Um policial militar é acusado de invadir um ritual de ayahuasca armado e ameaçar a proprietária do local e outras pessoas presentes. O caso aconteceu na noite deste sábado (28) em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte.
A Itatiaia teve acesso ao boletim de ocorrência, que relata que a noiva do policial estava na celebração, ingeriu a substância e ficou inquieta, dizendo que queria ir embora e, mesmo orientada a desligar o celular, ligou para familiares pedindo para que a buscassem no local. Diante da situação, a mãe da mulher foi até o local e a levou embora, sendo orientada pelos responsáveis e dar carvão ativado para que ela melhorasse.
Os encontros aconteciam uma vez por mês e os participantes devem assinar um formulário de comprometimento para seguir as orientações dos organizadores. A mulher em questão teria apresentado o documento devidamente assinado para seguir as orientações dos responsáveis pelo ritual.
Cerca de uma hora depois, o militar foi ao local e ficou agressivo com a situação, alegando que sua companheira foi drogada sem autorização. A proprietária tentou conversar com ele, alegando que pegaria o formulário quando, de acordo com o boletim, ele teria invadido o local com arma em punho, falando que chamaria a polícia e, antes da chegada dos agentes ela ‘estaria toda quebrada na porrada’.
O boletim ressalta que a proprietária do local se apresentou como militar das Forças Aéreas Brasileiras (FAB). Ainda de acordo com o documento, a companheira do militar foi encaminhada para a Santa Casa de Sabará.
Nota da PM
“O comando do Sexagésimo Primeiro Batalhão, diante da demanda apresentada, esclarece que a Polícia Militar compareceu ao local da ocorrência, tomou conhecimento dos fatos, relatou em REDS todas as versões apresentadas e as partes foram conduzidas à delegacia. O evento em epígrafe será apurado para adoção de providências cabíveis. A Polícia Militar está à disposição da comunidade sabarense para tratar de assuntos de interesse da segurança pública.”
Versão da proprietária do local
Em conversa com a reportagem da Itatiaia, a mulher, que não terá a identidade revelada, contou que não estava participando do ritual mas que passou a acompanhar e orientar a noiva do militar após ver o estado em que se encontrava.
Pouco tempo depois dela ir embora, o policial teria chegado no local alterado e, inclusive, ‘com cheiro de bebida’. Ele se aproveitou do momento em que ela entrou na casa para pegar o formulário assinado pela mulher para invadir e apontar a arma contra ela.
Em dado momento, ela conseguiu ir à cozinha e ligou para a polícia. Ao voltar para a sala viu o homem com diversos papéis e documentos em mãos. A mulher então foi informada que ele invadiu o quarto, pegou os documentos e teria destruído coisas pessoais dela.
Segundo a denunciante, o homem falava ameaçou os presentes de morte e alegou que acabaria com a vida deles. Além disso, ele teria agredido e quebrado o celular de uma participante que presenciou os fatos.
No momento em que as viaturas chegaram ela teria notado que os outros militares estavam ‘calmamente’ conversando com um comparsa e demoraram a entrar no imóvel para retirar as pessoas que, segundo a proprietária, foram impedidas de sair até a chegada da polícia.
Na delegacia, ela representou pelos crimes de invasão domiciliar, ameaça a mão armada, dano a patrimônio e lesão corporal. Porém, de acordo com ela, o boletim consta apenas ameaça. Por fim, ela relatou que outras pessoas que queriam representar contra o acusado, não conseguiram.
O que diz o boletim de ocorrência
O boletim relata que a noiva do militar ficou sabendo dos rituais por meio de uma amiga e que se interessou em participar. Ela foi ao local mas contou que ‘por inocência’ não sabia o que poderia acontecer ao ingerir o ayahuasca. Ela ainda conta que chegou a perder os sentidos e foi levada para outro local, onde teria recebido outra substância que não sabia o que era. Desesperada, ligou para a mãe.
A mãe contou que sua filha estava aflita e chorosa, com falas desconexas e pedindo desculpas por ter usado o carro para ‘sair sem rumo’, pedindo que a retirasse do local. Diante da situação, ela foi até o local e buscou a filha. Em seguida, entrou em contato com o genro, que também se deslocou.
Segundo o boletim, o militar tentou conversar com a proprietária, que não teria informado sobre o que sua companheira tomou e qual dosagem. Após entrar no local, ele teria sido recebido com risadas e xingamentos e as presentes proferiram dizeres como ‘você vai morrer’, ‘você vai suicidar’, ‘eu invoco obsessores para ficarem em sua alma e espírito’.