O ex-repórter
Maurício ficou famoso pelo quadro “Me Leva Brasil” em que ele viajava pelo país afora em busca de histórias engraçadas ou inusitadas. Agora, ele mora com a esposa, Beatriz Goulart, e o cachorro de estimação, Shiva, no Sul da Bahia. Em imagens exibidas pelo dominical, o ex-repórter aparece caminhando com o animal pela praia. A falta de memória impossibilitou que ele desse entrevista.
Paulo Caramelli, especialista em cognição e professor da UFMG, explicou que a DFT é a segunda causa de demência degenerativa mais frequente com início antes dos 65. “Ou seja, de início considerado precoce do ponto de vista de faixa etária”, disse.
A doença se dá pelo acúmulo de “proteínas anormais no cérebro”. Conforme o médico, existem duas características ou duas formas de apresentação clínica da doença. Sendo elas: variante comportamental e variante de linguagem. Na primeira apresentação, o paciente, fundamentalmente, tem alterações de comportamento. De acordo com Caramelli, elas “vão desde apatia ou desinibição, alterações de hábitos alimentares, como preferência por doces, a apresentação de algum tipo de compulsão”.
“São alterações basicamente de comportamento e, em geral, a memória se encontra relativamente preservada pelo menos nas fases iniciais, sobretudo, quando você compara com pessoas com doença de Alzheimer. A maior parte dos casos de Demência Frontotemporal, variante comportamental, a memória não é tão afetada no início e é por isso, por exemplo, que essas pessoas não têm dificuldades de localização espacial. A memória, principalmente essa para trajetos conhecidos, ela segue preservada”, esclarece.
A outra variante é a de linguagem. “A linguagem é a alteração clínica inicial, menos comportamento e também menos memória. De toda forma, são apresentações clínicas que evoluem de forma progressiva e, em fases mais avançadas, fica muito difícil você diferenciá-las. Em geral, a memória não é alterada precocemente ou no início do quadro”, destaca o médico.
Qualidade de vida
As duas variantes interferem de formas distintas na qualidade de vida do paciente. “Seja pela linguagem, que, aparentemente, foi a forma que acometeu o ator Bruce Willis no início e, obviamente, trazendo um impacto enorme para a vida e também para profissão dele, mas também a forma comportamental acaba interferindo muito sobre a qualidade de vida da pessoa afetada e da família”.
“É claro que algumas habilidades cognitivas e alguns aspectos da funcionalidade se mantêm, mas o impacto é bastante significativo sobre o dia a dia das pessoas e das famílias. Mas é claro que atividades, por exemplo, como passear com um cachorro em uma praia, pelo menos nos estágios iniciais, elas mantêm essa condição adequada”, acrescenta.
Diagnóstico
“Estudos brasileiros que investigaram a frequência em pessoas com 65 anos ou mais falam de uma frequência em torno de 2, 3% das causas de demência. Então, sem dúvida, é uma condição mais rara e que oferece um diagnóstico difícil. Um certo desafio do ponto de vista diagnóstico, especialmente, por não especialistas”, explica o médico.
No entanto, hoje é possível ter o diagnóstico correto da doença. “Com base no conhecimento que nós temos a respeito das manifestações clínicas e com auxílio de, não só da avaliação clínica, mas exames complementares, sobretudo, exames de imagem, a gente tem condições de fazer um diagnóstico bastante seguro sobre Demência Frontotemporal”, finaliza.