Quando visitam novos destinos, turistas costumam recorrer ao city tour como maneira de conhecer lugares, saber mais sobre a história e vivenciar a cultura local. Mas e na sua própria cidade? Já pensou em fazer um city tour? O que esse passeio pode ter de novo para quem já habita há anos ou mesmo décadas aquele endereço?
Em BH, o interesse local por esse tipo de experiência tem crescido, e as opções também. Os roteiros são diversos e convidam o belo-horizontino a visitar lugares assombrados, a olhar para cima e conhecer a história dos arranha-céus, a se transportar para os livros. Abaixo, a Itatiaia separou quatro passeios legais (veja abaixo) até para quem acha que já conhece muito da cidade — e pode se supreender.
Um dos mais antigos projetos que levam a ver a cidade com outros olhos é da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). Lançado em 2016, hoje, os passeios gratuitos ocorrem mensalmente, e as vagas estão cada vez mais concorridas. “O turismo começa pelo conhecimento do município pelos próprios moradores para, assim, os cidadãos se tornarem mais participativos da promoção da cidade”, disse a presidente da Belotur, Bárbara Menucci.
Para Rafael Sette Câmara, escritor e produtor cultural, 39 anos, que criou BH a pé - caminhadas temáticas em Belo Horizonte, o aumento da procura é atribuído a vários fatores. “Acho que tem o pós-pandemia, as pessoas querendo aproveitar mais a cidade, fazer mais coisas a pé. ”
Sette Câmara afirma que BH vive um paradoxo. “O Centro de BH está, em vários sentidos, meio abandonado — muito lixo, a questão dos moradores de rua, muitos espaços vazios e ociosos. Ao mesmo tempo, há uma recuperação, com economia criativa e pessoas voltando a ocupar esses espaços.”
Para ele, esse movimento está ligado a uma valorização crescente do patrimônio da cidade. “Acho que o que explica o aumento de demanda é justamente essa valorização maior do Centro, da história de BH, da procura pelas nossas raízes e da ideia de fazer experiências a pé.”
O projeto do escritor e da esposa Luísa Dalcin oferece uma variedade de roteiros literários, gastronômicos e históricos: entre eles, o “BH Maluquinha”, que visita locais do filme baseado na obra de Ziraldo; visitas aos Mercados de BH; e um passeios pelos fantasmas mais célebres da cidade.
O arquiteto Ulisses Morato, responsável pelo Passeio Arquitetônico, atribui esse movimento a iniciativas anteriores que promoveram ampla interação dos moradores de BH com a cidade, como a Virada Cultural, o CURA – Circuito Urbano de Arte, a Festa da Luz, os Duelos de MCS no viaduto Santa Tereza, o Comida de Buteco, a Noite dos Museus, o Festival Internacional de Teatro (FIT), o Carnaval de rua, entre outras, que “tiveram repercussões imensas e muito positivas junto ao público”, contou.
Confira abaixo opções de city tours na capital mineira
City tour de graça da prefeitura de Belo Horizonte
Passeios turísticos gratuitos mobilizam turistas e moradores de BH
O que é: Desde 2016, a Belotur promove passeios que convidam os moradores a redescobrirem a capital mineira sob novos olhares. A proposta é estimular a valorização da identidade cultural da cidade, de suas tradições populares e do patrimônio histórico.
“Essa iniciativa foi especialmente pensada para que os moradores de Belo Horizonte se reconectem com a cidade sob novas perspectivas. É um objetivo que se concretiza à medida que os belo-horizontinos descobrem histórias, curiosidades e vivem experiências únicas nos diferentes espaços da cidade”, afirma a organização.
Voltada para todas as idades, a ação tem um público que varia conforme o roteiro de cada edição. “A escolha dos locais considera a história da cidade e seus atrativos, com temas variados a cada temporada. Entre os destaques estão as igrejas históricas, o conjunto moderno da Pampulha, os museus da capital e o Cemitério do Bonfim”, acrescenta.
