosa. Foi apenas munido dela que ele escreveu, em 20 dias, as cerca de 180 páginas que compõem “O Ascensorista”, livro que lança neste sábado (1), na Casa do Jornalista, a partir das 10h da manhã. O título é uma referência a uma das profissões que o jornalista de 66 anos exerceu ao longo da vida: ou seja, aquele que acompanha, no elevador, o sobe e desce da lida cotidiana.
“A profissão de jornalista e a de ascensorista guardam algo similar que é interessante. Ambas nos permitem ver apenas metade do ocorrido. O casal entra brigando, eu presencio a briga, mas não sei porquê ela começou e nem a hora que vai terminar, e eles vão embora, fica aquela ansiedade. Com o repórter é a mesma coisa, a gente acha que sabe das coisas, mas não sabe, a gente só vê o que é possível ver”, exemplifica.
Eduardo aproveita o contexto para fazer uma comparação com a política, tomada pela polarização nos últimos anos, em especial na mais recente eleição presidencial. “Se eu digo que o Lula fez bem ao anunciar determinada medida eu sou xingado o dia inteiro como ‘esquerdopata’ filho disso; se, no outro dia, eu digo que o Bolsonaro tem muitos defeitos, mas a política econômica dele não foi esse desastre, tinha gente boa lá e tal, também apanho o dia inteiro. É assim. Mas o grande segredo da história está em você fazer a coisa de acordo com a sua consciência, com um certo estudo, com uma certa análise, com muita responsabilidade, porque aí você consegue sobreviver”, observa, ciente de que a profissão também parte de um ponto de vista, seja do elevador ou da redação.
Eduardo se cansou de ouvir das pessoas próximas que tinha vivenciado tantas emoções e experiências importantes através do seu ofício que deveria colocá-las no papel, até que resolveu seguir o conselho. A oportunidade se abriu durante a pandemia de Covid-19, quando ele trabalhava de casa e, inclusive, chegou a ser infectado pelo vírus.
Uma entrevista com o Papa João Paulo II, a viagem com Lula à Índia e um quase tapa recebido do então governador Itamar Franco surgem entre os fatos mais marcantes relatados na publicação, combinando bom humor com informação rigorosa, no estilo que consagrou o comunicador ao longo dos anos.
Recentemente, Eduardo acrescentou mais páginas a fim de atualizar o livro, deixando claro que sua existência agitada não para. Em 2022, seu nome foi cogitado a vice-governador na chapa de Romeu Zema; ele passou a comandar o “Rádio Vivo” na Itatiaia, sua casa há quase quatro décadas, agora com sede nova; e estreou um programa nas tardes da Band Minas.
“Ninguém vira repórter, a gente nasce e lapida com o tempo. Me lembro de eu menino na roça com meu pai, ele chegava cansado com o seu caminhão, ainda era cedo, mas, pra gente lá, já era madrugada, sem luz elétrica, minha mãe esquentava com água quente a comidinha no fogão, ia botar na bacia pra ele tomar banho e tal, e eu ficava fazendo companhia escutando ‘Bentinho do Sertão’, ‘Caxangá’, já era apaixonado com o rádio. Aí ganhei o primeiro emprego, comprei o primeiro rádio, ficava o dia inteiro escutando na porta de casa”, recorda.
Um dia, trabalhando como bancário, Eduardo se deparou com “o grande radialista Antônio Vargas Velasco”. Atenta, a mocinha a seu lado confidenciou uma história familiar. O pai, que havia acabado de se divorciar da mãe, trabalhava justamente com rádio. Foi a senha para Eduardo ficar sabendo de um vestibular aberto na antiga FACE-BH, atualmente UNI, e prestar a prova para Comunicação, em 1976. Logo, tornou-se estagiário da rádio Guarani, e, em 1985, entrou para os quadros da Itatiaia.
“Eu sonho sempre em fazer uma coisa diferente. O repórter não pode perder a indignação. Eu fico indignado por tudo que vejo. É, acima de tudo, a certeza de que você, jornalista, tem que ser igual a médico, ou melhor. O médico tem que chegar uma hora antes no consultório para ele dar uma checada nas principais revistas mundiais para ver o que ele tem de novo”, sublinha.
Eduardo deixa o futuro em aberto, sem fechar as portas para a política partidária, afirmando que, se no passado disse que não entraria para o ramo, não é “poste para ficar parado” e pode mudar de ideia.
“Quem veio da roça, o filho do meio de sete irmãos, de um caminhoneiro que transportava leite. E a gente enfrentou as dificuldades naturais da pobreza. Com onze anos tinha um fazendeiro que falou: traz um menino aqui pra trabalhar, e eu comecei a trabalhar neste hotel, inclusive o título do livro tem a ver com isso né, porque o ascensorista foi a minha primeira profissão, eu fazia o serviço de duas às cinco e, de cinco até dez da noite, era assessor de açougue. Fui office-boy com escriturário, caixa executivo. Com quase vinte e um anos, eu vim para o jornalismo”, arremata, numa história que ainda parece ter muito pra contar.
Serviço:
O quê. Eduardo Costa lança o livro “O Ascensorista”
Quando. Neste sábado (1), das 10h da manhã às 12h da tarde
Onde. Casa do Jornalista (av. Álvares Cabral, 400, Centro)
Quanto. O livro será vendido a R$50,00 no local