É possível vender comida de qualidade e manter o preço por cinco anos? Sheila Rodrigues de Morais, de 41 anos, dona de uma barraca improvisada na entrada da Vila Bispo de Maura, no limite entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves, mostra que sim. Ela vende churrasquinho de pernil, filé de frango e de sambiquira (parte traseira do frango) a R$ 2 desde 2019 e garante não ter planos para reajustar o valor.
Mas qual é o segredo? Sheila diz que o valor e quantidade de espetinhos de sambiquira vendida por mês, cerca de meia tonelada, ajudam a segurar o preço.
“Tem 5 anos que vendo meus espetinhos a R$ 2. E o que me ajuda a manter esse preço é a sambiquira, que é uma carne que quase ninguém compra. Então, ela não tem aumento. Por isso, as pessoas não entendem por que ainda consigo manter a R$ 2. Hoje, o quilo está R$ 6,50. Vendo muita sambiquira, e menos porco e frango. Então, ganho no giro. E hoje, graças a Deus, não pago aluguel e não pago funcionário, o que ajuda muito”, disse a empreendedora, ressaltando que o preço do latão de uma marca famosa de cerveja também é o mesmo há cinco anos (R$ 5).
Sheila também leva em consideração, para manter o preço, o público e o lado social. “Seguro o preço a R$ 2 e não pretendo aumentar. Estou na entrada da vila e meus clientes são mais pessoas de baixa renda, que não têm acesso ao dinheiro. Pessoa que sai para trabalhar pela manhã, volta à noite e pega o espetinho para colocar na marmita e matar a fome mesmo. A gente vê que as pessoas não ficam mais muito tempo na barraca. Você percebe que o dinheiro diminuiu muito no bolso deles. Eles estão levando a sambiquira para colocar na marmita e para jantar”, reforça Sheila, conhecida como rainha da sambiquira e que foi personagem da primeira edição da série especial da Itatiaia
Sheila vende meia tonelada de sambiquira por mês
Sheila diz que, ao contrário da sambiquira, os preços do pernil e do filé de frango subiram muito nos últimos anos. E ela tem razão. Levantamento feito pelo
“O pernil e o filé de frango aumentaram muito. Então, estou focando muito na sambiquira. Tem dia, quando chega 22h, vou vendendo mais sambiquira, para poder ajudar a segurar o preço. A minha clientela mesmo, de segunda a sexta, é da Vila. O poder aquisitivo dele é muito pouco. Não adianta eu querer vender meu espetinho a R$ 5, apesar de valer, e não vender. Tenho três filhos para criar, minhas contas para pagar. Meus três filhos não têm pais. Então, tenho que continuar com o preço de R$ 2 até para me manter”, disse.
Surpresa
O economista Feliciano Abreu, diretor do Mercado Mineiro, avalia que a estratégia de Sheila faz sentido, mas mostra-se surpreso por ela manter o preço por tantos anos.
“A gente fica até surpreso e admirado de ela, como empreendedora, está mantendo o negócio, porque realmente é difícil. Mas a gente entende também que se ela aumentar o preço, muitas vezes, vai perder a maioria dos seus clientes, que, normalmente, não conseguem acompanhar a inflação que já existe há muito tempo e acelerou depois da pandemia”, destacou.