A melhor comparação para uma vida de sucesso é a construção de uma casa. Sou fascinado com o processo. Começa pela escolha do lote, que deve levar em consideração aspectos geológicos e seus riscos como, por exemplo, estar numa parte mais alta da rua e, assim, evitar inundações quando a chuva vier. Antes da obra é preciso consultar um profissional experiente – seja ele engenheiro ou mestre de obras – para verificar posição dos quartos, de acordo com o nascer do sol para aumentar o conforto da família.
Finalmente, mãos à obra. Ai, se o terreno exigir, tubulões, sapatas e outras providências que vão estruturar a edificação. Se não for o caso, pelo menos uma amarração do alicerce, com as pilastras e, lá em cima, se houver dinheiro, outra, antes de receber laje ou telhado. Mas, reparem, a base de tudo é o alicerce. Se estiver firme, a morada é segura. Depois tem a parte de alvenaria, que exige maestria na colocação dos tijolos, e o acabamento, que será mais ou menos chique, dependendo das possibilidades do dono. Quem correu muito em busca da casa própria sabe que, mesmo de chão batido e sem reboco nas paredes, é o melhor lugar do mundo. Principalmente se a for seguro.
Assim é a vida humana. Se a pessoa tem um lar afetuoso, infância assistida, respeito no ambiente familiar, frequenta a escola e a rua para se sociabilizar, saber seus limites, os direitos dos outros, será adulto de valor. Se tem um talento e o desenvolve, sob assistência de amigos de verdade e profissionais sérios, pode ficar rico, famoso, ganhar o mundo.
Caso de um jogador de futebol, caso de Daniel Alves. Era um cortador de cana, virou lateral da seleção, reconhecimento mundial, evitava confusões, sempre mais discreto nas declarações, curtia a vida, parecia exemplar. Quando se separou da esposa, ela passou a administrar os bens dele, sinal de uma dissolução amigável, respeitosa.
Tudo parecia bem até que, aos 39 anos, depois de deixar o trabalho no México e ir ao velório da sogra, resolveu se esbaldar na noite de Barcelona, cidade famosa por suas baladas. Daniel podia quase tudo. Mas, sem o alicerce essencial à segurança no acabamento, achou que podia tudo, inclusive ignorar o “não é não”, fazer sexo com uma moça ainda que ela resistisse. Convicto de o prestígio e o dinheiro resolveriam tudo, se apresentou à polícia. Dali para o xadrez, onde está até hoje e sem perspectivas de tomar sol novamente.
A vida é como um sopro. Que derruba castelos de areia. Num sopro.