Em 1981, Jorge Mautner lançou o disco “Bomba de Estrelas”, com participações especiais de seus amigos ilustres da música brasileira, como Amelinha, Pepeu Gomes, Caetano Veloso, Zé Ramalho, dentre outros. Na capa, ele aparecia a bordo de uma canoa mística, com o seu inseparável violino numa das mãos. Com Moraes Moreira, Mautner compôs e cantou “Namoro Astral”, uma divertida e espirituosa canção que toma como base os signos do zodíaco, com reflexões bem-humoradas sobre o horóscopo. E, ao longo da canção brasileira, essa tradição se estendeu a outros pares.
“Canceriano Sem Lar” (blues, 1987) – Raul Seixas
Raul Seixas também sempre se ligou nos temas do mistério da vida, investigando essas relações através do misticismo e do ocultismo, presentes em muitas de suas canções ao lado do parceiro Paulo Coelho. No final da vida, já lutando contra o alcoolismo que o vitimaria, ele foi internado numa clínica de reabilitação, e não perdeu a mordacidade do humor, que comparece em “Canceriano Sem Lar”, cujo subtítulo, dado pelo Maluco Beleza, foi “Clínica Tobias Blues”. Na letra, Raul reflete sobre as características de seu signo do zodíaco, aparentemente apegado ao lar e sem nenhum.
“Canceriana” (MPB, 1981) – Baby do Brasil
Em 1981, já em carreira-solo, Baby do Brasil lançou o disco “Canceriana Telúrica”, em que juntava, no título, o nome de duas canções diferentes. A faixa “Canceriana”, de autoria da própria Baby, definia o signo da cantora com os adjetivos da amabilidade e da ternura. “Ela é mãe do astral/ É filha da água/ Ela crê na incrível/ Divina proteção de Deus”, dizia Baby num outro trecho, deixando clara a sua ligação cada vez mais íntima com o misticismo e o poder oculto que a levaria, anos mais tarde, a se converter à religiosidade evangélica. Na capa do álbum, Baby flutuava sobre uma espécie de céu.
“Eclipse Oculto” (rock, 1983) – Caetano Veloso
Caetano Veloso surfou na onda do rock brasileiro que tomava as paradas de sucesso e, em 1983, lançou o disco “Uns”. No repertório, um dos maiores sucessos do baiano tropicalista foi a faixa “Eclipse Oculto”, regravada pelo Barão Vermelho, então com Cazuza como vocalista. Ao longo da canção de letra habitualmente longa, o compositor brincava com seu signo do zodíaco no verso “meu coração galinha de leão/ não quer mais amarrar frustração”. Posteriormente, foi revelada que a canção se inspirou em um relacionamento homossexual do leonino, que sempre primou pela liberdade na vida.
“O Leãozinho” (balada, 1977) – Caetano Veloso
Em 1977, no disco “Bicho”, Caetano Veloso registrou uma de suas músicas mais polêmicas e fofas. “O Leãozinho” causou estranheza e gerou mistério quanto à inspiração, depois revelada como uma homenagem a Dadi, baixista dos Novos Baianos. O próprio homenageado disse que achava se tratar de uma “música para crianças”. De todos os animais, o leão é, certamente, aquele mais usado como mascote pelos clubes do futebol brasileiro, em que se destacam equipes como Vitória, Sport, Avaí, Portuguesa, Fortaleza, Remo e ainda tantos outros. E é também um dos signos mais vaidosos do zodíaco.
“Libra” (MPB, 1988) – Zé Miguel Wisnik
Depois de uma bem-sucedida trajetória como vocalista do Grupo Rumo, que tinha, entre seus integrantes, o linguista Luiz Tatit, a cantora Ná Ozzetti estreou em carreira-solo no ano de 1988, com o disco que trazia somente o seu nome na capa, em que ela aparecia vestida de bailarina. Parceiro de longa data da intérprete, o compositor Zé Miguel Wisnik assina a faixa “Libra”, uma das mais bonitas e delicadas do repertório, que, a seu modo sutil e eficiente concentra as emoções sobre esse signo do zodíaco conhecido pelo equilíbrio e pelo senso de justiça. É a preciosidade da MPB.
“Bijuterias” (MPB, 1977) – Aldir Blanc e João Bosco
Mineiro de Ponte Nova, João Bosco tornou-se conhecido em todo o Brasil justamente porque, ao lado do principal parceiro Aldir Blanc, cantou as mazelas e glórias do país. Em 1973, há 50 anos, ele lançou o seu primeiro disco, que tinha, como destaque, “Bala com Bala”, gravada um ano antes por Elis Regina, a mais exuberante intérprete de seu repertório. Com “Bijuterias”, João Bosco emplacou sua primeira canção numa abertura de novela da Rede Globo, no caso “O Astro”, em 1977, protagonizada por Francisco Cuoco. No início da música, a personagem revela ser do signo de virgem. Pura magia.
“Virgem” (balada, 1987) – Marina Lima e Antonio Cicero
Criado pelo educador Paulo Freire (1921-1997) na década de 1970, o termo “empoderamento” voltou à baila nos anos 2000. De acordo com uma pesquisa do Google, o primeiro pico de buscas pela palavra aconteceu em junho de 2013, durante protestos que marcaram o Brasil. Em 2016, “empoderamento” ficou em primeiro lugar na lista das palavras mais procuradas. Na música brasileira, o empoderamento feminino não é novidade. Antes da expressão alcançar a fama atual, Rita Lee, Angela Ro Ro, Dona Ivone Lara, Marina Lima e outras esbanjavam atitude e coragem. Em 1987, por exemplo, Marina lançou a emblemática canção “Virgem”, outra parceria com seu irmão Antonio Cicero, que, além de tudo, nomeia um dos signos do zodíaco.
