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Trabalho infantil cresce na pandemia e se torna realidade para mais 317 mil adolescentes no Brasil; total ultrapassa 1,7 milhão

Crescimento é comprovado no país, mas especialista destaca que dados sobre o trabalho infantil no país ainda estão desatualizados

Números do trabalho infantil aumentaram durante a pandemia

Números do trabalho infantil aumentaram durante a pandemia

Valter Campanato | Agência Brasil

Os números do trabalho infantil cresceram durante a pandemia em Minas Gerais e no Brasil, é o que destaca a coordenadora estadual do fórum de erradicação e combate ao trabalho infantil, Elvira Cosendey. Dados da Fundação Abrinq mostram que o aumento foi de pelo menos 317 mil crianças e adolescentes em todo o país.

“Nos dois anos pandêmicos, as ações dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e nas escolas ficaram praticamente paralisadas”, justifica Elvira sobre o aumento de casos de trabalho infantil. “Nós tínhamos conseguido reduzir a questão do trabalho na venda ambulante, mas ela e a mendicância cresceram durante a pandemia”, aponta.

Em Minas Gerais, a especialista destaca que o trabalho infantil aparece em várias formas, apesar de se destacar na venda ambulante. “Na agropecuária, o trabalho doméstico, a exploração sexual comercial e a questão do tráfico aparecem em qualquer município, mas a venda ambulante está à vista”, explica.

Apesar do crescimento já comprovado, a especialista destaca que os dados estão desatualizados. “Não foi feita a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio contínua em 2020, nem 2021. Não temos esses dados oficiais do IBGE, mas há uma estimativa do aumento em relação ao 1,7 milhão de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil”, aponta Elvira.

No último levantamento considerando todas as faixas etárias, a Pnad Contínua 2019, divulgada pelo IBGE, mais de 1,7 milhões estavam em condição de trabalho infantil. A pesquisa ‘O Trabalho Infantil a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Trimestral’, divulgada na última semana, considera somente adolescentes entre 14 e 17 anos.

Nesta faixa de idade, o aumento registrado foi de 317 mil adolescentes. Apesar disso, o conceito de trabalho infantil também abrange a faixa etária de 5 a 13 anos, desconsiderada pela pesquisa por causa da falta do levantamento nacional feito pelo IBGE.

Mitos do trabalho infantil

A especialista ainda destaca a necessidade de conscientização sobre as consequências do trabalho infantil. “Muitos dizem que trabalharam na infância e não morreram, mas as crianças morrem, sim. No Brasil, de 2011 e 2021, 7,2 mil crianças morreram em acidentes de trabalho”, aponta Elvira.

Apesar dos números já serem preocupantes, a coordenadora destaca que são dados subnotificados. “Os dados vêm de diversos atendimentos, mas muitos acidentes de trabalho, com perdas de membros, picadas de animais peçonhentos acabam não sendo notificado”, afirma.

Outro grande impacto do trabalho infantil é no desempenho escolar das crianças e adolescentes. “O cansaço, o sono, a evasão escolar e outros fatores acabam fechando o ciclo da pobreza”, destaca.

Conscientização e educação

Para Elvira, a solução está na conscientização e educação sobre o tema. “Descobrimos no período pandêmico como a escola é um espaço de proteção, com o olhar vigilante dos professores e colegas”, destaca a coordenadora. “Vamos quebrar o ciclo da pobreza através da educação, principalmente em tempo integral para as crianças que necessitam”, defende.

Instituído pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) há 20 anos, o Dia Mundial contra o Trabalho Infantil, é 12 de junho. A data e a semana são focadas na discussão e problematização do tema.

Denúncias sobre casos de trabalho infantil podem ser feitas através do disque 100, de violações de direitos humanos. Os casos também podem ser registrados com a polícia e conselhos tutelares.

Maria Clara Lacerda é jornalista formada pela PUC Minas e apaixonada por contar histórias. Na Rádio de Minas desde 2021, é repórter de entretenimento, com foco em cultura pop e gastronomia.


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