Com duração média de quatro horas, os city tours são realizados a pé ou em micro-ônibus, sempre acompanhados por guias credenciados pelo Ministério do Turismo. Desde o início do projeto, cerca de 1.450 pessoas já participaram da experiência. Confira abaixo a programação
- 7 e junho - Walking Tour - Arquitetura Histórica do Centro de BH
- 5 de julho - City Tour com micro ônibus pela Pampulha
- 23 de agosto - Walking Tour - Museu Mineiro / Ponto Cultural CDL / Museu de Arte Popular
- 13 de setembro - Walking Tour -Escritores de Belo Horizonte - Roteiro Literário
- 18 de outubro - Walking Tour - Histórico Arquitetônico Praça da Liberdade
- 9 de novembro - City Tour com micro ônibus - raça da Liberdade | Muquifu | Museu Abílio Barreto
- 6 de dezembro - City Tour com micro ônibus - Mirantes da cidade
Custo: Gratuito.
Mais informações:
Projeto visitas ao cemitério do Bonfim
Visita Guiada ao Cemitério do Bonfim
O que é: A visita a figuras como Padre Eustáquio, Olegário Maciel, Silviano Brandão, Benedito Valadares e Roberto Drummond compõe um dos roteiros mais curiosos dos passeios culturais da cidade: a caminhada guiada ao Cemitério do Bonfim, a necrópole mais antiga da cidade, que fica região Noroeste da capital. O local abriga túmulos de personalidades importantes da história mineira e convida os participantes a uma reflexão sensível sobre memória.
A proposta foi idealizada pela professora Marcelina das Graças de Almeida, da Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). “O projeto nasceu como resultado de uma parceria entre a UEMG, onde sou professora desde 2009, e a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica. Surgiu da necessidade de ministrar minhas aulas naquele espaço, já que sou pesquisadora de temas relacionados à morte. Depois, decidimos abrir essas aulas ao público em geral”, explica.
Para Marcelina, o cemitério tem uma conexão direta com a história e o crescimento de Belo Horizonte. “Queremos mostrar que é possível, mesmo em um espaço marcado pela dor, ter uma experiência de acolhimento, de percepção da vida, de conhecer um pouco da história das pessoas que ali estão”, afirma. Confira abaixo a programação
- 25 de Maio - As pessoas profissionais da saúde: memória e história
- 29 de Junho - Esporte e esportistas no espaço cemiterial
- 27 de Julho - Escritoras e escritores: o Bonfim e a literatura
- 31 de Agosto - Arte e artistas no espaço cemiterial
- 28 de Setembro - Signos e símbolos no espaço cemiterial
- 26 de Outubro - A trajetória das pessoas imigrantes no cemitério do Bonfim
- 30 de Novembro - Paisagem cultural: uma visão do Bonfim
Custo: gratuito (quando ocorre em parceria dom a PBH, conforme programação acima)
Mais informações: @visitas_bomfim
BHP - experiências a pé culturais, literárias e gastronômicas
O projeto “BH a Pé" oferece uma variedade de roteiros guiados a pé
O que é: Idealizado pelo jornalista e escritor Rafael Sette Câmara e sua esposa, Luísa Dalcino, jornalista gastronômica, o projeto convida os belo-horizontinos a se surpreenderem com histórias da própria cidade onde vivem. A iniciativa foi criada em 2020, durante a pandemia, quando os passeios ao ar livre tornaram-se uma alternativa segura de lazer.
“O projeto surge em um contexto em que já era possível caminhar pelas ruas, mas os restaurantes ainda estavam fechados”, lembra Rafa. O primeiro roteiro, chamado Páginas Viradas, propôs uma caminhada literária, com leitura de trechos de livros ao longo do trajeto. “A ideia era refletir sobre como a literatura moldou Belo Horizonte — desde a cidade dos cronistas que vem aqui na transferência da cidade, como Olavo Bilac, João do Rio e Artur Azevedo, até os modernistas, como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Fernando Sabino e Henriqueta Lisboa.”