“Da Maior Importância” (MPB, 1973) – Caetano Veloso
O LP “Índia”, de 1973, teve a capa, focada na parte de baixo do biquíni de Gal Costa, vetada pela ditadura. Para sair, o disco precisou ser vendido em plástico opaco, solução encontrada pelo compositor Roberto Menescal, então diretor artístico da gravadora Philips. “A censura à capa de ‘Índia’ não a afetou negativamente. Na verdade, impulsionou as vendas do disco e gerou bastante burburinho em torno da obra”, conta Renato Contente, autor do livro “Não Se Assuste Pessoa! – As Personas Políticas de Gal Costa e Elis Regina na Ditadura Militar”. No mesmo ano, Gal registrou a envolvente “Da Maior Importância”, de Caetano Veloso, uma paquera musical que dizia o seguinte: “Porque eu sou tímido e teve um negócio/ De você perguntar o meu signo/ Quando não havia signo nenhum/ Escorpião, Sagitário, não sei quê lá”.
“Sentimental” (MPB, 1985) – Chico Buarque
O seu maior sucesso foi uma canção em italiano, mas Zizi Possi é uma cantora genuinamente brasileira, embora o nome de batismo não esconda a descendência européia. Nascida em São Paulo, Zizi iniciou a carreira há 45 anos, em 1978, com o lançamento do disco “Flor do Mal”, que trazia canções de Sueli Costa, João Bosco, Aldir Blanc, Ivan Lins e Caetano Veloso. No mesmo ano, Zizi participou do disco de Chico Buarque cantando a dolorida “Pedaço de Mim”, uma das mais bonitas canções sobre a saudade da música brasileira. De Chico, ela também interpretou “Sentimental”, que fala sobre o signo de gêmeos.
“Escrito nas Estrelas” (balada, 1985) – Arnaldo Black e Carlos Rennó
Responsável por conceder a Tetê Espíndola o primeiro lugar no Festival dos Festivais da TV Globo em 1985, a música “Escrito nas Estrelas” marcou toda a trajetória da intérprete sul-mato-grossense. A canção é uma parceria de Arnaldo Black (marido de Tetê) com o compositor Carlos Rennó. Ligada a uma veia mais experimentalista da canção, Tetê impressionou pela extensão de seus agudos. Ela trabalhou ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Lucina e Alzira E, sua irmã. A música aborda, ao mesmo tempo, questões românticas e místicas, falando, por exemplo, de signos do horóscopo.
“Borbulhas de Amor” (bolero, 1991) – versão de Ferreira Gullar
Há, na internet, uma entrevista impagável de Ferreira Gullar à repórter Dadá Coelho, em que ele explica, sem meias-palavras, do que se trata o “peixe” da canção “Borbulhas de Amor”, adaptação para a original do dominicano Juan Luis Guerra. A tradução do bolero foi feita por Ferreira Gullar a pedido de Fagner, que então mergulhava em um repertório cada vez mais popular. Ferreira Gullar também conta que Fagner, “doido como sempre”, sequer pediu autorização ao titular da canção. Desta vez, no entanto, não houve imbróglios com a Justiça. Um dos versos mais famosos da versão diz: “para em teu límpido aquário mergulhar”, lembrando esse signo do zodíaco.
“Milagre dos Peixes” (MPB, 1973) – Milton Nascimento e Fernando Brant
Na década de 1970, Milton Nascimento compôs, em parceria com Ronaldo Bastos, “Cravo e Canela”, lançada no álbum “Clube da Esquina” (1972). A música integraria o filme “Os Deuses e os Mortos”, dirigido por Ruy Guerra, em 1970, no qual Milton e a atriz Dina Sfat atuaram juntos, mas acabou excluída da trilha. O encontro com Ruy Guerra, no entanto, para além de uma sincera amizade, também validou três parcerias: “Bodas”, “Canto Latino” e “E Daí (A Queda)”, gravada no disco “Clube da Esquina II”, de 1978. A música “Bodas” foi gravada por Milton em “Milagre dos Peixes”, de 1973. A faixa-título, parceria de Milton e Fernando Brant, nos remete ao signo de peixes.
“Pais e Filhos” (balada, 1989) – Renato Russo, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá
Quarto álbum de estúdio da Legião Urbana, “As Quatro Estações” foi gravado em um clima de turbulência. Após faltar a muitos ensaios e lutando contra a dependência química, o baixista Renato Rocha foi desligado do grupo. “Pais e Filhos”, uma das canções mais emblemáticas do repertório, começa com uma notícia que chocou Renato Russo: o suicídio de uma garota. “Ela se jogou da janela do quinto andar/ Nada é fácil de entender”. Mas a mensagem que se impõe é outra: “É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...”. Noutro trecho, Renato conta o signo da protagonista.
“Aos Filhos de Capricórnio” (MPB, 1983) – Oswaldo Montenegro
Oswaldo Montenegro nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de março de 1956, mas iniciou o interesse pela música em terras mineiras, ao mudar-se com a família para São João Del-Rei, com apenas oito anos de idade, onde tomou contato com a boemia e a música barroca. A carreira profissional propriamente dita começou em Brasília, onde ele participou de grupos de dança e teatro. “Bandolins”, de 1979, rendeu a Oswaldo Montenegro o terceiro lugar no festival da TV Tupi. Mas a consagração veio com “Lua e Flor”, de 1984. Em 1983, Oswaldo Montenegro lançou o álbum “A Dança dos Signos”, em que se destaca a faixa “Aos Filhos de Capricórnio”.
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