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Empresário que mandou derrubar casa de idoso diz ter registro da área: veja detalhes do BO

Na última quarta-feira (11), maquinário e funcionários apareceram no local com a ordem de jogar os imóveis no chão sem qualquer explicação

Empresário mandou derrubar casa de idoso em MG por pensar que era dono do terreno

O idoso Valdevir Gomes, de 71 anos, que teve a casa demolida a mando de um empresário no distrito de Angueretá, em Curvelo, na região Central de Minas Gerais, está morando na casa de um filho. Ao todo, quatro imóveis foram derrubados na última quarta-feira (11) sem autorização judicial. A Itatiaia revela as versões apresentadas no Boletim de Ocorrência (BO).

Um detalhe que chama a atenção é que o idoso e o empresário informaram que têm registro da área no cartório da área. No entanto, somente Valdevir anexou os documentos no BO. Em outro trecho, o empresário disse que receberia os policiais na sede da empresa, mas não foi encontrado no local.

Segundo o registro, os policiais foram chamados na data dos fatos e constataram “a demolição de quatro residências, danos em móveis, eletrodomésticos, pertences pessoais, dano na rede elétrica e em postes e padrões de distribuição de energia elétrica, na rede de abastecimento de água, em caixas d'água e dano em plantações.”

Os policiais chegaram até o suspeito depois da família tirar fotos das máquinas usadas para a demolição que, segundo o BO, “estavam localizadas em uma fazenda situada ao lado do local dos fatos, e que a referida fazenda seria de propriedade da empresa ‘Altivo pedras’”.

Os parentes do idoso ainda relataram que, no maquinário utilizado, havia “vestígios e destroços dos imóveis demolidos, como pedaços de telhas, tijolos e vegetação.”

Diante disso, a polícia foi até o sítio em busca de respostas. “A guarnição deslocou-se até o endereço da citada empresa e fez contato com o gerente de transporte da empresa Altivo Pedras. Ao ser questionado a respeito dos fatos, alegou desconhecer e informou que o senhor Altivo não se encontrava mais no local”, descreve os militares no BO.

O funcionário, então, fez nova ligação para o empresário. “Em contato telefônico com os integrantes da guarnição policial, reafirmou que era o proprietário do terreno, informou que possuía a certidão de registro do imóvel e que, em razão disso, teria mandado seus funcionários deslocarem-se para o referido terreno com os maquinários da sua empresa para demolir os quatro imóveis localizados no terreno, pois, segundo ele, as vítimas teriam invadido o terreno de sua propriedade”, diz.

No registro policial, o empresário dono da empresa Altivo Pedras informou aos militares possuir o registro do terreno que, segundo ele, feito em cartório desde agosto de 2008. Ele, inclusive, forneceu o número da matrícula. Contudo, todas essas informações foram repassadas pelo telefone e, diante disso, segundo os policias, ficou acordado que os militares iriam até a sede da empresa, que fica na cidade de Papagaios, a 100 quilômetros de distância de Curvelo, para mais explicações.

No BO, o idoso também informou aos policiais ser dono da área e passou número de registro e de matrícula, com data de setembro de 2022. A documentação foi, inclusive, anexada ao registro policial.

A reportagem da Itatiaia tenta contato com o empresário desde a semana passada. No entanto, até o fechamento dessa reportagem, os e-mails enviados não foram respondidos. Além disso, uma funcionária da Altivo Pedras informou que não poderia passar ligações diretamente para ele. O espaço continua aberto caso queira se manifestar.

A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou, nesta quarta-feira (18) que, a investigação ficou a cargo da 1ª Delegacia da cidade que “encontra-se em andamento inquérito a fim de apurar as circunstâncias que permeiam o fato. Novas informações poderão ser divulgadas ao final das investigações.” Segundo advogado da família, Márcio Machado, o idoso e as demais pessoas que tiveram as casas demolidas prestaram depoimento na delegacia.

Na semana passada, a Prefeitura de Curvelo informou que tomou conhecimento da demolição e da situação vivenciada pelo idoso e disse que não há nenhuma ação pública ou de mandado judicial.Com isso, a administração municipal disse que desconhece o motivo e não tem nenhum envolvimento com a demolição. “A Prefeitura, por meio dos órgãos de assistência social, está apurando a situação da família para avaliar as medidas de suporte que se fazem necessárias”, finalizou.

Relembre o caso

O terreno onde estavam as casas fica na MG-420, próximo ao quilômetro 6, às margens do Rio Paraopeba. Na ocasião, Valdevir disse que quatro homens chegaram com dois maquinários e o mandaram sair do local. A região onde o senhor morava não tem sinal de celular, por isso, o homem presenciou, sozinho, sua casa e as dos familiares serem demolidas.

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Enzo Menezes é chefe de reportagem do portal da Itatiaia desde 2022. Mestrando em Comunicação Social na UFMG, fez pós-graduação na Escola do Legislativo da ALMG e jornalismo na Fumec. Foi produtor e coordenador de produção da Record e repórter do R7 e de O Tempo
Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.
Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.