Mesmo após o fim das restrições da pandemia, o projeto continuou e se expandiu. Atualmente, o BH a Pé conta com sete roteiros temáticos, como a história do futebol mineiro, lendas urbanas e fantasmas de BH, além de passeios baseados em obras como Hilda Furacão. Os roteiros duram entre duas e cinco horas. Confira abaixo a programação
- 13 de junho - Especial Sexta-feira 13! Uma experiência a pé pelas assombrações de BH
- 15 de junho - Minas é Muitas: experiência gastronômica nos Mercados de BH
- 29 de junho - Páginas Viradas: a BH de Drummond, Sabino e outros escritores e escritoras
- 5 de julho - Caminhada literária Hilda Furacão: a BH do livro e da série da Globo
Além disso, o projeto conta com encontros como o Caos e Café — bate-papos com convidados em cafés da cidade — e as Oficinas de Escrita, que abordam temas como crônica urbana e o luto, sempre com inspiração a temática belo-horizontina. “Em fevereiro, fomos ao Copa Cozinha e tivemos como convidado o jornalista Ivan Drummond, que é jornalista e localizou a Hila Furacão na Argentina”, contou.
Custo: R$ 80 a R$ 209. Há desconto para reserva antecipada (até 20% para as primeiras vagas) pelo Sympla ou diretamente pelo Instagram ou WhatsApp do projeto.
Mais informações: @caminhadasbh
Passeio Arquitetônico
Passeio Arquitetônico, no Centro de Belo Horizonte
O que é: Criado no final de 2022, o Passeio Arquitetônico surgiu como um desdobramento da plataforma Arquitetos de Belo Horizonte, idealizada em 2021 pelo arquiteto Ulisses Morato, especialista em construção civil pela UFMG, que retornava ao Brasil após concluir doutorado em Portugal.
A iniciativa nasceu do desejo de aproximar o público da história da arquitetura da capital mineira. “A plataforma foi criada para suprir uma lacuna na comunicação com o público mais amplo sobre a nossa arquitetura e os principais arquitetos que atuaram na cidade. Depois, lancei a programação dos passeios como uma forma de falar sobre essa temática diretamente nos locais que considero mais didáticos e representativos”, explicou.
Durante as caminhadas, o público é convidado a observar a evolução urbana da cidade, os diferentes estilos arquitetônicos, além de informações sobre edifícios históricos e seus criadores. O passeio oferece uma verdadeira aula ao ar livre, voltada não apenas para profissionais ou estudantes da área.
Os roteiros têm cerca de mil metros de extensão e duram aproximadamente duas horas, com foco na apreciação externa de cerca de 20 imóveis emblemáticos da cidade.
“Através das edificações selecionadas, eu apresento as notas biográficas dos arquitetos autores dos seus projetos e também falo sobre os estilos arquitetônicos que se manifestaram ao longo da história da capital, que são o Ecletismo, o Art Déco, o Protomodernismo, o Modernismo, o Pós-modernismo e o Contemporâneo. Mas falo também sobre o antigo arraial do Curral del Rei, o povoado sobre o qual a cidade foi construída, resgatando um pouco do nosso passado colonial”, contou. Confira os roteiros.
- Praça da Liberdade
- Afonso Pena
- Praça Boa Viagem – Av. João Pinheiro – Rua da Bahia
- Praça da Estação – Rua dos Caetés – e Rua S. Paulo
- Instituto de Educação – Colégio Pedro II - Colégio Arnaldo
- Bairro Floresta
- Bairro Funcionários
- Bairros Lourdes e Sto. Agostinho
- Bairro Savassi
Custo: R$ 70
Mais informações: @arquitetos.de.bh ou no site Cultura Arquitetônica através da