Marília Mendonça não só abriu as portas para mulheres no sertanejo, como também para aquelas que se identificam fora dos “padrões”. O protagonismo feminino nas canções, o estilo e o modo como construiu a carreira fizeram com que meninas e mulheres se enxergassem de outra forma. Cantora mineira, Lorena Soares é uma delas.
A fã mora em Caratinga, no Rio Doce, cidade em que Marília se apresentaria em 6 de novembro de 2021. No entanto, um dia antes,
A saga dos vestidos de Marília
Também cantora, Lorena procurou Lívia Barcelos, que já confeccionou roupas exclusivas para Marília, em 2018. Na conversa, a mineira comentou que tinha dificuldade em conseguir vestidos para shows por causa do seu peso, e questionou os preços das peças para Lívia.
“Era muito caro, em torno de R$ 5 mil, não é a minha realidade. Ela, muito simpática, inclusive, é amiga da dona Ruth (mãe de Marília), e comentou comigo: ‘Lorena, olha, se for difícil pra você comprar, no final do ano a mãe dela faz um bazar. Só que esse bazar é presencial. Você tem alguém pra buscar?’ Falei, nossa, em Goiânia? Difícil a gente encontrar alguém, mas eu lembrei da irmã de uma amiga que poderia fazer isso pra mim”, conta Lorena.
No entanto, a irmã da amiga, médica, precisava trabalhar no dia e morava distante do bazar. “Fiquei tranquila, não me preocupei, falei que não era pra ser. Quando foi no dia 2 de dezembro de 2018, a Lívia me ligou de manhã. Eu estava em Ipatinga, onde tinha ido cantar em um casamento”, recorda.
Veio o susto de Lorena, seguido pela satisfação. “Estava meio que dormindo, eu atendi e ela falou: ‘Lorena é a Lívia do ateliê. Eu consegui vir no bazar, você vai querer alguma coisa?’ Eu despertei na hora e falei: ‘quero sim, quero muito’. Ela enviava vídeos das roupas, eu mandava foto dos que eu gostava e prints do Instagram da Marília”, conta.
As peças custavam R$ 350, valor ainda inacessível para a mineira, que deu um jeitinho para ficar com as peças. “Ainda não era minha condição, mas eu queria pelo menos dois, não podia comprar só um. Chegaram pra mim no dia 24 de dezembro de 2018, como um presente de Natal. E esses vestidos aqui [aponta para eles] foram feitos para a Marília Mendonça, ela foi a única que usou. Esse veio até com a marca da base dela aqui”, mostra Lorena.
“Hoje uma pessoa me perguntou: ‘você tem coragem de vender os vestidos?’. Eu falei: ‘nunca’. Não tenho. Tenho prazer em abrir meu guarda-roupa e vê-los, saber que foram dela e que tenho a oportunidade de tê-los”, confirma.
O encontro com Marília Mendonça
Lorena teve a oportunidade de conhecer a cantora em 2016, quando Marília Mendonça foi a Caratinga pela primeira vez. “Ela foi muito simpática, muito educada, muito solícita. Eu tive a oportunidade de falar para ela: ‘sou muito grata por você ter chegado porque revolucionou tanto a música sertaneja quanto a minha vida’. Ela me deu um abraço e agradeceu”, relembra. Lorena mostra uma foto que não irá esquecer: ela aparece com sorriso aberto ao lado de Marília, que também sorri.
“Ela revolucionou os padrões porque era um talento nato, independente se estava acima do peso ou não. Ela era presença (não se escondia por não seguir padrões). A vinda dela para a música fez com que as pessoas me enxergassem de outra forma, sou muito grata a ela por isso também”, acrescenta.
Tributo de sétimo dia
Lorena estava no trabalho quando soube da queda do avião. “Meu esposo mandou mensagem: ‘Lorena, aqui perto do Espaço Jardins, que é uma casa de eventos, passou um avião tão baixinho’. Depois, ele me ligou: ‘Lorena, caiu um um avião lá na cachoeira e um amigo meu está comentando aqui que parece que é o da Marília Mendonça’”. Um aperto no coração.
“Foi um baque muito grande. A gente não queria acreditar, né? Até que veio a informação de que todos que estavam a bordo tinham falecido”, lamenta.
Para homenageá-la, Lorena e outros cantores fizeram um tributo no sétimo dia de morte da artista. “Consegui reunir alguns amigos da música para fazermos uma homenagem simples. O padre da catedral veio e fez uma oração. Chovia muito no dia, choveu o dia inteiro”, afirma.
“Quando o padre deu a bênção estava chuviscando, quando começou a primeira música parou de chover, e quando foi cantada a última música voltou a chover de novo. Então, aquele momento foi destinado para aquilo. As pessoas cantaram e se emocionaram”, conta Lorena.
Além de Marília, morreram no acidente o produtor da cantora, Henrique Ribeiro, o tio dela, Abicieli Silveira Dias Filho, o piloto Geraldo Medeiros Júnior e o copiloto Tarciso Pessoa Viana.