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Flordelis é condenada a 50 anos de prisão pela morte do marido, o pastor Anderson do Carmo

A ex-deputada estava em julgamento desde a última segunda-feira (7)

Flordelis foi condenada pela morte

A ex-deputada Flordelis foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pela morte do pastor Anderson do Carmo. A decisão é da 3ª Vara Criminal de Niterói, no Rio de Janeiro. Ela estava em julgamento desde a última segunda-feira (7).

A pastora responderá por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado, uso de documento falso e associação criminosa armada.

Por outro lado, sua filha biológica, Simone dos Santos, foi condenada a 31 anos e 4 meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio duplamente qualificado e associação criminosa armada.

Julgamento

O julgamento, iniciado às 9h da segunda-feira, 7, acabou às 7h20 deste domingo, 13. Flordelis foi julgada pelo Tribunal do Júri, composto por sete jurados (três mulheres e quatro homens) sorteados entre cidadãos previamente alistados, sob o comando da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói.

Segundo o Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), responsável pela acusação, Flordelis e familiares próximos dela estavam descontentes com a conduta do pastor, que gerenciava a carreira da pastora e cantora e administrava o dinheiro. Por isso, decidiram matá-lo, primeiro tentando fazer por envenenando e, por fim, acabaram matando-o a tiros. A pastora sempre negou o crime.

Além de Flordelis, também foram julgados quatro familiares dela: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, e André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis. Só Simone foi condenada a 31 anos e 4 meses. Os demais foram absolvidos.

‘Só sentia prazer se me machucasse’

A ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza disse em interrogatório no sábado (12) que o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019, a agrediu por um período de seu relacionamento, mas, depois parou e se limitou a um comportamento agressivo na "área sexual”. Em linha com a estratégia da defesa, de atribuir a Anderson um comportamento abusivo com filhas e netas, Flordelis disse que desconfiava dos casos de assédio após o assassinato, mas não podia acreditar e só depois soube do que, segundo os advogados, ocorria.

“Ele (Anderson) me batia. Depois, ele parou com essa prática de me bater e se tornou uma coisa, assim, muito doída, sofrida. Ele voltou a ficar agressivo na área sexual. Meu marido só sentia prazer se me machucasse. Ele só chegava às vias de fato (orgasmo) se me machucasse”, disse Flordelis, chorando, durante o julgamento realizado no Fórum de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

A ex-deputada detalhou que Carmo a enforcava durante o ato sexual. Segundo ela, em uma das relações, chegou a desmaiar. A ré disse ainda estranhar o fato de o marido voltar rapidamente a um estado de carinho após a violência sexual. “Depois que ele fazia essas coisas, simplesmente me chamava para deitar no peito dele e voltava ser carinhoso, como se nada tivesse acontecido”, detalhou.

Flordelis disse que não entendia o comportamento sexual do marido. Ela os atribuía aos problemas de infância e à “falta de apego familiar” de Carmo.

Estratégia

Aos jurados, a abordagem da defesa sugere que o crime se restringiu a um grupo pequeno de filhos. Incluiria a suposta mandante, Simone dos Santos, o executor e réu confesso, Flávio dos Santos, e Lucas dos Santos, que ajudou na compra da pistola usada no assassinato. Segundo a defesa, o crime veio em reação aos abusos sexuais de Carmo.

O Ministério Público e o assistente de acusação questionam essa narrativa. Afirmam que houve envolvimento de Flordelis e um grupo maior de filhos, que inclui os interrogados neste sábado. Flordelis e os filhos foram orientados a não responder perguntas da acusação, somente indagações da defesa e dos jurados, vocalizadas pelo juízo.

Questionada pela advogada de defesa, Janira Rocha, por que não denunciou as agressões de Carmo nem pediu ajuda, Flordelis disse que se sujeitava ao comportamento violento dele porque aprendeu assim na igreja e com a mãe. Ela sempre teria sido uma esposa submissa e a aconselhava nesse sentido, para “conversar com calma depois”.

A ex-deputada endossou ao menos dois supostos episódios de abuso com uma filha, Kelly, e com a neta Rayane dos Santos, também interrogada neste sábado. Ao fim do depoimento, que durou uma hora, Flordelis disse ter ficado chocada quando constatou, após o crime, que suas roupas íntimas eram idênticas às da filha Simone dos Santos, que também teria sido abusada por Carmo. Simone é atendida por outro grupo de advogados e tem disposição de confessar o mando do crime.

Em seu depoimento, Rayane dos Santos, neta de Flordelis e sua assessora parlamentar na Câmara dos Deputados, disse que eram “hábitos de seu avô passar a mão, dar tapas na bunda e apertar o bico do peito”. Rayane disse que, em uma manhã de 2019, no apartamento funcional de Flordelis, em Brasília, ela acordou com Carmo deitado em cima de seu corpo, alisando-a.

Quando a mão do pastor chegava perto de sua vagina, detalhou, ela teria pedido que parasse. Ele, então, disse que ia trabalhar e deixou o cômodo. A jovem também disse não ter contado a ninguém por medo de perder a posição no gabinete de Flordelis — em suas palavras, uma oportunidade dada por Carmo.

Choro

Para Flordelis, os jurados perguntaram se o choro era verdadeiro — ao que ela respondeu que sim — e se ela via com normalidade o fato de filhos afetivos se relacionarem. A ex-parlamentar disse que não via com bons olhos, mas que não podia impedir relações entre seus filhos, o que a investigação da Polícia Civil apontou como fato corriqueiro.

Com informações de Estadão Conteúdo

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