O rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, região Central de Minas Gerais, completa oito anos neste domingo (5). Várias famílias denunciam que, até hoje, não receberam os valores da indenização prometidos pela mineradora. Entre elas, está Maria do Carmo, que perdeu a mãe há 3 meses. Durante anos ela esperou por uma indenização que nunca veio.
“Meu nome é Maria do Carmo, eu sou atingida pela barragem de Fundão, nascida em Paracatu. Vivi a minha vida toda lá. A minha mãe foi para um lado e eu fui para outro. O que dói muito na gente é que ela perguntava para mim assim: quanto que eles vão me pagar, pelo menos meus danos morais? E a gente não tinha como responder para ela. Eles me mandaram abrir conta no banco, mas até hoje eu passei lá e não tem nada. E isso doía muito na gente. Ela faleceu há três meses atrás sem receber nem o dano moral dela.” A senhora Francisca Eli tinha 80 anos.
Maria do Carmo é um dos atingidos que aguardam na Justiça do Reino Unido o resultado de uma ação movida contra a mineradora Anglo Australiana BHP Billington, controladora da Samarco junto com a Vale. São mais de 700 mil vítimas que buscam R$ 230 bilhões em idealização.
A integrante da Comissão dos Atingidos da barragem de Fundão, Luzia Queiroz, diz que a luta por Justiça também representa aqueles que morreram antes de receberem qualquer reparação.
“Então, a gente tem a seu compromisso com eles e a gente. Até hoje a gente não foi reparado da devida forma.” No Brasil, até agosto de 2023, foram indenizadas mais de 431 mil pessoas e o valor total gasto com as ações de reparação pela Fundação Renova é de R$ 32,660 bilhões.
Para procurador geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, o que foi feito até agora é insuficiente e a melhora das condições de vida dessas pessoas passa pela chamada repactuação do acordo de Mariana.
“Nenhum assunto foi resolvido. Nenhum. O meio ambiente continua poluído, a pesca continua sem a mesma proporção da época. A saúde, estamos no caminho de incertezas e os atingidos perderam casa e os resultados são muito poucos porque a responsabilidade também foi terceirizada, passada para uma fundação chamada Renova e esses R$ 30 bilhões não são perceptíveis por ninguém. Estamos há quase três anos numa mesa de diálogo, novamente, tentando fazer um repactuação.”
Em meio aos atos que marcam, neste domingo (5), os oito anos do rompimento na barragem da Samarco, está previsto para amanhã, segunda-feira (6), o início dos depoimentos dos réus da Justiça brasileira. Pela primeira vez, desde o rompimento, os envolvidos serão interrogados sobre os crimes ambientais, inundação e desabamento.
O procurador da república, Carlos Bruno Ferreira da Silva, espera que o episódio seja um marco na luta dos atingidos por Justiça.
“O processo criminal ele, claro, tem como principal função reprimir aqueles que cometeram crimes. Mas, evidente, que ele traz também um sentimento de Justiça para as pessoas que sofreram com o crime esperando, sim, uma sentença condenatória nesse processo criminal. Que isso dê um sentimento de reparação.”
Os réus, porém, não vão responder pelos homicídios de 19 pessoas que morreram debaixo da lama já que a denúncia foi trancada pela Justiça.
Reportagem: Júlio Vieira;
Produção: Helen Araújo;
Sonorização: Tiago Castro.